José Manuel Antunes: “No primeiro trimestre deste ano aumentámos as vendas em três milhões de euros”

As vendas no primeiro trimestre deste ano foram o ponto de partida para a entrevista a José Manuel Antunes, diretor-geral do operador turístico Sonhando. Nesta primeira parte da nossa conversa fizemos uma “ronda” pelos destinos que a Sonhando vai operar em charter este verão, incluindo a grande novidade que é Zanzibar, sem deixar de fora outros destinos operados em voo regular.
Com os anos que leva já à frente de operadores turísticos, recorda-se de um primeiro trimestre do ano tão bom como este?
Em termos de vendas projetadas, este é o melhor primeiro trimestre de sempre desde que estou na Sonhando. Indo mais atrás, aos tempos do Clube Vip, claro que sim devido à quantidade e diversidade de produto que colocávamos no mercado, mas nessa altura nós tínhamos no verão 56 charters por semana.
Na Sonhando, este foi de longe o nosso melhor primeiro trimestre de sempre, as vendas na BTL também ajudaram muito porque atingiram um nível fora do comum, ficaram muito acima das nossas expectativas. São números extraordinários, conseguimos ter um aumento de 86% nas vendas até 31 de março, nas vendas projetadas para o futuro, sendo que se não considerarmos os mais de 780 mil euros que tínhamos vendido com Timor o ano passado e que este ano não vendemos, as vendas atingem um aumento de quase 200% o que é algo extraordinário.
Essas vendas repartiram-se por toda a programação que tinham colocado até essa altura no mercado ou houve alguns destinos que se destacaram mais?
Têm-se repartido mas este é um ano de “quentes e frios”, isto é, temos destinos que estão a correr muito bem, como é o caso da Tunísia onde temos mais um milhão e meio de euros de vendas face ao ano anterior. É também o caso do Porto Santo, onde temos um milhão de euros a mais do que em 2022 que já tinha sido o melhor ano de sempre da Sonhando em vendas.
Mas temos também algumas derrotas que temos que reconhecer: Timor que nos salvou e que foi decisivo para os resultados positivos que a Sonhando conseguiu obter nos anos de 2020 e 2021 e que também nos ajudou bastante em 2022,foi um destino que acabou. As autoridades timorenses viram sempre o nosso voo com maus olhos, complicaram sempre a operação apesar de algumas boas relações de amizade com autoridades locais e do apoio até do Presidente da República e do primeiro-ministro. As autoridades timorenses nunca nos apoiaram e foram sempre empurrando-nos contra a parede ao ponto de nos fazerem acabar com o voo.
Não costumo envolver os negócios com a política mas neste caso ambos estão envolvidos. Timor está isolado e nós fizemos tudo para ajudarmos o povo timorense durante a pandemia, transportámos toneladas e toneladas de medicamentos, de vacinas, de testes, transportámos os professores para as escolas, para os dois projetos sérios que há de ensino em Timor, ajudámos o mais que podíamos a levar livres, material de laboratório e científico… foram 14 voos ao longo de três anos tendo num deles, inclusivamente, transportado o nosso Presidente da República para a tomada de posse do atual Presidente da República de Timor e às comemorações do 20º aniversário da independência de Timor-Leste. Fizemos tudo sem uma única ajuda, pelo contrário, portanto, é quase um divórcio amigável…
Posso dizer com um grande orgulho que, sem Timor, no primeiro trimestre deste ano aumentámos as vendas em três milhões de euros.
Vendas da operação da Páscoa foram “fantásticas”
Este bom primeiro trimestre também teve reflexo nas vendas da Páscoa?
Refletiu e foram vendas fantásticas. Tínhamos três charters, dois para Djerba e um para Maceió e tivemos 100% de ocupação nos lugares que cabiam à Sonhando nesses voos, o que nunca nos tinha acontecido. Além disso vendemos muitas viagens em voos regulares com a TAP.
Já desde o ano passado têm essa estratégia de programar com a TAP vários destinos para onde a companhia voa e em que tenham interesse?
Temos programação com TAP para o Brasil, Canárias, México, tivemos Punta Cana que foi um sucesso e em que vendemos quase mil passageiros em nove meses e lamentamos que a TAP tenha abandonado o destino mas foi uma decisão estratégica da companhia que nós temos que respeitar apesar de nos penalizar.
A parceria tem sido ótima, a TAP voltou a acreditar em nós, nomeadamente no que se refere ao Brasil. Foram anos de luta para conseguir que a TAP considerasse a Sonhando um parceiro viável mas conseguimos e as coisas estão a correr muito bem, melhor do que perspetivávamos e seguramente melhor do que a TAP pensava.
Para o Brasil há uma venda constante ao longo dos meses?
Há, aliás penso que ao longo dos últimos meses não houve um só dia em que a Sonhando não tenha vendido passageiros para o Brasil com a TAP. O mercado acredita em nós, acredita no nosso produto e nós tentamos melhorar o produto dia a dia mas o principal é o mercado sentir confiança em que os seus clientes ficam satisfeitos com os nossos serviços. É isso que tentamos fazer em todos os nossos destinos e com todos os nossos produtos.
“Zanzibar não é a nossa grande aposta, é a nossa grande novidade porque a nossa grande aposta é a Tunísia, para onde temos 11 voos por semana em conjunto com os nossos parceiros Solférias e Viajar Tours”
A vossa grande aposta para o verão deste ano é Zanzibar. Como é que têm corrido as vendas?
Zanzibar não é a nossa grande aposta, é a nossa grande novidade porque a nossa grande aposta é a Tunísia, para onde temos 7 voos por semana em conjunto com os nossos parceiros Solférias e Viajar Tours.
Zanzibar é uma antiga ideia minha, que maturei e que consolidámos com um dos nossos principais parceiros nestes negócios de risco que é a Solférias. As vendas estão a correr razoavelmente bem, não é nenhuma euforia – é mais euforia do ponto de vista visual por ser a grande novidade no mercado este ano. Acreditamos no destino e acreditamos que os portugueses querem conhecer coisas novas e Zanzibar é um destino fantástico.
Vamos lançar novas alternativas, nomeadamente os combinados com os safaris levámos algum tempo a negociar com as cadeiras hoteleiras essa possibilidade. É uma alternativa muito boa que permite aos clientes fazerem praia em Zanzibar e o safari na Tanzânia.
Vamos ter duas alternativas que é de fazerem um safari de apenas de um dia ou poderem fazer três noites de safari na Tanzânia e quatro noites na praia em Zanzibar.
Acredito muito no destino, acredito na capacidade de os portugueses poderem comprar o destino e fazerem umas férias diferentes, com a comodidade do voo ser direto.
Para que se tenha uma ideia, a comodidade que pomos à disposição dos portugueses é de um voo de nove horas em contraposição com voos e escalas que levam quase 24 horas para um lado e 16 horas para o outro.
Continuando a ronda dos charters falta-nos falar do Porto Santo que é um destino da Sonhando já há alguns anos. Como é que está a procura este ano, sabendo-se que os preços da hotelaria tem aumentaram?
Relativamente ao Porto Santo tenho sempre uma sensação de quente e frio. Fui eu que, há muitos anos, no final dos anos 90, comecei a fazer charters para o Porto Santo noutro operador e em parceria com a Abreu. Desde aí sempre tive uma ligação afetiva com o Porto Santo, um destino de que gosto muito e que tem a melhor praia da Europa. Mas a escassez da oferta hoteleira tem feito com que haja especulação por parte dos hoteleiros e tenho dito isto aos maiores parceiros que tenho lá, o Hotel Porto Santo, o Pestana e o Vila Baleira. Todos os anos os tenho advertido para a fábula da galinha dos ovos de ouro. É evidente que eles são os donos do produto e vendem-no ao preço que querem, nós somos revendedores e temos que colocar uma margem exígua.
É um destino que é um sucesso, até ao fim de março tínhamos vendido mais um milhão de euros do que no ano passado, portanto está em expansão embora não saiba até que ponto o efeito da venda antecipada terá relevância neste aumento exponencial das vendas – se for isso é mau – ou se o destino está mesmo em expansão.
A Sonhando também tem uma posição no voo à partida do Porto para Hurghada, no Egito?
Temos lugares no voo da Solférias. Não se conseguiu arranjar slots à partida de Lisboa senão haveria também operação à partida de Lisboa, aliás esta é uma situação que se repete relativamente a outros destinos. Os constrangimentos no Aeroporto de Lisboa são uma situação grave para o desenvolvimento do turismo de Portugal, seja no outgoing como no incoming, sendo, provavelmente, o problema mais grave de Portugal e não só do turismo.
Mas respondendo à pergunta, estamos a vender bem do Porto como venderíamos bem se tivéssemos voo à partida de Lisboa.
São Tomé já é para a Sonhando mais do que um destino “pinga, pinga”
Outro destino que já vêm a trabalhar bastante desde o ano passado é as Maldivas. Tem correspondido à vossa expectativa?
Para ser muito sincero, esperávamos que o volume de vendas fosse maior. Temos algumas exclusividades de grande qualidade, temos feito webinars, fizemos um roadshow… na minha opinião ainda não conseguimos entrar na escolha das agências de viagens e no reconhecimento do produto e nós temos um produto fantástico para as Maldivas, um produto diferenciado, exclusivo, assinámos agora, no dia 13 de abril, um contrato com a maior cadeia de hotéis das Maldivas, a Villa Resorts e penso que será mais um impulso para o mercado vender o destino.
Outro destino que é referência, até porque a euroAtlantic tem um voo regular, é São Tomé. É um “pinga-pinga” ou já é muito mais do que isso?
É muito mais do que isso. São Tomé é onde nós temos este ano o maior aumento de vendas, exponencial mesmo. Este ano vendemos mais por dia do que vendíamos em duas semanas o ano passado e fico muito feliz com isso, primeiro porque apoiamos a nossa companhia que é algo que está sempre no nosso horizonte e depois porque é um destino de que gosto muito.
Já os Bijagós não são um produto tão apelativo e vendável em Portugal?
É um grande produto, nós temos o exclusivo dos Bijagós em Portugal, mas o destino ainda não está muito divulgado. Este é que é um produto “pinga-pinga” mas espero que um dia se torne em algo mais regular. Temos insistido sempre no destino, já o vendemos em Portugal há vários anos e também já vendemos em França por causa da pesca desportiva e esperamos que um dia se torne mais popular porque também é um destino caro e muito exclusivo.
Apesar de as vendas antecipadas para o verão terem corrido muito bem, espera que seja necessário fazer campanhas de vendas de última hora?
Eu defendo muito mais as campanhas de vendas antecipadas do que as de última hora, que não me agradam nada. Neste momento, temos 38% dos lugares de risco vendidos, o que é muito acima dos outros anos: estamos a falar de 10 mil lugares com quase quatro mil vendidos.
Agora, o mercado e a realidade é que vão ditar se vai ou não haver a necessidade de serem feitas vendas de última hora. Espero bem que não tenhamos coisas boas para vender em última hora, poderemos ter alguns restos, em algumas datas menos apetecíveis, para vender nos “saldos”. Entre os vários destinos, já temos 16 partidas esgotadas e o mesmo deve acontecer com o mercado em geral. Falo, nomeadamente, de Djerba, de Monastir, do Porto Santo e de Hurghada. Para Zanzibar já temos mais de metade das partidas no nível do segundo preço, com o suplemento da segunda classe.