Grupo Óasis Atlântico está em três países e já tem “todos os hotéis abertos” revelou Alexandre Abade

Brasil, Cabo Verde e Marrocos, são os destinos onde o Grupo Oásis Atlântico detém unidades hoteleiras. Três países e três realidades diversas até no modo como foram afetados pela pandemia. Num momento de retoma do turismo, o Turisver falou com Alexandre Abade, CEO do Grupo e, nesta primeira parte da entrevista quisemos saber como está a correr a operação hoteleira naqueles países.
Neste momento, o Grupo Oásis Atlântico já tem todos os seus hotéis abertos em Cabo Verde, Brasil e Marrocos?
Os nossos hotéis já estão todos abertos, aliás começámos a abri-los em agosto de 2020, logo após a primeira vaga da pandemia e fomos fazendo aberturas, de forma progressiva, até outubro. Marrocos foi um caso diferente porque é uma operação essencialmente de verão e encerra durante alguns meses no inverno.
Marrocos foi onde as restrições foram impostas durante mais tempos, o que terá dificultado a ida de turistas?
No caso de Marrocos, durante os verãos de 2020 e 2021, os hotéis acabaram por funcionar essencialmente com o mercado interno marroquino que felizmente é um mercado grande e deu para termos alguma procura mas, evidentemente, longe do que é normal. Devido às restrições que foram impostas até muito tarde, só agora é que estamos a começar a funcionar com os mercados internacionais.
Os operadores portugueses queixam-se de não terem conseguido fazer vendas antecipadas para Marrocos, nomeadamente para Saidia, onde estão os vossos hotéis…
É verdade mas mesmo assim, as vendas do mercado português para Saidia estão a correr bem. Nós temos uma situação particular porque como abrimos pela primeira vez no verão de 2019, não tivemos ainda a oportunidade de fazer um trabalho de fundo, de dar a conhecer o nosso produto e aquilo que temos para oferecer porque este é um trabalho que normalmente dura dois a três anos até conseguirmos estar bem implantados no mercado. Nesse sentido temos um trabalho grande a fazer que foi dificultado por todas as restrições de acesso ao mercado porque não foi possível convidar agentes de viagens para irem conhecer o produto, entre outras ações que, em circunstâncias normais, já teríamos feito.
Saidia, para além do mercado interno e do mercado português, já tem turistas de outras nacionalidades?
Saidia já tem a tradição de ter algum turismo de outros mercados, nomeadamente do leste da Europa, de Espanha e um pouco de França mas é um destino que precisa ainda de um trabalho de fundo em termos de promoção porque as infraestruturas estão lá, é um destino bem estruturado e bem organizado mas falta promoção. Quando entrámos íamos fazer esse trabalho mas acabou por ficar tudo congelado e agora vamos ter que recomeçar.
A oferta de Saidia é diferente do resto da oferta de Marrocos, é uma oferta mediterrânica, o que acaba por ser uma vantagem que se associa a outra que é o facto de o voo ser muito mais curto e por isso o custo é menor no que toca à componente do avião.
Agora vamos recomeçar com a promoção dos nossos hotéis e a ideia é de conseguirmos divulgar melhor a nossa marca, como acontece com os nossos hotéis de Cabo Verde.
Quase todos os mercados estão de regresso a Cabo Verde
No Brasil, nomeadamente no Ceará que é onde têm os vossos dois hotéis também se funciona muito com o turismo interno. Como e que têm corrido as coisas?
O facto de o Brasil ter também um mercado interno com muito peso, ajudou e desde o verão de 2020 que notámos uma retoma rápida e consistente, apesar de a operação ter sido um bocado incerta até ao verão de 2021. Desde então a procura tem vindo a subir, a requalificação da orla marítima da cidade de Fortaleza em frente aos nossos hotéis, que já está concluída, também ajudou a que isso acontecesse. Essa requalificação valorizou muito a cidade e por inerência valorizou também os hotéis e desde o verão de 2021 que sentimos uma subida consistente da procura e da taxa de ocupação e sem as quebras que eram habituais em termos de sazonalidade. Tal como aconteceu na Europa, o período de pandemia levou a que as pessoas não viajassem e de repente deu-se um aumento muito grande da procura, pelo que a operação está a correr muito bem este ano, e já o segundo semestre do ano passado tinha sido muito bom.
Também se nota algum regresso do mercado internacional mas ainda pouco. Antes da pandemia estava a haver uma procura crescente de alguns mercados internacionais para a costa do Ceará, não exatamente para os nossos hotéis em Fortaleza mas para alguns resorts ao longo da costa, mas a pandemia colocou um travão e agora a retoma é lenta.
Perspetivas de novos investimentos para o Brasil têm alguma?
Neste momento ainda não, houve muita volatilidade na moeda ao longo dos últimos anos, houve muita conflitualidade política, problemas económicos, portanto o que pretendemos neste momento é consolidar as operações em todos os destinos onde estamos, incluindo o Brasil.
Cabo Verde também passou por problemas mas dá um pouco a sensação que o mercado português nunca abandonou Cabo Verde por completo. Foi assim?
Com o início da pandemia, Cabo Verde fechou-se em abril de 2020 e o país manteve-se de fronteiras fechadas durante um longo período para controlar a pandemia e isso a abrangeu a época de verão, ou seja, não houve verão de 2020 e uma vez que não há mercado interno, também não houve a possibilidade de colmatar a falta do turismo externo, pelo que praticamente não houve atividade. No entanto, a boa política de Cabo Verde na gestão da pandemia e a elevada taxa de vacinação que procuraram implementar desde a primeira hora – em África, Cabo Verde foi durante muito tempo um dos três países com maior taxa de vacinação, acima de países do norte de África que são muito mais poderosos economicamente – criou uma vantagem competitiva sobre outros destinos, para o final de 2020 e para o ano de 2021 porque quando as viagens internacionais foram retomadas, as pessoas procuraram ir para destinos onde a pandemia estivesse controlada e onde conseguissem ter uma experiencia de férias o mais aproximada possível do que tinham antes e Cabo Verde conseguia cumprir esses dois objetivos. Por isso, no verão de 2021 começamos a sentir um regresso muito forte do mercado português em particular, o que foi muito importante para colocarmos de novo a “roda a girar”.
Ao inicio havia sempre um certo receio sobre o que se ia encontrar nos destinos mas quando os turistas vão e regressam a dizer que está tudo normalizado, que há condições de segurança, a experiencia é a mesma, a praia continua a ser ótima apesar de haver menos gente, começa a haver um efeito de “passa-a-palavra” que foi muito importante e a partir do verão de 2021 notámos um forte regresso da procura turística, em particular de Portugal, para o que nós também contribuímos porque tentámos motivar os operadores turísticos e os agentes de viagens para venderem Cabo Verde com segurança.
Este ano, notamos que, além do mercado português, quase todos os outros mercados estão de regresso e com muita força, aliás, Cabo Verde também está a beneficiar deste “boom” turístico.
Cabo Verde tinha muitas vezes invernos superiores ao verão com os mercados do norte da Europa. Esses mercados também já regressaram?
Regressaram. No inverno já tivemos volumes de procura e de ocupação bastante interessantes, com o regresso dos mercados do centro e norte da Europa. Não se atingiram os níveis pré-pandemia mas foram fluxos interessantes e agora, se não houver nenhuma disrupção no mundo devido à guerra, pendo que o próximo inverno já será bastante forte em Cabo Verde, já mesmo em níveis pré-pandemia.
“ … neste momento já sentimos que há um desafio no horizonte para conseguirmos a mão de obra qualificada de que necessitamos, porque à medida que o turismo aumenta e que a procura aumenta há mais hotéis a abrir”
O Grupo Oásis Atlântico tem hotéis em várias ilhas. Sentem-se ainda desequilíbrios entre as ilhas em termos de ocupação?
As diferentes ilhas onde nós estamos têm perfis de procura diferentes. O sol tem o produto sol e mar mais tradicional enquanto as outras ilhas têm mais aquele tipo de turistas que quer fazer circuitos entre as ilhas e o que vão em negócios. Sentimos que no Sal a retoma está a ser forte mas as outras ilhas, com um perfil diferente, também recuperaram rapidamente e de alguma maneira a recuperação até foi mais rápida do que imaginávamos, face ao perfil porque uma coisa é a viagem ponto a ponto em que vamos para um determinado destino e ali ficamos, outra coisa é fazer interilhas, mas genericamente também este tipo de procura está com uma boa retoma e todas as operações estão a correr bem.
Ilhas como o Sal e a Boavista tinham pleno emprego antes da pandemia, depois as pessoas regressaram às ilhas de onde eram naturais. Hoje como é que está a mão de obra e a qualificação das pessoas?
Esse fenómeno realmente aconteceu mas neste momento já sentimos que há um desafio no horizonte para conseguirmos a mão de obra qualificada de que necessitamos, porque à medida que o turismo aumenta e que a procura aumenta há mais hotéis a abrir além de que há hotéis que já estão abertos mas que provavelmente ainda não estão na sua operação plena. Dentro de alguns meses, quando vierem a estar todos em plena operação vai criar-se uma pressão ao nível da mão de obra que vai ser um desafio para os hoteleiros.
Até porque há também o aliciante de empresas portuguesas estarem a recrutar em Cabo Verde…
Esse é outro desafio que vamos ter que enfrentar nos próximos meses. O mundo é muito global e quando há falta de mão de obra num determinado local, isso cria pressão noutros locais e no caso de Portugal e de Cabo Verde isso é muito evidente. Neste momento, estamos a tentar perceber como é que poderemos fazer face a essa situação.
Na segunda parte da entrevista com Alexandre Abade, CEO do Grupo Oásis Atlântico, poderá ler, entre outros temas:
- Tarrafal Alfândega Suites, novo hotel do Grupo na ilha de Santiago e perspetivas de novos investimentos
- Mais-valias do Tarrafal como destino
- Complementaridade entre os dois hotéis do Grupo em Santiago
- Ilha de São Vicente
- Transporte aéreo entre Portugal e Cabo Verde e inter-ilhas