João Matos “Melhor Jovem Diretor de Hotel”: Quando o incentivo de uma mulher é caminho para o prémio
Nasceu em Lisboa, tem 36 anos e foi considerado pela ADHP – Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal, como o “Melhor Jovem Diretor de Hotel” na edição deste ano dos Prémios Xénios. Atualmente diretor do hotel Moxy Lisboa Oriente, João Matos, passou pela SANA Hotels e pelo Grupo Visabeira e garante ao Turisver: “Sou muito feliz onde estou!”
O João sempre quis seguir a área do Turismo ou sonhou ter outra profissão?
Sempre quis trabalhar nesta área. Os meus pais têm um negócio familiar, uma das pastelarias de fabrico próprio mais antigas do Cacém, a Jardim do Sol, com mais de 40 anos e eu nasci e fui criado na área da restauração.
Comecei por fazer uma licenciatura na área de Gestão de Empresas na Universidade Lusófona, em Lisboa, porque na altura não me fazia muito sentido estar a fechar logo o leque na área da Gestão Hoteleira. Depois especializei-me nessa área e sempre foi onde trabalhei.
Enquanto fiz a licenciatura trabalhei no Departamento Financeiro na Universidade Lusófona e mais tarde acabei por tirar uma Pós-graduação na Área de Gestão de Ginásios, Health Clubs e Spas. Quando terminei a minha licenciatura comecei logo a trabalhar na SANA Hotels, primeiramente numa área a que eles chamam Representante da Direção de Gestão e Organização, que é a pessoa que está num hotel e faz a interligação entre todos os serviços centrais.
Mais tarde fiz uma Pós-graduação em Top Management in Hospitality & Tourism no ISCTE Executive Education e neste momento estou a terminar o Mestrado em Gestão Hoteleira, na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.
Porque é que só agora decidiu tirar o Mestrado nessa área?
Inicialmente comecei a fazer o Mestrado em Turismo, porque não havia o de Gestão Hoteleira. O que aconteceu é que eu acabei por me desinteressar, porque era um curso muito teórico e não me acrescentava muito a nível profissional, por isso deixei-o em standby. Depois, entretanto, estive em projetos da SANA Hotels em Angola e mais recentemente no Grupo Visabeira, nos hotéis Montebelo onde estive em Viseu, em Aveiro e Moçambique e, portanto, esse mestrado ficou sempre em standby. Quando me apercebi que já existia o Mestrado de Gestão Hoteleira no Estoril, pedi as equivalências das cadeiras que já tinha feito e dei continuidade aos estudos.
Conceito disruptivo do Moxy Lisboa Oriente e liderar equipas jovens são os maiores desafios
Entrou no Moxy Lisboa Oriente em março de 2022. Como é que está a ser o desafio?
Recebi um convite do diretor-geral de Operações da Hoti Oriente Hoteis SA, Paulo Sassetti, porque o hotel Meliá Oriente na altura tinha ficado sem diretor e o diretor do Moxy Lisboa Oriente tinha ido substituí-lo.
Portanto, convidaram-me para assumir este novo projeto, que para mim inicialmente foi um desafio, na ótica de que não tem nada a ver com a hotelaria tradicional a que eu estava mais habituado. É um conceito disruptivo, um conceito mais informal, mais próximo do cliente, direcionado para um cliente mais jovem, nómadas digitais, um posicionamento totalmente diferente daquele a que eu estava habituado.
No início foi um desafio por essa parte, porque não só o conceito é diferente como a equipa é consideravelmente mais jovem do que a equipa que eu estava habituado a liderar. Apesar disso à partida ser um ponto positivo na medida em que às vezes é até mais fácil moldarmos as pessoas e fazer com que consigamos cumprir os nossos objetivos, eu sinto que é diferente. Para mim é mais difícil lidar com pessoas 10 anos mais novas do que eu do que com pessoas 30 ou 40 anos mais velhas. É uma geração completamente diferente. Mas é um projeto do qual tenho gostado muito.
Sou muito feliz onde estou. Este ano que passou foi o ano zero para o Moxy Lisboa Oriente, porque a unidade abriu em meados de 2021, no pós-covid 19 e arrancou no ano em que eu estava a entrar.
Temos uma localização fantástica, o que ajuda muito e temos um franchising da Marriott que dá ali uma alavanca para captar o cliente Marriott, que é muito fidelizado. O hotel é uma parceria entre a Hoti Hotéis e um investidor imobiliário belga e felizmente os resultados têm sido ótimos para todos os envolvidos.
A época da Páscoa foi boa em termos de ocupação?
Foi muito bom, este ano de 2023 já colocámos os nossos objetivos bem lá no alto e temos superado desde o início do ano. O mês de março fechámos com mais de 70% de ocupação, estamos a falar de uma unidade com 222 quartos e este mês de abril vamos fechar acima dos 80%, com os mercados norte-americano, britânico e nacional a liderarem a procura.
E as perspetivas para o verão também são animadoras?
Muito mesmo, vamos ter as Jornadas da Juventude, que nos vai dar um balão de oxigénio pela nossa localização e depois também temos uma vantagem muito grande, porque somos parceiros da Web Summit e em novembro é um mês fortemente marcado por este evento. E sim, o ano é promissor.
“Vou-lhe ser sincero, eu não estava minimamente à espera de receber este prémio [melhor jovem diretor de hotel], nem sequer estava à espera de ser nomeado”
O que significa para si ter recebido este prémio Xénios da ADHP, enquanto melhor jovem diretor de hotel?
Vou-lhe ser sincero, eu não estava minimamente à espera de receber este prémio, nem sequer estava à espera de ser nomeado. Sou associado da ADHP há menos de um ano, não sou uma pessoa que tenha muito tempo e disponibilidade para estar presente na maioria dos eventos, sou uma pessoa fora desse contexto e quando fui nomeado fiquei muito feliz. Tenho a confessar que de início estive para declinar o convite, porque em tudo o que entro é para ganhar, mas depois quando cheguei a casa e em conversa com a minha mulher, ela disse-me “João estares nomeado já é uma vitória, por isso tudo o que vier para a frente é lucro”.
E qual tem sido o feedback das pessoas em relação a este prémio?
Tem sido fantástico, com pessoas dos quatro cantos do mundo a darem-me os parabéns.
Pensa que este tipo de prémio lhe pode abrir outros horizontes e outros convites?
Com certeza. Como lhe disse estou muito feliz na empresa onde estou, a Hoti Hotéis é uma empresa de dimensão, mas uma empresa familiar onde as pessoas ainda são pessoas e não um número e eu também tento passar isto para a minha equipa. E sinto reconhecimento da parte da empresa. Ou seja, eu não vejo este prémio como uma alavanca para me abrir portas em outros projetos, mas sim dentro da minha empresa para outros projetos.
A Hoti Hotéis tem 19 hotéis atualmente em operação e mais cinco em projeto e sinto que pode abrir portas para outros projetos mais aliciantes, quem sabe, mas dentro da empresa.
“… uma das minhas dificuldades é gerir as expetativas dos colaboradores e mantê-los motivados”
Quais são as principais dificuldades com que se debate um diretor de hotel no dia-a-dia?
Tenho duas grandes dificuldades. Uma são os recursos humanos porque, efetivamente, o mindset dos jovens atualmente é diferente. Eu tenho 36 anos e quando falo com os meus colaboradores de 22 ou 24 anos parece que temos uma diferença de 50 anos. Essa questão de um emprego para a vida não é com eles nem querem essa responsabilidade. Por exemplo, um contrato de um ano para eles é demasiado tempo.
Por um lado, sinto que já não há a cultura hoteleira, por hipótese eu tenho cerca de 35 colaboradores, metade tem formação na área hoteleira a outra metade não tem. A maioria das pessoas não tem um curso na área hoteleira nem querem fazer carreira. Não têm objetivos delineados a médio e longo prazo.
É muito difícil manter estas pessoas motivadas, porque têm um sentimento constante de insatisfação. Em 2022 aumentámos os salários dos nossos colaboradores por duas vezes e ainda assim estamos sempre com o sentimento de que nunca chega ou de que o reconhecimento é sempre pouco. Essa é uma das minhas dificuldades gerir as expetativas dos colaboradores e mantê-los motivados.
Por outro lado, um desafio muito grande que tenho tem a ver com o conceito do próprio hotel. O Moxy Lisboa Oriente pertence à Marriott que é detentora de 32 marcas até à data e é atualmente o maior grupo hoteleiro e nessas 32 marcas tem um tipo de posicionamento onde um hotel Moxy não é verdadeiramente aquilo a que um cliente Marriott está acostumado.
Eles estão acostumados a um standard de serviço de um Sheraton, de um Marriott, de um posicionamento mais elevado e muitos deles quando entram num Moxy têm essa expetativa. Perguntam se não temos bagageiro, se não temos room service?
Não, isto é, Moxy, é um conceito diferente e esse tipo de serviços não entra no nosso conceito. Uns clientes compreendem e aceitam, outros nem por isso, portanto temos de saber gerir essas expetativas dos clientes e é um desafio muito grande, principalmente se for cliente fidelizado Marriott.