José Manuel Antunes: Para o réveillon a operação da Madeira é mais importante do que a do Brasil

A cerca de um mês do final das operações de verão, é a programação de inverno e do réveillon o foco da entrevista a José Manuel Antunes, diretor-geral do operador turístico Sonhando. Para o final do ano, Madeira e Brasil são a base da oferta mas para o inverno 2022-2023 a Sonhando está a preparar uma programação mais vasta do que lhe é habitual e com novidades em termos de destinos.
Este ano vamos ter um inverno com mais produto no mercado pela parte da Sonhando?
É verdade. A Sonhando tem de diversificar o produto e aumentar a sua oferta, até porque fizemos uma certa “revolução” no quadro de pessoal, com a entrada do Fernando Bandrés para diretor comercial, ou seja, para número dois da empresa. Foi um reforço importante e temos que utilizar esta mais-valia que o “plantel” passou a ter.
Além disso, também reforçámos o Porto, que a empresa tinha fechado há anos, dois meses antes de eu entrar. Sempre defendi a ideia de que o mercado do Porto é tão ou mais importante do que o de Lisboa pelo que nunca me senti confortável com a ideia de não termos representação no Porto. Finalmente, e em plena pandemia, conseguimos abrir no Porto, com dois funcionários, a Paula Magalhães e o Paulo Leite e estamos muito contentes, quer com a prestação deles quer com aquilo que representou essa nossa presença mais constante junto das agências de viagens do norte.
Hoje o mercado já tem uma grande ligação à Sonhando, há muitas agências que confiam na Sonhando como seu primeiro fornecedor e temos que ter mais produto apesar de a nossa ideia não ser a de sermos um operador generalista. Não podemos esquecer-nos das nossas raízes, somos um operador cuja propriedade é totalmente de uma companhia de aviação que tem o ACMI e o charter como objetivo principal e por isso não temos a ideia de sermos um operador generalista mas temos a necessidade de corresponder aos desejos dos nossos principais clientes, dando-lhes um produto diversificado, principalmente aos que não têm capacidade de produção que são a esmagadora maioria dos nossos clientes, as agências médias e pequenas.
A programação de inverno vai estar assente em voos regulares. Por exemplo, para São Tomé vão ter programação com a vossa companhia e com a TAP?
Sobretudo com a STP Airways mas também com a TAP. O mesmo se aplica à Guiné-Bissau e Bijagós, em que somos o único operador que programa esse destino em Portugal e vamos tendo algumas vendas, que são pronuncio de que um dia este poderá ser um grande destino. No fundo, trata-se da contribuição que damos ao nosso próprio grupo, que tem voos regulares tanto para São Tomé como para a Guiné-Bissau já há alguns anos e que os vai manter.
Acordos com a TAP são para continuar no inverno e verão 2023
Vão dar continuidade, e até ampliar, os acordos que têm tido com a TAP?
Sim, porque tem corrido muito bem. Temos tido uma extraordinária relação comercial com a TAP em muitos destinos, nomeadamente para as Caraíbas. Temos pena que a TAP tenha decidido descontinuar o voo de Punta Cana que estava a ser um destino muito interessante para nós em termos de vendas mas iremos continuar com Cancun e a Riviera Maya, que têm tido grande sucesso na nossa programação, bem como algumas ilhas espanholas que iremos reforçar fazendo uma programação atraente, vendável, que tenha procura e para a qual tenhamos capacidade de resposta.
Toda a gente sabe que o Fernando Bandrés é de nacionalidade espanhola e que trabalhou durante muitos anos num operador espanhol como diretor-geral para Portugal, aproveitando esse conhecimento do destino, vamos ampliar de forma consistente a nossa programação para as ilhas espanholas, quer para as Canárias quer para as Baleares. Estamos a trabalhar nessa programação, tanto para o inverno como para o próximo verão.
Também começaram a programar o Brasil com a TAP. Como é que está a procura pelo Brasil que parece não estar hoje tão em voga, à exceção do réveillon?
É verdade, o Brasil não está tão em voga a não ser para o réveillon – aí sim, é um destino muito procurado. Nós, por respeito e pela parceria muito forte que temos com o Grupo Vila Galé, nesta primeira fase programámos o Brasil exclusivamente com base nos hotéis Vila Galé. Sabemos que isso é um pouco redutor mas também sabemos que as parcerias devem ser respeitadas e ampliadas e foi essa a nossa intenção. Para o réveillon é a Vila Galé que nos vale e por isso entendi que no primeiro ano da nossa operação para o Brasil devíamos programar apenas o grupo, para demonstrar publicamente a nossa gratidão e afirmarmos que a nossa parceria existe de forma consolidada e forte.
E as ilhas portuguesas, tanto a Madeira como os Açores?
A Madeira corre-nos bem, somos um dos grandes promotores da Madeira no Continente, participamos no verão, juntamente com a Solférias, em 36 charters para o Porto Santo, em quatro charters para o Funchal no fim do ano e outro para o Porto Santo, o que significa uns largos milhares de passageiros só em charter e estamos a falar de um risco de milhões de euros de investimento. Temos tido apoio da Associação de Promoção da Madeira, fazemos uma grande campanha de um mês com 80 táxis a circularem em Portugal – 50 em Lisboa e 30 no Porto – para promover o Porto Santo, pelo que a Madeira é o nosso grande parceiro enquanto destino. A operação corre muito bem, o mercado confia em nós, compra-nos as viagens, vendemos um pouco mais no norte do que o sul embora não me queixe do que se vende no sul.
Já nos Açores temos um bom programa, bem estruturado, similar aos da nossa concorrência, com preços competitivos mas a verdade é que temos vendido pouco, ao contrário das nossas expectativas e não consigo explicar o porquê. Ainda não consegui entender em que é que falhamos mas o mercado tem sempre razão e compete-nos descobrir o que se passa.
“O voo de Salvador é só à partida do Porto e o de Maceió sai de Lisboa mas vai ao Porto, embora haja a possibilidade, se as vendas o ditarem, de fazermos dois voos para Maceió, um de Lisboa e outro do Porto”
Passemos à oferta de fim de ano. Têm uma grande operação para o Brasil, em parceria com a Solférias e a Exótico…
E também com a Alto Astral que é a responsável pela venda no Brasil e que é uma peça fundamental para o global da operação.
Estão no mercado dois voos à partida do Porto, um dos quais nasce em Lisboa. O voo de Salvador é só à partida do Porto e o de Maceió sai de Lisboa mas vai ao Porto, embora haja a possibilidade, se as vendas o ditarem, de fazermos dois voos para Maceió, um de Lisboa e outro do Porto, mas por enquanto isso é apenas uma hipótese em equação.
Como é que estão a correr as vendas?
Quando lançámos o produto já havia muitas reservas em carteira, depois dessa primeira vaga houve uma certa acalmia mas é quase certo que, como nos anos anteriores, vamos encher os aviões. Os nossos parceiros são mais fortes do que nós neste produto, a Exótico porque o seu destino emblemático é o Brasil e a Solférias porque é um operador muito forte. Estamos muito bem acompanhados em termos de parceria e tenho a certeza que vamos esgotar.
No entanto, para o réveillon, o Brasil não é o nosso principal destino, nós temos muito mais lugares para a Madeira e, tanto em lugares como em volume de vendas, a Madeira é muito mais importante.
Para a Madeira, vão ser quatro charters?
Dois de Lisboa e dois do Porto que já estão garantidos, em programas de quatro noites, com partidas a 28 e 29 de dezembro e regressos, respetivamente, a 1 e 2 de janeiro. Ainda não contratámos o quinto avião que seria para o Porto Santo, mas é possível que se faça também esta operação.
O que é que têm mais para o final de ano?
Temos os allotments com a TAP, nomeadamente para Cancun, o que acontece também para o Natal.
Para setembro temos ainda lugares para Porto Santo e para a Tunísia
Para o período de verão, ainda têm produto?
Temos. No caso do Porto Santo ainda temos boa disponibilidade para o mês de setembro, quer de Lisboa quer do Porto. Para a Tunísia já está praticamente tudo esgotado. Fizemos uma excelente operação para a Tunísia, com quatro voos charter, três para Djerba e um para Monastir, a que somámos ainda alguns lugares com a TAP de Lisboa para Mosnastir. Foi uma operação em pleno, haverá um ou outro lugar para setembro mas de resto está tudo esgotado.
A que é que se deveu a grande procura que houve este ano para a Tunísia?
À proximidade, ao preço e à qualidade – é uma tríade óbvia que é importantíssima. Em preço, no que se refere aos destinos de média distância, a Tunísia é provavelmente o mais barato, em Tudo Incluído. A qualidade é muito similar à de outros destinos e arrisco mesmo a dizer que tem melhor qualidade do que alguns destinos do Caribe em termos dos Tudo Incluído. Depois há um fenómeno muito importante no turismo em Portugal, que é o de termos, sobretudo, um turismo de famílias e de praia e para quem tem crianças entre os quatro e os 12 anos, fazer uma viagem de duas horas e meia é completamente diferente de fazer uma viagem de oito horas e quando os preços são 30 a 40% mais baratos, os destinos tornam-se mais atrativos e nós temos pacotes para a Tunísia, em Tudo Incluído, a 600€. Claro que temos pacotes muito mais caros mas os de 600€, com alojamento de quatro estrelas, também têm qualidade, de contrário não os programávamos.
O grande segredo, sobretudo de Djerba, que é similar a um destino das Caraíbas mas no Mediterrâneo, é que se trata de um destino exótico onde se pode tirar um dia à praia e ir ao deserto do Sahara que é uma coisa mágica e diferente. Depois, os tunisinos são um povo muito especial, de todos os povos árabes magrebinos, são aquele que se aproxima mais de nós – são os mais europeus, na postura, na forma de vestir, na qualidade dos restaurantes, na gastronomia… os portugueses sentem-se em casa.
Amanhã no Turisver.pt pode ler a segunda parte da entrevista com José Manuel Antunes, diretor-geral da Sonhando, onde poderá ler entre outros temas:
- 2023 marca “salto” de crescimento da Sonhando
- Novos produtos em preparação para o verão
- Aposta continuada em Timor
- Relacionamento com o mercado
- As operações charter e o aeroporto de Lisboa