Investigador propõe que rota dos escravos em Angola seja roteiro turístico
Luanda, Massangano, Ambriz e Soyo, seriam os quatro locais a integrar o novo roteiro, proposto pelo investigador Afonso Vita, ligado ao turismo angolano, numa tese de doutoramento defendida na Universidade de Coimbra.
Afonso Vita propõe a reconstituição da história e geografia das rotas dos escravos e a sua transformação em produto turístico em Angola, país que foi uma das principais fontes emissoras entre o século XV e século XIX (quase seis milhões de escravos). Seria, no seu entender, um produto que teria como foco os afrodescendentes no continente americano.
“Trabalho há mais de 30 anos no turismo e, como amante de história e cultura, sentia que havia uma grande oportunidade de desenvolvimento do turismo de Angola se explorarmos a nossa história, o nosso património cultural”, disse à agência Lusa Afonso Vita que, na sua tese, propõe uma rota com quatro locais no norte do país: Luanda, Massangano, Ambriz e Soyo.“Como projeto operacional, não podia abarcar o país todo”, justificou, salientando que cada uma das localidades tem vestígios do comércio de escravos.
No Soyo, encontram-se dois pontos de interesse, Mpinda (onde há um local de batismo dos escravos) e Porto Rico (onde eram concentrados e vendidos para seguir para Mpinda). Em Ambriz, cidade costeira a norte de Luanda, ainda permanece a chamada Casa de Escravos, onde estes eram armazenados e “saíam num túnel até ao local de embarque”, referiu o investigador à agência Lusa.
Já em Massangano, a leste de Luanda, encontra-se “a praça de escravos”, onde estes eram reunidos depois de capturados no interior do país e partiam para Luanda através do rio Kwanza, explicou. A capital angolana afirmava-se já na altura como o principal porto de embarque, sendo também lá que está instalado o Museu da Escravatura.
Vita esclareceu que “Um dos objetivos do projeto passa também por estimular a criação e a construção de novos museus e monumentos para melhor divulgar e promover a nossa história”, sendo que o projeto propõe também a valorização de figuras que lutaram contra a escravatura, como líderes políticos e militares do reino do Congo, ou escravos que assumiram lugar de destaque na luta contra o colonialismo e escravatura no Brasil.
Assinalando que “existe um grande interesse do Governo em ver o turismo cultural valorizado”, o investigador considera “fundamental a implementação do projeto da reconstituição das rotas de escravos em Angola, visto que contribuirá para o resgate, valorização e divulgação da história da escravatura em Angola, reunir os angolanos e a sua diáspora, bem como melhorar as condições de vida das populações locais”.
A rota pretende também dialogar com países que participaram ativamente na exploração da escravatura, como Portugal, França, Espanha ou Inglaterra, assumindo o produto turístico como “terapia para facilitar a aproximação e interação não apenas entre a diáspora africana, mas com todos os cidadãos, sobretudo daqueles países que foram protagonistas de todo o processo”, declarou Afonso Vita à agência Lusa.