Hélder Martins não acredita que o Tudo Incluído vá alastrar no Algarve
Com as perspetivas para a Páscoa e para o verão a serem positivas, a grande preocupação dos hoteleiros algarvios tem este ano a ver com a água, muito embora os recursos humanos continuem a preocupar. Isso mesmo disse ao Turisver Hélder Martins, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
Como é que começou o ano turístico no Algarve?
O ano começou dentro daquilo que é normal para a época mais baixa do ano, em Janeiro não há golfe, pelo que há um conjunto de situações que não são favoráveis no início dos anos, mas está a recuperar, estamos a começar a crescer. A previsão para a Páscoa é boa, as condições meteorológicas irão dizer se será ainda melhor que nos outros anos ou não mas andaremos nos 80% o que é uma perspetiva simpática e as previsões para o verão são boas, tendo em conta as reservas entradas, ou seja, temos uma expectativa muito positiva para este ano.
Isso significa que algum nervosismo que existe por parte de alguns hoteleiros do Algarve, um pouco à semelhança do que aconteceu o ano passado, não se justifica?
Não diria isso, temos que ser confiantes, mas às vezes nós próprios cometemos alguns erros de gestão que depois podemos vir a pagar caro. O ano passado, por exemplo, houve quem aumentasse muito os preços e depois, em cima da hora, tinham que fazer promoções e isso é mau, mas este ano creio que isso não vai acontecer, estamos sólidos.
O nervosismo que existe por parte de alguns hoteleiros do Algarve tem a ver com aquilo que são os fatores externos. Até ao ano passado o fator de mais nos preocupava chamava-se recursos humanos e neste momento embora se continue a chamar recursos humanos, chama-se também, essencialmente, água. Quando estamos a desenvolver uma atividade e por fatores externos essa atividade, que está em crescendo e é o grande motor da economia, pode ter uma derrapagem porque não temos água, temos que chamar a atenção das entidades responsáveis a dizer que durante os últimos 20 anos não fizeram o trabalho de casa e que se nós formos penalizados toda a região e todo o país pagarão essa fatura.
Operadores internacionais entendem o problema e as soluções para a falta de água no Algarve
O mercado nacional conhece bem a realidade porque as televisões têm transmitido. E os mercados externos? Os operadores estão sensibilizados?
Para isso todo setor do turismo, em conjunto, tem trabalhado muitas horas, muitos dias, na criação do selo de eficiência hídrica ‘Save Water’ que pretende ser um instrumento de marketing que diga que aquela unidade é sustentável e que está a fazer o trabalho de casa na poupança deste recurso ao importante.
A garantia que há das entidades que gerem a água é que até ao final do ano teremos água mas a nossa pergunta é “e para o ano?”. Todas as medidas que estão em cima da mesa são medidas que demoram anos e daí o nosso nervosismo mas quer o mercado nacional como o mercado internacional têm a noção disso e quando nós –a experiência aconteceu o ano passado – tentamos sensibilizar um cliente para situação como a de não precisar de mudar a toalha todos os dias, a reação é extremamente positiva. O ano passado foi positiva e este ano também está a ser.
Vamos ter que reduzir áreas de rega nos relvados, vamos ter que reduzir as áreas relvadas e estamos a fazer esse trabalho mas imagine o que é um hotel, de um momento para o outro, precisar de comprar 1.200 chuveiros… tudo isto são novidades para nós mas o turismo é uma atividade resiliente que sabe enfrentar as dificuldades, como já demonstrou.
Não há operadores estrangeiros a questionar-vos já sobre como é que vai ser…?
Há operadores a perguntar mas perante a resposta que é dada e a perceção de que se trata de um trabalho conjunto e que toda a gente está sensível para essa matéria, creio que os operadores tendem que ficar descansados, aliás até à data, não houve nenhum operador que demonstrasse um grande receio nesta matéria.
Os preços vão aumentar ou vão-se manter?
Os preços aumentaram na casa dos 5% ou 6% o que foi um aumento normal nos nossos fornecedores. Tivemos avisos dessa ordem de grandeza da parte de todas as empresas a que compramos serviços e produtos. Evidentemente, isto é a lei da oferta e da procura consoante o produto que as pessoas têm, há unidades que fizeram, e estão a fazer, investimentos muito grandes durante o período da época baixa, para requalificar o seu produto e claro que isso se traduz no preço mas não creio que tenha havido um aumento desgarrado de preços.
O Tudo Incluído vai alastrar ou Algarve?
Creio que não. Há algumas unidades que têm clientes específicos do Tudo Incluído e mantêm-no porque há procura mas não creio que vá alastrar até porque se a região se virasse em força para o Tudo Incluído seria mau para as outras atividades. O turismo é não só uma atividade geradora de riqueza mas também é distribuidora e se as pessoas tiverem tudo dentro do hotel não vão comprar fora e o cliente que vai para o Algarve está habituado a dormir no hotel e a ir a um restaurante, a um bar… O que tem que haver é qualidade no Tudo Incluído. Há clientes que preferem este regime porque vem em família, com crianças, mas esse Tudo Incluído tem que ser um produto de qualidade e unidades que oferecem esse produto e o cliente está satisfeito com ele mas não estou a ver que vá proliferar.
As últimas eleições, por não serem autárquicas, não têm implicações aso nível das estruturas turísticas do Algarve?
Não porque as estruturas turísticas do Algarve têm um calendário próprio. Têm implicações ao nível do Governo e nós tivemos a oportunidade de trabalhar com todos os partidos no período pré-eleitoral, apresentámos as nossas preocupações, houve uma grande sensibilidade do outro lado e esperamos agora que quando o Governo começar em funções essas preocupações tenham eco na realidade.