Ilha do Sal – Parte II – Entre mornas, grogue… e tubarões

Na segunda parte da reportagem sobre a ilha do Sal, onde o Turisver se deslocou, em finais de Novembro, integrado numa fam trip do operador turístico Solférias, falamos de um “outro lado” da ilha, mais relacionado com o turismo ativo e de aventura, mas também da gastronomia, da música e dos quentes ritmos cabo-verdianos.
Por Fernando Borges
Brinda-se com grogue e animam-se conversas encostadas a uma parede, numa esplanada ou na areia de uma praia. Há sempre uma brisa que tanto pode soprar do deserto como do mar e que parece bailar ao ritmo de uma morna ou de um funaná. É a Ilha do Sal na sua essência.
No Sal há sempre mais uma noite que chega para animar as ruas (da Vila de Santa Maria) e os bares com mornas, coladeiras, funanás e tabankas, num permanente desafio a que corpos se toquem num quase erótico gingar, ou em animadas conversas numa esplanada à volta de uma “Strela Kriola”, a cerveja cabo-verdiana, de mais um cálice de grogue ou de um ponche, uma bebida destas ilhas que junta uma dose de aguardente de cana com mel de cana-de-açúcar, a mais tradicional, ou com tamarindo, cabaceira, manga, goiaba, maracujá, ananás ou coco. E a noite segue…


São noites que se escrevem ao som de música ao vivo em cada esquina ecoando nas paredes onde padrões cromáticos bem vivos se misturam de uma forma que ao primeiro olhar pode parecer ter pouca lógica mas que acaba por se mostrar insuspeita, para não dizer numa combinação perfeita, onde se aprende como os cabo-verdianos se divertem para depois os imitar, seja na rua, numa pequena praça, na praia logo ali, na discoteca Pirata, no Buddys ou no tão afamado Calemba, esse lugar onde dizem que de A a Z tudo pode acontecer.
E quando damos por isso já é madrugada e o sol regressa para mais um dia de descobertas desta ilha que Toya Cabral, uma cabo-verdiana nascida numa outra ilha do arquipélago, em Santiago, descreve como “uma ilha de pequena dimensão mas de grande coração”, onde “melhor se sente esse sentir que se chama “morabeza” e o “No Stress”, uma realidade que rapidamente se descobre e nos invade.
Caminhando com tubarões
A mesma Toya, a guia me levou à descoberta de muitos recantos e segredos do Sal, que me confidenciou que esta é terra onde é “proibido proibir”, exceto ter pressa.


E foi sem pressa que se começou um novo dia de experiências, seguindo por terrenos arenosos num roteiro que se afasta do asfalto, tornando-o mais especial, e que tem como um dos principais destinos a praia de Kite Beach, onde se instalou a base de um projeto de preservação de tartarugas marinhas.
Uma praia que se tornou numa verdadeira “Meca” do kitesurf mundial por ser perfeita para prática deste desporto e por ser o “berço” de campeões do mundo da modalidade, como o cabo-verdiano Mitu Monteiro que aqui montou uma escola que mais parece uma “fábrica” de campeões, juntando “voadores sobre ondas” de todos os continentes.


Logo ali ao lado, na Baía da Parda, há um outro lugar que apela à coragem, pois andam por ali barbatanas de tubarão-limão passeando-se para lá da zona de rebentação, enquanto os filhotes, já com alguns dentes, aventuram-se em zonas mais baixas nadando por entre as pernas de banhistas que se aventuram nestas águas.
E depois de tudo… fica a “Sodade!”
Sem dúvida que a ilha do Sal é bem mais do que praias e resorts. É também um mundo de experiências, emoções e sensações, como “voar” desde o topo da Serra Negra em zipline, uma descida de mais de 1000 metros pendurados sobre terra e mar num cabo, ou a que nos é proporcionado na Pedra de Lume, uma salina no interior da cratera de um vulcão que se tornou numa piscina intensamente saturada de sal onde, a exemplo do que acontece no Mar Morto, podemos tranquilamente ler um jornal ou uma revista enquanto quase que forçosamente boiamos.


Mas há ainda essa experiência que é deliciarmo-nos com os sabores da gastronomia de Cabo Verde, com a cachupa a ser a rainha da culinária destas ilhas, com a “djagacida”, um prato crioulo feito à base de farinha de milho, carne, feijão, couve, abóbora, mandioca e manteiga, com a moreia frita ou com a feijoada cabo-verdiana, pratos que têm um sabor mais genuíno no restaurante Alto Solarinho, quase que perdido no centro da ilha.
Claro que é obrigatório “mergulhar” nos pratos confecionados à base de peixe e de frutos do mar, como o xérem de marisco ou a lagosta com mancarra (amendoim),especialidades do restaurante Lobster, em Santa Maria, e do “O Ninho dos Piratas”, na Baía da Murdeira, um restaurante sobre a praia e os olhos virados para o Monte Leão, desta vez a partir de terra.



E há ainda o tempo que nos espera para estendermos o corpo numa espreguiçadeira sobre as areias brancas da praia, para nos sentarmos num banco de um bar de piscina de um resort enquanto apreciamos uma bebida fresca, ou simplesmente para ficarmos a olhar à nossa volta e sentir mais uma vez a essência dessa tal “morabeza”, essa palavra sem tradução mas cheia de sentimentos.
E o que trazemos dessa viagem à Ilha do Sal? Tudo que esteja ligado aos prazeres da vida. Mas principalmente o sentir de uma outra palavra que Cesária Évora imortalizou: Sodade!…



Leia aqui a primeira parte da reportagem sobre a fam trip da Solférias à ilha do Sal.
O Turisver esteve de visita à ilha do Sal a convite da Solférias