Hotéis Dom Pedro a três velocidades em função da sua geografia
A recuperação do turismo está aí mas o ritmo não é igual em todo o país. Em conversa com o Turisver, Pedro Ribeiro, diretor comercial da Dom Pedro Hotels & Golf Collection, com hotéis no Algarve, Lisboa e Madeira, fala mesmo numa recuperação a três velocidades.
Como é que está a situação dos hotéis da Dom Pedro nesta fase, dita de endemia?
Nós podemos dizer que estamos a três velocidades, o que tem a ver com as três regiões onde estamos implantados. Estamos com uma velocidade muito acelerada no Algarve, onde os nossos números já estão ao nível de 2019, até mesmo um pouco superiores em termos de RevPar. Na Madeira estamos, por assim dizer, a uma velocidade média, já que a recuperação não está neste momento ao nível do que aconteceu em setembro a novembro de 2021.
O facto de para nós a recuperação na Madeira estar agora a fazer-se a um ritmo um pouco mais lento tem também a ver com o facto de neste destino trabalharmos muito com mercados emergentes, como é o caso do mercado ucraniano que estava com três voos semanais para a Madeira e que foi muito importante para nós na recuperação que tivemos em setembro e outubro do ano passado. Trabalhamos também muito com o mercado polaco, que é o nosso primeiro mercado na Madeira, e que está agora com muitas oscilações. Os mercados lituano e romeno também estavam a ser muito importantes e também estes podem ter algumas oscilações por causa da guerra na Ucrânia. Depois temos outros mercados, como o francês, o alemão e o inglês. A combinação dos dois tipos de mercados faz com que estejamos com a velocidade média que referi.
A terceira situação é a de Lisboa, onde a recuperação se está a fazer a um ritmo bastante mais lento, embora já com alguns sinais positivos. Neste momento já temos um grupo de MICE, marcado para os próximos dias 15 e 16, que nos vai ocupar todo o hotel. Estamos a ter alguma consistência ao nível dos grupos de MICE, o que é um segmento muito importante para nós e que poderá dar a recuperação ao hotel até ao final do ano. Em termos de MICE, o número de pedidos diários está, neste momento, em cerca de 80% do que era antes da pandemia, as confirmações ainda estão abaixo, mas como se sabe, no MICE aparece de repente algumas surpresas, como o grupo americano que nos vai ocupar 250 quartos e foi confirmado apenas com três semanas de antecedência, o que antes era impensável.
Os grupos de lazer também estão a começar a ter alguma concretização, principalmente no que toca aos mercados brasileiro e americano. Os mercados asiáticos é que estão completamente parados e eram os nossos principais mercados em termos de lazer. Temos uma operação nova de lazer do mercado alemão que também tem estado a trabalhar bastante bem e algumas coisas com o mercado grego, em Julho e agosto. No segmento dos individuais, o mercado brasileiro está a reservar, o mercado nacional também.
Ou seja, no que toca a Lisboa, estamos a entrar numa fase de algum dinamismo mas ainda estamos com números muito abaixo do que seria desejável.
Turismo interno foi determinante para os nossos hotéis do Algarve
Conseguiram proteger o Algarve, nos dois últimos anos, com o turismo interno?
Conseguimos, principalmente os períodos de verão, entre julho e setembro, podemos considerar que foram bastante positivos com o turismo nacional. Mesmo em 2020 conseguimos ocupações interessantes e em 2021 os meses de julho a novembro correram muito bem, aliás, os meses de setembro, outubro e novembro foram melhores do que em 2019.
Neste momento, estamos a assistir a uma recuperação muito forte do segmento de golfe.
Com um primeiro semestre tão bom no Algarve, é possível que terminem o ano com números muito parecidos aos de 2019?
Neste momento existe mesmo uma franca possibilidade de fecharmos 2022 com resultados acima de 2019.
Já conseguiram resolver a situação dos recursos humanos que é comum a todo o setor?
Não. Essa é uma situação que está bastante complicada. Temos feito alguma deslocalização dos nossos recursos humanos entre Lisboa e o Algarve porque como Lisboa tem demorado mais a ativar temos levado empregados para o Algarve. Este ano não sabemos o que vai acontecer até porque a equipa de Lisboa foi reduzindo pouco a pouco, não por iniciativa nossa mas por si mesmo e podemos chegar à época alta do Algarve e não poder contar com a equipa de Lisboa, até mesmo pelas necessidades que esperamos que o nosso hotel de Lisboa venha a ter.
Penso que a solução vai passar em muito pela importação de mão de obra, não estou a ver outra saída. Tem que haver, por parte das entidades oficiais, uma flexibilização das regras de imigração, porque estamos muito carenciados e não conseguimos que o mercado interno responda.
O Turismo de Portugal foi mantendo uma presença importante nos mercados
Tudo o que se poderia ter feito pelas empresas hoteleiras neste período, nomeadamente em termos de promoção, foi feito?
A promoção parou porque os fluxos pararam, mas penso que o Turismo de Portugal foi mantendo uma presença importante, em termos de comunicação, tanto junto do mercado nacional, quando não havia outros, como dos mercados internacionais quando se abriam algumas janelas e se pensava que ia acontecer a retoma. Acho que não haveria mais que se pudesse fazer.
Falando dos eventos, há vários fundos de apoio, alguns mecanismos para a sua captação mas seria importante que existissem eventos âncora, criados em Portugal ou captados. Esse é um trabalho que tem que ser feito porque é muito importante que existam conteúdos já que são eles que trazem negócio. E os conteúdos são transversais, desde o futebol à música e ao entretenimento, passando pelos congressos e conferências. Tudo isto somado é que traz dinâmica e ocupação à cidade.