Ilha Terceira: Quinta do Espírito Santo onde à mesa “se partilha Humanidade”

Está na família há cerca de 150 anos, mas só em 2011 abriu portas como Turismo de Habitação, integrando as Casas Açorianas. Aqui o hóspede é visita da casa, onde à mesa “se partilha Humanidade”, como confidencia ao Turisver Francisco Maduro-Dias, atual proprietário da Quinta do Espírito Santo, na ilha Terceira, nos Açores.




Antigo diretor do gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo, Património Mundial e do Museu de Angra do Heroísmo, historiador e professor, Francisco Maduro-Dias é um verdadeiro contador de estórias e transporta esse gosto e sabedoria para cada canto da Quinta. A seu lado tem a sua mulher Lucília Maduro-Dias, uma portuense formada em Serviço Social e antiga diretora do estabelecimento prisional de Angra do Heroísmo.
Utilizada como casa de férias na época do verão, quando Francisco ainda era criança, pela temperatura amena que ali se fazia sentir, a Quinta do Espírito Santo faz parte da sua vida desde sempre: “Na altura recordo-me que a Casa Grande, onde hoje habitamos, tinha apenas a cobertura e estava cheia de instrumentos agrícolas e nós ficávamos na Casa Pequena. Em 1980 dá-se o terramoto e muitas coisas ficaram destruídas, curiosamente o que se manteve em pé foi essa casa pequena. Acabámos por nos concentrar todos aqui e eu fui reconstruindo a minha casa e o meu pai ficou aqui até morrer”.
Os anos foram passando e Francisco Maduro-Dias foi prosseguindo com a sua profissão, sempre ligado à História, ao Património Cultural e também ao Turismo. Já perto da idade da reforma e em conversa com a mulher surgiu a ideia de transformar a Quinta do Espírito Santo em Turismo de Habitação. Com algumas poupanças que tinham e com o financiamento do Governo Regional para projetos de Turismo de Habitação acabaram por colocar em prática uma ideia que já vinha a ser pensada desde 2003/2004.
“Em 2011 abrimos em soft opening e o nosso objetivo foi sempre arranjar algo de dentro para fora, ou seja, quisemos arranjar algo com autenticidade, com respeito a quem nos visita, mas também pelo espaço, pela história, pelo lugar, pela vida e pelas coisas que ali colocámos. Um lugar onde conseguíssemos receber pessoas porque gostamos. Não foi um projeto para turista ver, mas sim termos este espaço e disponibilizá-lo a quem quisesse. É uma marca que nos identifica e da qual nos orgulhamos”, ressalva o proprietário.
Inserida numa freguesia rural, em São Bartolomeu dos Regatos, a Quinta do Espírito Santo encontra-se classificada desde 29 de setembro de 2010, como imóvel de interesse municipal, por decisão unânime da Assembleia Municipal de Angra do Heroísmo, dista apenas a 15 minutos da cidade de Angra e a 25 minutos do Aeroporto da Terceira. “Não é um lugar perdido no mato”, como avisa Francisco, ali há a vida própria de um meio rural, “há a igreja que toca o sino e há tratores que passam de manhã para amanhar as terras e regressam à noite, aqui tudo tem o seu ritmo, até a meteorologia [risos]”.
Como se divide a Quinta do Espírito Santo
O Turismo de Habitação reparte-se em três habitações: a Casa Grande (onde habitam os atuais proprietários no andar superior) e que contém dois quartos no piso inferior – o Quarto da Ponte e o Quarto do Terreiro. Ambos contam com uma cama de casal e casa de banho, sendo que a decoração de cada um nos transporta para diferentes épocas da história.


O Quarto da Ponte, inspirado no ambiente das velhas casas senhoriais conta com cavernames de navio com vigas no teto e uma cama de dossel, idêntica às camas que estão no Palácio dos Governadores de Moçambique, na ilha de Moçambique, feita por artesãos de Goa.
Do outro lado temos o Quarto do Terreiro, com mobiliário relacionado com a “época da laranja” do século XVIII e XIX. Todos os quartos contam com pinturas do pai do proprietário, o Mestre Francisco Coelho Maduro Dias, poeta, pintor, escultor, desenhador, professor, cenógrafo e homem do teatro, que ali habitou e recebeu amigos como Vitorino Nemésio (poeta, romancista e cronista) e António Dacosta (pintor, poeta e crítico de arte). Mas é também possível encontrar gravuras e mapas, da extensa coleção de Francisco Maduro-Dias.





A Casa Pequena, uma casa rural tradicional do século XVIII/XIX da ilha, conta com um quarto com cama de casal, a sala de estar, cozinha totalmente equipada e uma casa de banho, esta última construída durante a II Guerra Mundial. É possível a colocação de uma cama extra. Destaque para o pequeno pátio exterior com uma mesa onde é possível tomar as refeições.

E por fim, a Atafona, um antigo moinho movido por animais. Do antigo moinho restam apenas as paredes rústicas, que contém duas camas individuais, que se podem juntar e na pequena sala existe ainda um sofá-cama, podendo assim acolher até três pessoas.
De destacar que no caso de os hóspedes viajarem em família ou grupo de amigos há a possibilidade de ligação entre a Casa Pequena e a Atafona através de uma porta comum na cozinha, que pode ser ou não encerrada.
“O mundo passa à nossa mesa”
O pequeno-almoço está incluído na estadia, é servido na sala de jantar da Casa Grande, entre as 8h e as 10h da manhã, em princípio com a companhia de um dos donos ou dos dois, como nos explica Francisco Maduro-Dias: “Servimos chás e tisanas, café, leite, chocolate, sumo de laranja natural – nós temos laranjeiras na quinta – duas variedades de pão, uma tábua de queijos das ilhas do grupo central e às vezes das Flores, mel (a ilha tem duas ou três corporativas de mel), temos compotas com fruta da quinta e manteiga. A minha mulher é do Porto e, portanto, fizemos uma espécie de acordo, os queijos são das ilhas e os enchidos e presuntos são sempre do Norte”.


E até ao pequeno-almoço há histórias para contar, como recorda o proprietário da Quinta do Espírito Santo: “Por exemplo há turistas que gostam de laranja, mas porque é que insistimos no sumo de laranja natural? Porque esta quinta está ligada ao comércio da laranja, no século XVIII, portanto tem razões ela própria para oferecer aos visitantes”.
“O mundo passa na nossa mesa, às vezes quando temos dois e três casais – nós gostamos muito do turismo familiar, até aos 11 anos as crianças não pagam, porque privilegiamos a família, o grupo pequeno, até porque consigo ser mais simpático e caloroso”, sublinha ainda, acrescentando que são os mercados alemão, francês, belga, italiano e espanhol quem mais os procura.
O não é uma palavra que diz evitar, por isso quando algum visitante tem um pedido especial faz de tudo para o conseguir: “O caso mais curioso que aqui tive foi o de um casal brasileiro, que o senhor adorava acordeão e trouxe consigo um pequeno na viagem. Quando aqui chegou falou-nos do seu amor por este instrumento. Como eu conhecia algumas pessoas que fazem parte do grupo de folclore liguei-lhes, mas não usavam o acordeão no seu grupo, mas indicaram-me um bombeiro que tocava nas horas vagas. Telefonei e ele veio tocar com o hóspede durante duas horas. Foi uma tarde bem passada”.
E se os hóspedes pretenderem dar alguns passeios pela ilha ou observar cetáceos, Francisco pode sugerir algumas empresas que partilham da sua visão de bem receber.
Contactos:
Quinta do Espírito Santo
Rua Dr. Teotónio Machado Pires 36
9700-517 São Bartolomeu dos Regatos
Angra do Heroísmo – Açores / Portugal
E-mail: geral@verdes-fragmentos.pt
Telemóvel: (+351) 962 922 938
Telefone: (+351) 295 332 373
Preços: Casa Grande – Quarto da Ponte e Quarto do Terreiro a partir de 60€/noite
Casa Pequena – a partir de 90€/noite
Atafona – a partir de 60€/noite