José Manuel Antunes: “A nossa perspetiva é lançar um ou dois novos destinos charter para o verão de 2023”

Na segunda parte da entrevista ao diretor-geral da Sonhando, abordamos o “salto” de crescimento que o operador quer dar já a partir do inverno mas, principalmente, em 2023. Para isso, avança José Manuel Antunes, estão a ser preparados novos produtos e destinos. A aposta continuada em Timor e o relacionamento com o mercado são outros temas focados.
A entrada do Fernando Bandrés, uma pessoa de referência no mercado, para diretor comercial, quer dizer que a Sonhando no próximo ano vai ser mais agressiva quer em produto quer na forma de estar no mercado, que vai querer dar um salto em termos de crescimento?
Os novos destinos que já estamos a preparar têm a ver com isso, com o facto de querermos dar esse salto. Enquanto todos os operadores despediram pessoal durante a pandemia, nós não só não o fizemos como admitimos quatro pessoas, o que num grupo de 12 é um aumento exponencial.
Obviamente que a nossa intenção é crescer e posso dizer que estamos à procura de mais uma ou duas pessoas para o nosso departamento de booking – necessitamos disso para podermos dar uma melhor resposta aos nossos parceiros agentes de viagens.
A entrada do Fernando Brandrés pressupõe isso e também uma garantia de continuidade porque embora eu espere continuar mais uns bons anos no ativo, a verdade é que não vou para novo e havia um vácuo na empresa que eu já tinha tentado preencher há seis anos, exatamente com o Bandrés mas não foi possível e agora, quando soube que ele estava na disposição de voltar ao sector, agarrei-me a essa ideia até porque a minha relação pessoal com ele sempre foi extraordinária. O cargo de diretor comercial é mais para pôr no cartão porque o Brandrés terá as funções de um subdiretor geral.
Quando forem para as negociações para o verão de 2023 com os agrupamentos e as redes já terão a garantia de que irão ter mais. Isso significa que terão que dar mais atenção à programação da Sonhando?
Eu nunca vi as coisas assim, nunca estiquei corda com essas coisas e não é agora que o vou fazer. Nós, operadores, temos a obrigação de ter produto para as agências e de termos qualidade nesse produto, não são estas que estão obrigadas a comprar o nosso produto. Temos que ter um produto de qualidade porque, se o tivermos, as agências irão comprá-lo uma vez que também querem garantir qualidade aos seus clientes mas, claro, temos que remunerar quem nos é mais fiel.
Já há algumas novidades em relação à programação do próximo ano?
Nós temos uma preocupação que não me importo de divulgar já e que tem a ver com aquele que foi o nosso destino bandeira durante alguns anos, Cuba. O destino Cuba está a ser muito mal tratado, tanto na origem quanto na produção e quem está a promovê-lo em Portugal está a fazê-lo de uma forma aviltada, com preços fora do contexto, dando a imagem de se tratar de um produto de segunda ou terceira linha e isso é algo que me preocupa, desde logo porque Cayo Coco era um destino bandeira da nossa empresa, mas também pelo amor que tenho a Cuba.
Os voos para Timor têm tido sucesso. É uma programação que vai continuar a crescer?
Os voos de Timor foram a nossa alternativa e hoje em dia correspondem já a cerca de 25% da nossa faturação global. Tenho tido um cuidado particular em prolongar o destino: fizemos dois voos em 2020, quatro em 2021 e este ano faremos seguramente seis mas provavelmente faremos sete. Já transportámos o Presidente da República num dos voos, temos uma ligação forte com as autoridades timorenses, o movimento social entre a Europa e Timor passa um bocado pelos voos que a Sonhando promove com a euroAtlantic airways. Este ano, o volume de negócios que Timor produz na nossa empresa ficará muito perto dos três milhões de euros, o que é muito importante e o nosso objetivo é continuar e aprofundar. Praticamos preços razoáveis, ganhamos margens que são as eticamente corretas e não temos ninguém atrás de nós a “obrigar-nos” a baixar preços lançando-nos no abismo conforme acontece com outros destinos, devido a uma concorrência tresloucada.
A Sonhando tem uma particularidade que a diferencia dos outros operadores e que é o facto de ser propriedade de uma companhia aérea, a euroAtlantic. Temos um departamento exclusivamente preparado para atender às viagens de todo o staff e, sobretudo, das tripulações da euroAtlantic e esse tem disso, ao longo dos anos, o segundo ou terceiro maior negócio da empresa, o que nos tem ajudado muito, principalmente no longo curso.
O facto de termos os aviões ali perto, de podermos discutir, tem-nos permitido, desde logo, operar o destino Timor, o que não seria possível sem esta parceria, tal como aconteceu, durante anos, com o destino Cayo Coco. É também esta parceria que nos permite estudar a possibilidade de fazermos outras coisas no futuro porque temos cada vez mais a tendência de estarmos mais próximos da nossa empresa-mãe.
A efervescência do mercado e as parcerias
O mercado está um bocado efervescente, especula-se sobre quem vai comprar quem e quem vai vender o quê. Quando olha para o mercado e pensa em finais de 2022 ou início de 2023, espera que vá haver grandes transformações?
Pelo que se ouve nos “mentideros” intenções parece que existem várias, algumas das quais, se vierem a concretizar-se, vão alterar completamente o panorama das vendas em Portugal ou, pelo menos, a mobilidade de redes de vendas que alguns operadores têm pode mudar de uma forma drástica, quase invertendo as tendências.
Em alguns casos penso que não é mais do que a “fuga para a frente” de alguns operadores, nomeadamente dos operadores espanhóis, para ser concreto.
Isso que se ouve, poderá ser bom ou ser mau, se vier a acontecer desregulará o mercado mas para já não há nada de concreto.
Aconteça o que acontecer no mercado, nada vai alterar a rota que já têm traçada?
Não. Nós, com muito menos espalhafato, conseguimos em 2020, sem recebermos subsídios de ninguém a não ser alguns apoios relativos ao trabalho e à segurança social, que a empresa tivesse apenas um prejuízo residual de duas dezenas de milhares de euros e em 2021 tivemos um lucro de quase meio milhão de euros. Em 2022 estamos numa rota parecida, queremos remunerar as agências como elas merecem, queremos dar-lhes a garantia de que estamos cá para resolver qualquer problema de uma forma clara, profissional e economicamente viável, queremos ter um produto que não depende do bom humor dos fornecedores, embora de vez em quando haja lapsos. Este ano aconteceu-nos um problema na Tunísia, tivemos dois ou três casos com hotéis que estavam pré-pagos, e com muita antecedência, e quando os clientes chegaram não tinham alojamento e tivemos que ser nós a arranjar outro hotel para as pessoas.
Quando fazemos o balanço das operações a conclusão a que chegamos é de que escolhemos mal o parceiro e obviamente que o hotel irá ser excluído das nossas novas negociações. Vou em breve à Tunísia falar com os outros nossos parceiros e ser muito claro sobre a situação, dizendo mesmo que se tornar a acontecer alguma situação como esta poremos uma ação internacional de pedido de indemnização por prejuízo da nossa imagem.
“Não temos nada contra os grandes que aliás são os nossos principais clientes, o que garantimos é que tratamos com o mesmo carinho uma agência de viagens que tenha apenas um empregado com que tratamos a Abreu, por exemplo. Não há nenhuma contradição nisso.”
A Sonhando tem parcerias com grandes empresas, como é o casoda Abreu e da Solférias nos charters mas assume-se como grande parceiro das pequenas agências de viagens. Como é que uma coisa joga com a outra?
É muito fácil. Por um lado, essas parcerias são para viabilizar o aluguer dos aviões, uma vez que não temos massa critica para alugar os aviões sozinhos, e eles também não. Precisamos deles para conseguirmos esse espaço e a eles também lhes dá jeito ter-nos a nós para ocuparmos uma parte dos aviões. Depois, eles têm as suas próprias redes e como nós não temos nenhuma rede nem sequer uma única agência de viagens, temos que criar a nossa própria rede que, por natureza, são as pequenas agências independentes que, por não pertencerem a nenhuma rede também precisam de ter um fornecedor privilegiado. Essas pequenas agências confiam em nós e nós tratamo-las com o máximo carinho, o que não quer dizer que essas agências não comprem aos outros operadores porque, obviamente, compram e também não significa que as redes não nos comprem, aliás o nosso primeiro cliente é a GEA e o segundo é a Abreu. Não temos nada contra os grandes que aliás são os nossos principais clientes, o que garantimos é que tratamos com o mesmo carinho uma agência de viagens que tenha apenas um empregado com que tratamos a Abreu, por exemplo. Não há nenhuma contradição nisso.
Nestas parcerias temos uma que é a mais forte de todas, que é com a Solférias, e isso é público porque a Solférias está presente em praticamente todas as nossas parcerias e isso tem a ver com o facto de nos identificarmos muito e de funcionarmos com muita lealdade, daí a relação ser excecional.
Relativamente a 2023, o aeroporto de Lisboa poderá ser o grande problema das operações?
O aeroporto já é o grande problema e já nem sei o que diga sobre isso. Quando olho para o futuro, o que espero é que o problema não se agrave ainda mais. Seria muito triste se isso acontecesse, embora por vezes me pareça que há quem tenha essas intenções.
Há também uma questão social nisto tudo: os portugueses também precisam de ter férias e têm esse direito, portanto não me parece que se possa entrar na obsessão de querer sempre mais e mais turistas, mais e mais low costs e pôr de fora os voos que saem de Portugal com turistas portugueses para outros destinos. Não vejo que nos tirem o pouco que já temos para dar a mais low costs, isso era tão disparatado que não acredito que possa acontecer.
Há que criar novas infraestruturas e esta é uma questão tão óbvia desde há cinco décadas que se tornou caricata. Para já, devem tomar-se decisões relativamente ao atual aeroporto – mudar a torre de controlo, como já foi tantas vezes dito, a questão da segunda pista, paralela, que se possa obrigar aviões a irem aparcar a outro sítio, nomeadamente a Beja. Tudo isto pode e deve ser feito, agora cortar a possibilidade aos portugueses de saírem de Lisboa para irem de férias como historicamente sempre aconteceu, forçando-os a sair de Beja ou de outro qualquer sítio, é uma coisa completamente impensável que não faz sentido nenhum. Isso inviabilizaria muitas das operações e prejudicaria seriamente empresas portuguesas que contribuem com impostos elevadíssimos para o Estado.
Colocar mais voos à partida do Porto começa também a ser incompreensível porque o mercado a sul fica isolado?
Os mercados existem e temos que ver onde é que está a população portuguesa. Há muita gente no norte mas também há muita gente no sul e tem que haver um certo equilíbrio.
A frota da nossa companhia, a euroAtlantic, vai aumentar, vai ter dois novos Boeing 777, um já a partir de setembro e outro a partir de outubro. São aviões que têm mais de 330 lugares e se nós lançarmos um novo destino charter – e estamos a pensar fazê-lo, estamos a pensar inovar em termos de destinos de longa distância – não há massa crítica em Portugal que nos permita fazer um voo de Lisboa e outro do Porto e obviamente que a escolha recairá sobre Lisboa, até por uma questão de centralidade geográfica mas também pela questão do parqueamento porque os aviões estão sedeados em Lisboa e se tivermos que deslocar um avião vazio para o Porto teremos um custo acrescido de 20 mil euros em cada “perna”.
Isto não é nada contra o Porto e num mundo ideal o que seria eventualmente possível era colocar um avião no Porto mas, sinceramente, não sei se era possível ter um avião com esta capacidade a fazer seis operações por semana à partida do Porto e é disso que estamos a falar. Não sei se o mercado do norte tem capacidade para absorver, sozinho, uma oferta de 3.000 lugares por semana, ou então teríamos que inverter a situação, com as pessoas do sul a terem que ir embarcar do Porto.
O Porto é um excelente mercado, tem-nos ajudado muito, nas operações do Porto Santo e da Tunísia vendemos primeiro o Porto porque é um mercado que reage mais rapidamente do que o do sul mas há uma série de questões logísticas que se colocam, principalmente em relação aos wide-bodies.
Disse há pouco que com estes novos aviões vão fazer mais charters de longo curso. Isso quer dizer que vai haver novos destinos?
A nossa perspetiva é lançar um ou dois novos destinos charter para o verão de 2023, estamos a estudar várias possibilidades mas pelo menos iremos fazer um novo destino com a euroAtlantic, talvez não no 777, pode ser no 767, mas por enquanto não posso adiantar mais nada.