Hélder Martins: “Até à data estou convencido que vamos superar os resultados de 2019”
Neste verão o turismo no Algarve está bem e recomenda-se, com os números a ultrapassarem, pela primeira vez, em julho, os de 2019, como afirmou ao Turisver o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Hélder Martins. Durante a conversa quisemos saber como é que os empresários estão a ultrapassar problemas como o dos recursos humanos e quais as perspetivas para a época baixa, entre outros temas.
Neste início de agosto, o turismo no Algarve está dentro do perspetivado ou está acima?
Neste momento já está acima. Posso dizer, em primeira mão, que no mês de julho ficámos 1% acima de 2019, ou seja, pela primeira vez, conseguimos ultrapassar os números de 2019, que é o ano de referência, o que tem um significado psicológico muito importante.
Quanto a agosto, pelos indicadores que temos, acredito que iremos ainda aumentar o crescimento comparativamente a 2019 – e 1%, que foi o que crescemos em junho, é bastante significativo porque a base tem valores muito altos.
A verdade é que o Algarve está cheio, as coisas estão a correr bem, o tempo está bom, pelo que até à data estou convencido que vamos superar os resultados de 2019.
Não se está, em pleno mês de agosto, a falar demasiado dos problemas na água no Algarve?
Não, porque os problemas da água existem, são uma realidade e não podemos “tapar o sol com uma peneira”. A informação que temos é que á água para consumo humano não vai faltar até outubro do próximo ano, embora esteja a haver algumas restrições mas no que toca à agricultura e aos campos de golfe. Nós estamos a cortar nas regas, estamos a poupar onde nos é possível poupar, mas a água é um tema premente, que está em cima da mesa e se não chover no outono-inverno vai ser muito complicado.
Fidelizar as pessoas é um trabalho que vamos ter que fazer ”
A chamada “crise de mão de obra” está a fazer-se sentir ou, apesar da quantidade de turistas, estão a conseguir contorná-la?
Está a fazer-se sentir, tanto que não há restaurante nem hotel e outros espaços que não tenham um anúncio a dizer que precisam de pessoal. Estamos a adaptar-nos o melhor que podemos, procuramos servir o melhor que conseguimos mas isso não afasta o problema e a partir de outubro, quando o turismo acalmar, vamos ter que pensar muito a sério naquilo que queremos fazer.
Como sabe, há algumas medidas que estão a ser tomadas, como a nova lei dos estrangeiros e há alguma intenção de ir buscar mão de obra aos PALOP. Ao nível da grande dificuldade que são os registos, creio que foram dados alguns passos para conseguirmos recomeçar porque a realidade é que, neste momento, o Algarve vive uma situação de pleno emprego e aqueles que estão inscritos no desemprego é porque não querem trabalhar ou não podem.
Comenta-se que alguns hotéis estão a contratar pessoas e a colocá-las no quadro, não havendo a questão dos contratos por quatro ou por seis meses, uma vez que mutos hotéis que não fecham na época baixa querem garantir uma equipa mínima.
Nós temos que, cada vez mais, de tentar fidelizar as pessoas é um trabalho que vamos ter que fazer na época baixa é analisar o modo como podemos fixar as pessoas no turismo porque elas, durante a pandemia, afastaram-se um bocado. Uma das questões passa exatamente por isso, por dar condições de estabilidade e também há alguns incentivos para isso. Temos que agarrar a mão de obra que temos e temos que criar equipas para podermos responder à procura, pelo que não me admira que isso esteja a acontecer.
Um dado positivo é que não há más notícias sobre o aeroporto e que a esse nível as coisas estão a correr bem?
Desde o início, todos os players que estão envolvidos – e eu tenho mantido uma relação muito próxima com o diretor do aeroporto – têm dado uma resposta adequada e eficaz e, salvo questões muito pontuais, as medidas que têm vindo a ser tomadas têm dado frutos positivos. O facto de todos os players estarem em sintonia tem sido fundamental para que as coisas estejam a correr bem.
“Não vale a pena esconder: os preços já aumentaram porque tudo aumentou e a energia é só um exemplo, todos os produtos que compramos para prestarmos qualquer serviço que seja aumentaram de preço, alguns mesmo brutalmente”
Uma das contrariedades é o aumento dos custos da energia. Os hotéis podem não vir a apresentar resultados tão bons como os esperados face à procura por causa de não conseguirem fazer refletir estes aumentos no cliente final?
Sem dúvida alguma. Nós vamos chegar ao final do ano com uma faturação muito superior à de 2019 mas com um resultado inferior porque vamos ter que absorver todos os custos.
Deixe-me dizer-lhe que ainda hoje assisti a uma reportagem de uma televisão que entrevistava turistas portugueses, aos quais fazia perguntas sobre a inflação, os aumentos de custos, etc. e o que todos diziam era que “aumenta aqui e aumenta em todo o lado, o que importa é a qualidade do serviço vs. o preço” e, portanto, não havia uma reação muito negativa por parte das pessoas relativamente aos aumentos, aliás, os restaurantes estão cheios, os hotéis estão cheios e os preços já aumentaram. Não vale a pena esconder: os preços já aumentaram porque tudo aumentou e a energia é só um exemplo, todos os produtos que compramos para prestarmos qualquer serviço que seja aumentaram de preço, alguns mesmo brutalmente.
A época baixa é sempre uma dor de cabeça para todos. Ontem foi anunciado que o MotoGP vai ter a prova de abertura no Algarve e também se começa a comentar que a época de golfe vai ser boa. É essa a perspetiva?
Exatamente. Como é conhecido, até 2019 a sazonalidade, que é o grande “calcanhar de Aquiles” do turismo, estava a reduzir-se ano após ano. A época de golfe o ano passado foi fantástica e esperamos que também o seja este ano, os congressos também são uma ajuda extraordinária e se o tempo ajudar acreditamos que este ritmo contínuo de procura do Algarve por parte dos principais mercados europeus também se poderá refletir nas épocas média e baixa.
Claro que há sempre um período que é mais crítico para nós, como os meses de novembro e Janeiro e ainda não conseguimos encontrar uma forma de contornar essa situação.
Neste momento estamos a trabalhar no sentido de aproveitarmos a época baixa para termos um plano de formação aberto a todos os que queiram integrá-lo, não só os empregados mas também as entidades patronais. Temos que melhorar o serviço temos que melhorar o destino e a AHETA está a estabelecer um conjunto de parcerias com várias entidades para poder ter, a partir de outubro, formação profissional em todas as áreas em que ela seja necessária porque o destino só pode concorrer com outros pela qualidade porque pela quantidade perdemos, por isso esta é a nossa grande aposta para o período do pós-verão.