Joana Ferreira ‘Melhor Gestor de Potencial Humano’: “Recursos Humanos são o grande desafio na hotelaria”

Joana Ferreira, é a coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Vila Galé, é de Lisboa e ganhou recentemente o prémio Xénios da ADHP – Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal, como “Melhor Gestor de Potencial Humano”. O Turisver falou com esta profissional, que acredita que o maior desafio da sua área é trazer “alguma modernização ao setor da hotelaria”.
A Joana sempre quis seguir a área do Turismo ou tinha outros planos?
A minha escolha pela área do Turismo foi um bocadinho ao acaso. No dia em que me estava a dirigir à Faculdade para fazer a minha inscrição, tinha na ideia inscrever-me em Jornalismo, porque percebi desde cedo que me identificava com a área da Comunicação.
Mas cheguei à Faculdade e a cruz foi calhar em Turismo. Foi assim algo inusitado. Turismo, obviamente que já tinha surgido em ideia, na altura já estava em alta e o mercado de trabalho estava ótimo. Fui com muitas dúvidas inscrever-me na Faculdade e acabei por seguir a minha intuição e optei por Turismo.
Pode descrever-me o seu percurso académico e profissional?
Estudei na Universidade Lusófona, fiz a Licenciatura em Turismo mas não me identifiquei com a área operacional, só quando tive contacto com a cadeira de gestão de Recursos Humanos percebi que era esse o meu caminho.
Tive a oportunidade de estagiar no Departamento de Recursos Humanos do Grupo Vila Galé e percebi que me identificava com os valores e cultura que se viviam na empresa, mas só quando completei a licenciatura surgiu a oportunidade de ir trabalhar para a receção do Vila Galé Ópera e então comecei na área operacional, apesar de ter plena consciência que o meu futuro não iria passar por ali. Poucos meses depois foi-me feita a proposta para secretária de direção que é, no fundo, uma técnica de Recursos Humanos, responsável por todo o processamento salarial, gestão administrativa, admissões, cessações e aceitei. Em 2013, quando abriu o Vila Galé Collection Palácio dos Arcos, dei apoio na abertura e acumulei funções enquanto secretária de direção com os dois hotéis.
Já em 2015 assumi a coordenação dos Recursos Humanos do Grupo Vila Galé em Portugal, até hoje. Entretanto tirei uma Pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos na Universidade Lusófona. No início foi um desafio, porque não deixava de ser uma miúda a assumir um departamento de um grupo com esta dimensão, mas fui ganhando o meu espaço.
O facto de ter passado por vários departamentos ajudou-a enquanto coordenadora de Recursos Humanos?
Foi crucial, o facto de ter passado pela operação deu-me uma sensibilidade que é crucial para o exercício das minhas funções. Aliás eu sou defensora de que qualquer integração na hotelaria, seja para que departamento for, deveria começar sempre pela operação.
“As novas gerações não estão à procura de um emprego, estão à procura de uma experiência que enriqueça de alguma forma o seu currículo (…)”
Quais são os principais desafios que encontra no dia-a-dia no cargo que desempenha?
Um dos principais desafios é trazer um bocadinho de modernização a este setor que é tão tradicional, o outro é a dificuldade que nós temos em chegar a todos, na medida que é um setor em que temos atualmente quatro gerações a trabalhar em simultâneo. Isso traz um desafio acrescido, porque as pessoas que estão a trabalhar há mais anos ainda veem a hotelaria de uma forma mais tradicional, enquanto os que chegam têm outras necessidades, têm outras exigências.
Eu diria que a área dos Recursos Humanos é aqui o grande desafio. Como é que nós conseguimos competir com outros setores que estão a oferecer outro tipo de vantagens, nomeadamente a flexibilidade de horário, o teletrabalho ou o trabalho híbrido? Em hotelaria é impensável, porque estamos a falar de um setor que está aberto 365 dias por ano, 24 horas por dia e onde o contacto humano promove a experiência e acrescenta valor à experiência da hospitalidade.
Como é trabalhar com as novas gerações que agora chegam ao setor?
As novas gerações não estão à procura de um emprego, estão à procura de uma experiência que enriqueça de alguma forma o seu currículo e que lhes traga competências essenciais para crescerem enquanto profissionais. A nossa missão é proporcionar a melhor experiência possível às pessoas que entram, independentemente do tempo que aqui estiverem. Se o fizermos, se calhar estamos a plantar as sementes para colher os frutos mais tarde.
Eu diria que estas novas gerações, obviamente que nos trazem estes desafios, mas também nos trazem muitas coisas boas e são gerações que já têm uma bagagem e uma experiência que muitas das pessoas que já estão connosco há muitos anos não têm, seja uma experiência internacional, seja uma experiência diversificada devido aos hotéis onde já trabalharam e isso é sempre uma mais-valia, porque vêm com outras ideias, outra visão que pode acrescentar valor e portanto penso que devemos dar valor a estas novas gerações, e dar muita credibilidade, porque de alguma forma elas vêm para mudar o setor da hotelaria.
“Já vejo muitos grupos hoteleiros e de restauração a modernizarem-se e a oferecerem condições e metodologias de trabalho inovadoras para estas novas gerações (…)”
Na sua opinião, as empresas na área de hotelaria estão no caminho certo para conseguirem manter talentos ou ainda é preciso mudar mentalidades?
Estamos a percorrer o caminho, penso que tem existido uma progressão. Já vejo muitos grupos hoteleiros e de restauração a modernizarem-se e a oferecerem condições e metodologias de trabalho inovadoras para estas novas gerações e que me deixa muito feliz, por outro lado penso que ainda há muito a fazer também. É um setor que ainda é muito tradicional, foram muitos anos a trabalhar da mesma forma, com muita rigidez, mas acredito que já nos mentalizamos que temos de mudar de alguma forma. Mas ainda há muito caminho por fazer.
De que forma o Grupo Vila Galé se diferencia dos demais, uma vez que diz que se identificou muito com as políticas que aí são praticadas?
Uma das características que mais nos define é a proximidade e o sentimento de pertença que se vive dentro da organização. A administração é muito próxima das pessoas, está diariamente na operação, vai aos hotéis, conhece os funcionários que lá trabalham, as suas vidas e as pessoas valorizam muito essa proximidade. Aliado a isso vem o sentimento de pertença, as pessoas sentem que fazem parte desta empresa, que contribuem para o desenvolvimento e para a expansão da mesma e penso que esta será a melhor característica da Vila Galé. As pessoas não são um número, têm nome e todos os que cá trabalham têm consciência disso.
Depois, a liberdade para partilhar ideias, para inovar, para sugerir novas coisas, de manifestarmos o contentamento ou desagrado em algumas situações e também o facto de as pessoas reconhecerem que os recursos humanos sempre foram uma prioridade da nossa empresa.
Na Vila Galé desde há muitos anos que temos benefícios, desde descontos em alojamento, prémios de produtividade, seguro de saúde, entre outros. Temos eventos de teambuilding, convenções… As pessoas podem sentir que fazem parte da família Vila Galé, aliás esta é uma das palavras que traduz internamente esta empresa.
Apostamos numa formação constante aos nossos colaboradores, e, portanto, eles percebem que há uma aposta contínua e também de progressão de carreiras. Só este ano, e ainda estamos em maio, já progredimos mais de 50 pessoas. Nos últimos anos foram mais de 250 progressões de carreira.
O que significa para si ter recebido o prémio Xénios enquanto “Melhor Gestor de Potencial Humano”? Estava à espera?
Não estava à espera de todo. Para já foi uma surpresa a nomeação, porque eu não sabia que um dos nossos diretores de operações apresentou a minha candidatura e, portanto, só soube quando saíram os nomes dos nomeados. Mas quando soube que estava nomeada então tinha de ser para ganhar. Foi uma surpresa muito agradável, não estava de todo à espera, mas fiquei muito feliz, penso que isto é o reflexo de muito trabalho desenvolvido dentro desta empresa, mas também muita paixão por esta área e é um privilégio para mim ser nomeada nesta categoria, principalmente na empresa onde estou atualmente, é algo que me deixa muito orgulhosa.
Pensa que este prémio lhe pode abrir outro tipo de portas?
Este prémio dá-nos de alguma forma uma notoriedade no setor e quem não me conhecia passou agora a conhecer e isso torna a minha pessoa mais visível a outros grupos e outras pessoas no setor. Eu diria que sim, agora se me pergunta o que é que o futuro me reserva? Eu não faço a mínima ideia, hoje posso dizer-lhe que me sinto muito bem aqui no Vila Galé, amanhã não sei. Aquilo que me prende a esta empresa é a liberdade e eu tive a oportunidade de dizer isso na altura quando recebi o meu prémio, que o facto de trabalhar numa empresa que me permite ter esta liberdade criativa que eu privilegio, ter a liberdade de experimentar, ter a autonomia para exercer as minhas funções e para fazer recursos humanos tal e qual eu os vejo dentro da hotelaria, numa visão mais moderna, humanizada, mais próxima e esta empresa sempre me deu isso. Nunca senti a necessidade de mudar. Enquanto eu tiver a liberdade para exercer as minhas funções da maneira que eu acredito que devo realizá-las, com um propósito que eu acredito, estou bem.