Jorge Loureiro: falta de recursos humanos está a pôr empresários “em pânico”
Para Jorge Loureiro, vogal da Comissão Executiva da Turismo Centro de Portugal, a questão dos recursos humanos é “um elefante na sala”, que coloca os empresários em pânico porque se fala muito dela mas tardam as soluções.
Pedro Machado já tinha abordado, na sua intervenção durante a apresentação do 8º “Vê Portugal”, em Lisboa, a questão dos recursos humanos, ao afirmar que uma das ambições do Fórum Turismo Interno era a de debater “temas quentes do presente e do futuro próximo”, mas Jorge Loureiro, vogal da Comissão Executiva da Turismo Centro de Portugal, ao intervir na mesma ocasião, foi um pouco mais longe ao fazer o retrato da situação.
“A questão dos recursos humanos é central”, afirmou, sublinhando que “se há hoje uma questão transversal com que todos estão preocupados, nomeadamente os empresários, é exatamente a questão a da falta de recursos humanos no setor”. Exemplificou com “uma auscultação feita a quatro microempresários da zona de Óbidos que precisavam de preencher 100 postos de trabalho”, o que significa que a falta de mão de obra “é hoje o grande problema”.
Trata-se de uma situação que tenderá a agravar-se se nada for feito. “Nós ainda não estamos com níveis de retoma que ambicionamos e que vamos seguramente ter – muito provavelmente já neste verão de 2022 antecipando aquele que era o cenário previsto para 2023 -, e estamos longe de ter os níveis de recrutamento que tínhamos em 2019, que é o ano de referência”, disse.
Para Jorge Loureiro, “há aqui claramente um elefante na sala, que ainda ninguém sabe verdadeiramente como se vai resolver” porque “a procura está aí e está muito pressionante”, sublinhou, acrescentando que, como hoteleiro, também sente estas dificuldades. “No último mês a procura acelerou muito do ponto de vista da procura”, pelo que “estamos em pânico relativamente ao serviço que vamos prestar porque não podemos defraudar todo o investimento que o país fez nos últimos 20 anos, ao nível do serviço”.
A questão está, segundo o responsável, em saber como é que o setor vai conseguir voltar a captar os profissionais que saíram das profissões do turismo e, acima de tudo, saber como é que vai ser feita a importação de mão de obra, um processo que, na sua opinião, “está muito atrasado e muito burocratizado” apesar dos muitos anúncios que têm sido feitos.
Jorge Loureiro exemplificou com a questão da facilitação ao nível dos PALOPs em que “na prática, ainda não aconteceu rigorosamente nada” ou seja, “estamos exatamente no ponto de partida” porque não existe coordenação ao nível dos players do governo que têm que estar de acordo sobre a questão.
“Não há um pivô no governo que possa pôr a administração central de acordo relativamente à importação de recursos humanos”, apontou, deixando uma pergunta: “se houve, e há, condições para o fazer numa situação de urgência, caso da situação da Ucrânia, porque é que esse modelo não é agora replicado numa situação de urgência relativamente a este setor?” Por isso considera muito positivo que a questão esteja em cima da mesa no “Vê Portugal”.
Jorge Loureiro foi mesmo mais longe ao frisar que, num momento como o atual, nem estão em causa as qualificações das pessoas, “a grande questão é ter essas pessoas – isto é muito duro de ouvir, mas é a realidade”, ou seja, os empresários já nem se importam de contratar mão de obra sem formação: “depois terá que haver um espaço de tempo para ser dada alguma formação de base, mas o problema que se coloca hoje não é de escolha, é sim de ter pessoas disponíveis”.