João Serrano: “Os hotéis do INATEL não ficam nada a dever a outros hotéis de categoria similar que existem no mercado”

São 15 as unidades hoteleiras da Fundação INATEL espalhadas pelo país, abertas a sócios e não sócios. O Turisver foi falar com João Serrano, diretor-geral de Operações da Hotelaria do INATEL, para saber mais sobre estes produtos e o seu funcionamento. A aposta no segmento de congressos e eventos e investimentos na renovação das unidades foram outros temas abordados.
Penso que já antes da pandemia vocês estavam a renovar algumas das vossas unidades. Qual é o ponto de situação da situação neste momento? Já fizeram as intervenções todas?
Não, nós temos vários produtos na calha para podermos fazer alguns reinvestimentos, no sentido de nos tentarmos modernizar e acompanhar as ofertas que existem, sempre no cumprimento da nossa missão, sobretudo de âmbito social.
A unidade de Entre-os-Rios está, neste momento, em remodelação, perspetivamos reabrir em meados de 2026. Trata-se de um hotel com uma vertente termal associada e, para nós, é um produto importante e com uma localização também bastante atrativa, fica perto de Penafiel e a poucos quilómetros do Porto. Dá-nos uma alternativa de alojamento bastante simpática e com a vertente termal acaba por preencher as necessidades de parte do nosso público habitual e também de outros públicos que queremos captar e alcançar.
Essa é a obra mais premente, mas temos estado a fazer alguns investimentos também em Oeiras, nos últimos anos reparámos cerca de 56 dos 138 quartos que compõem o complexo e estão na calha mais investimento naquele local, na tentativa de modernização do espaço, porque é um produto que também pela sua localização próxima de Lisboa, acaba por ser crucial para nós. O potencial de Oeiras é gigante dentro da nossa rede, acaba por ser o segundo melhor compromisso em termos de receitas angariadas.
A primeira é a Albufeira?
A primeira é a Albufeira pela dimensão, são 327 quartos, agora já não são 327 porque pelas dificuldades de alojamento de recursos humanos tivemos que abdicar de 22 quartos que temos num dos edifícios que compõem o complexo, que estão destinados a alojar colaboradores e isso fez-nos perder um bocadinho a capacidade. de todos os modos, Albufeira é um produto que continua com imensa procura, sobretudo nos meses de verão.
Nós trabalhamos muito com o nosso turismo social, grupos do operador turístico que temos interno, a quem naturalmente, damos condições preferenciais também para organizar os seus grupos.
O operador turístico interno que têm também comercializa as vossas unidades fora do âmbito dos associados da INATEL?
Eles estão no mercado como nós estamos, têm viagens com preços para sócios e para não sócios, naturalmente sempre com vantagem para o sócio. O mesmo se passa connosco, nos nossos hotéis temos um preço para sócio e um preço para não sócio, e damos vantagem de preço ao nosso associado, que é o nosso principal cliente individual, representa atualmente entre 65 a 70% das nossas reservas.
E o mercado estrangeiro?
O mercado estrangeiro tem alguma procura pelos nossos hotéis, cada vez mais até por causa das plataformas eletrónicas. Retirando a questão dos Açores, onde já não estamos presentes, onde estávamos com dois hotéis que tinham alguma procura de mercado estrangeiro, hoje os nossos hotéis com maior procura de outros mercados que não o nacional, são Oeiras e Caparica pela proximidade que têm em Lisboa, e Albufeira, aqui sobretudo por parte do mercado inglês e do francês. Mas, na esmagadora maioria, os nossos clientes são nacionais e sócios da INATEL.
As agências de viagens portuguesas procuram-vos para fazer reservas?
Sim, trabalhamos com algumas agências de viagens. Não têm a expressão que terão certamente, noutros produtos hoteleiros, mas entendemos sobretudo que não nos procuram tanto em quantidade mas porque estão cientes da qualidade de alguns dos nossos produtos, para não dizer todos, porque os hotéis do INATEL não ficam nada a dever a outros hotéis similares, ou de categoria similar que existem no mercado.
“Os modos de gestão dos nossos hotéis são similares a qualquer outra rede de hotéis que exista em Portugal e até no mundo. Temos uma equipa centralizada que vai gerindo os principais indicadores de negócio de cada um dos hotéis e depois temos uma equipa em cada um dos hotéis com um diretor que faz a gestão mais local”
O INATEL tem 15 unidades dispersas pelo país, incluindo uma em Porto Santo, embora só 14 estejam abertas, porque a de Entre-os-Rios está em obra. Como é que se gere uma dispersão geográfica tão grande?
A dispersão geográfica é uma realidade, mas os modos de gestão dos nossos hotéis são similares a qualquer outra rede de hotéis. Temos uma equipa centralizada que vai gerindo os principais indicadores de negócio de cada um dos hotéis e depois temos uma equipa em cada um dos hotéis com um diretor que faz a gestão mais local de cada um dos produtos hoteleiros que temos na nossa rede de hotéis.
Acaba por ser um desafio diário, não só pela dispersão geográfica, como também pela própria diversidade em termos de capacidade de resposta, mas sobretudo muito ao nível das equipas de trabalho. Há localizações do país em que é mesmo muito difícil conseguirmos pessoas capacitadas para trabalhar nesta área de negócio e sobretudo capacitadas e com conhecimento de formação nessa área, mas isso penso que também é transversal do setor. Acaba por ser um desafio diário que vamos acompanhando com várias reuniões de trabalho, com as equipas, envolvendo as equipas nos projetos que vamos fazendo, sejam projetos locais, sejam de âmbito nacional ou mais transversais a toda a rede de hotéis.
Em termos de pirâmide organizacional, são centralizados em Lisboa, onde está a gestão das unidades e depois têm diretores regionais e diretores locais?
Não. Temos diretores em cada uma das nossas unidades e, em alguns casos, pela proximidade, há diretores que partilham mais do que uma unidade, como é o caso do INATEL de Linhares da Beira e do INATEL de Vila Ruiva, que distam 12 Km um do outro e o diretor é o mesmo.
Estes hotéis mais afastados dos grandes centros de turismo, ganham características próprias da região em termos dos produtos?
É isso que nós tentamos todos os dias. Não quer dizer que o consigamos, até porque há algumas dificuldades relacionadas com o próprio tipo de organização onde eles se inserem, mas, na realidade, o que tentamos é, sobretudo, transmitir a quem nos visita essa autenticidade, tanto no serviço como nos produtos que apresentamos, recorrendo a tudo o que exista de melhor em cada um dos territórios onde estamos inseridos. E também fazemos isso relativamente aos recursos humanos – socorremo-nos sempre de pessoas locais, até no cumprimento da missão social que a própria Fundação tem.
“Não é que não tenhamos produtos que pudessem ter cinco estrelas, mas tentamos evitar esse mercado por dois fatores. Primeiro, porque achamos que é mais fácil superar as expectativas dos clientes quando eles chegam a um produto com três ou quatro estrelas e recebem algo que supera essas mesmas expectativas. E, por outro lado, porque a nossa missão impõe-nos, e bem, que não sejamos reconhecidos no mercado como produtos de luxo…”
Vocês não qualificam os vossos hotéis por estrelas?
Qualificamos, os nossos hotéis estão classificados de acordo com a legislação em vigor. Não é que estejamos obrigados a isso, porque se trata de um grupo de hotéis que faz parte de uma Fundação, mas tentamos adequar os produtos à legislação em vigor e eles estão classificados entre as duas estrelas – temos alguns alojamentos locais – e as quatro estrelas.
Não é que não tenhamos produtos que pudessem ter cinco estrelas, mas tentamos evitar esse mercado por dois fatores. Primeiro, porque achamos que é mais fácil superar as expectativas dos clientes quando eles chegam a um produto com três ou quatro estrelas e recebem algo que supera essas mesmas expectativas. Por outro lado, porque a nossa missão impõe-nos, e bem, que não sejamos reconhecidos no mercado como produtos de luxo ou de super luxo, antes, pelo contrário, os nossos produtos têm de responder à sociedade portuguesa na sua globalidade. Recebemos todo o tipo de clientes e estamos conscientes que prestamos um serviço correto e adequado para aquilo que é a sua perspetiva.
Principalmente no binómio preço-qualidade?
Sim, a relação qualidade-preço é muito importante. Não há propriamente um compromisso de sermos os mais baratos no destino A ou no destino B, mas há da nossa parte um esforço enorme, pelo menos das equipas de gestão, de apresentarmos a melhor relação qualidade-preço naquele destino, ou seja, comparando o nosso produto e atendendo à sua classificação com outros que possam existir, quando existem, porque em muitas localizações em que temos hotéis não há outras alternativas, mas quando eles existem tentamos ser uma das ofertas mais atrativas no mercado.
Recentemente estive num evento no vosso hotel da Costa de Caparica, onde receberam mais de meio milhar de congressistas. Este segmento dos congressos e eventos também é algo que acarinham e para o qual se vocacionam dependendo, claro, da capacidade das unidades?
Todas, ou quase todas as nossas unidades hoteleiras têm capacidade para receber eventos, de maior ou menor dimensão. Temos salas de reuniões em todos os nossos hotéis, com capacidades entre as 20 e as 1.200 pessoas, na Caparica, por exemplo, temos um salão com uma grande dimensão. Recebemos o 21º congresso da ADHP, que mesmo com a intempérie que se abateu naquela altura, correu muitíssimo bem e, sobretudo, serviu para dar a conhecer aos profissionais do setor e também ao público em geral, que a Fundação INATEL tem ótimas instalações e que consegue apresentar um serviço que, penso eu, foi valorizado por todos e que esteve à altura do evento em causa.
Para eventos com mais ou menos essa capacidade daquele que se realizou na Caparica, que outros espaços é que podia apontar?
Temos uma diversidade grande de salas de reuniões, por exemplo, no INATEL da Foz do Arelho, temos também em Oeiras, embora este último com menor expressão. Temos também uma sala bastante interessante em Linhares da Beira, com uma capacidade até 120, 150 pessoas, onde temos feito algumas reuniões, sobretudo das aldeias históricas de Portugal, por exemplo. No Piódão também temos um salão para eventos com uma dimensão razoável, e em Vila Nova de Cerveira temos um auditório fantástico para 200 pessoas, sensivelmente.
Ainda têm capacidade de expansão nessa área?
Temos capacidade de expansão nessa área, naturalmente, mas notamos cada vez mais a procura para a utilização dos nossos espaços, tanto por parte de empresas organizadoras de eventos como de empresas dos vários ramos de negócio, nomeadamente empresas da área de farmacêutica. Isso é comum e frequente ocorrer em Oeiras, na Caparica e sobretudo na Foz do Arelho, julgamos que um pouco pela proximidade a Lisboa, mas não quer dizer que isso não aconteça nos outros hotéis. A Foz do Arelho tem a particularidade de ter várias salas que podem funcionar em simultâneo, num total de cinco, com capacidades diferentes, o que permite criar grupos de trabalho e depois fazer um plenário final, por exemplo, para conclusão de trabalhos, o que acaba por ser sempre bastante considerado pelas empresas e pelas entidades que nos procuram. Não trabalhamos só com empresas, trabalhamos com institutos públicos, com a administração pública na sua generalidade.
“Quanto a novos investimentos, foi adquirido um terreno há uns anos atrás em Porto Covo, e por isso ao que tudo indica podemos vir a ter um hotel em Porto Covo nos próximos anos. É uma zona onde não temos qualquer tipo de cobertura geográfica é a Costa Alentejana, sobretudo Porto Covo, está na moda”
O vosso maior problema para rentabilizar ainda mais as vossas unidades hoteleiras é a sazonalidade?
Também é a sazonalidade – não só, mas também. A sazonalidade, nos principais centros urbanos éhoje quase inexistente, mas com as localizações que temos, diria que a nossa sazonalidade anual baseia-se sobretudo na disparidade da ocupação entre o fim de semana e o período semanal, mais até, do que entre os períodos tradicionais de época baixa de inverno e época alta de verão.
Se formos para a Serra da Estrela, onde temos três hotéis, Manteigas, Linhares e Vila Ruiva, a época alta será ao contrário daquela que encontramos em Albufeira, mas não é só a sazonalidade, é também muito a localização desses produtos hoteleiros que na prática acaba por significar a sazonalidade, é verdade, e que tentamos combater com grupos de cariz social, organizados com entrada ao domingo e saída à sexta-feira, porque o fim de semana para nós deixa de ser um problema e completamos, ou tentamos completar a ocupação dos hotéis com esses grupos que fazemos atualmente com o operador da INATEL e que no passado fazíamos similarmente, por exemplo, com o Turismo Sénior e mais recentemente com o programa 55+.pt que surgiu nos últimos anos, com apoios.
Para além do hotel que está em renovação, o que é que se desenha para os períodos próximos?
Nós gostaríamos muito de continuar a recuperação da Oeiras, para além da reabertura de Entre-Os-Rios que está num processo de investimento. Temos que reabilitar alguns dos hotéis, nomeadamente Albufeira, mas não só. Albufeira são dois hotéis licenciados de forma independente, porque a lei assim obriga, porque têm uma via pública a atravessá-los, mas um deles vai precisar de uma reabilitação e de uma modernização nos próximos tempos.
Também gostaríamos de fazer alguns investimentos na melhoria de vários produtos que temos de norte a sul do país, sempre na tentativa de os modernizar e de fazer com que permaneçam atrativos para o cliente.
Quanto a novos investimentos, foi adquirido um terreno há uns anos atrás em Porto Covo, e por isso ao que tudo indica podemos vir a ter um hotel em Porto Covo nos próximos anos. É uma zona onde não temos qualquer tipo de cobertura geográfica e a Costa Alentejana, sobretudo Porto Covo, está na moda.
Além disso, temos falado internamente de outros potenciais investimentos ou reabilitações a fazer, incluindo alguns imóveis que não são atualmente produtos hoteleiros, mas que poderão vir a ser, por exemplo, na região autónoma dos Açores, e que já são propriedade da Fundação INATEL.