Gilberto Vieira: Casas Açorianas têm de continuar a “debater e cimentar ideias para continuar a afirmação do turismo rural”

De 13 a 16 de fevereiro, a ilha de São Jorge foi palco do Encontro Anual das Casas Açorianas – Associação de Turismo em Espaço Rural, este ano sob o lema “Não Perca o Rumo” – um tema que serviu para chamar a atenção para a necessidade de os Açores manterem a aposta num turismo sustentável, que preserve a identidade da região, conforme foi sublinhado na sessão de abertura.
Começando por afirmar que o Encontro Anual das Casas Açorianas tem sempre em vista “debater e cimentar ideias para continuar a afirmação do turismo rural nos Açores, como peça-chave da nossa oferta, já de si, diferenciada”, Gilberto Vieira, presidente da Associação de Turismo em Espaço Rural, recordou os primórdios desta entidade que juntou “os pioneiros do turismo rural e de natureza nos Açores” e a sua evolução, constituindo-se como uma Associação de referência no turismo dos Açores.
“Falando em causa própria, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que, na forma e no conteúdo, com altos e baixos como é natural, construímos uma associação, que é referência, hoje, no panorama da atividade turística nos Açores, um reconhecimento que é público e notório, sendo até distinguido com galardões regionais, nacionais e internacionais”.
Para o responsável, a longevidade da Associação significa que “até agora mantivemos um rumo” traçado há cerca de duas décadas. A propósito, e justificando o tema escolhido para este Encontro, recordou que “Há cerca de duas dezenas de anos estivemos reunidos neste mesmo espaço, a debater o tema Turismo nos Açores – que rumo? Hoje, passadas tantas experiências, tanta aquisição de conhecimentos, tanta vontade de consolidar o turismo rural na Região como parceiro principal, vimos aqui propor uma discussão subordinada ao tema “Não perca o Rumo”.
“Nós não estamos já na fase de dizer que não a ninguém, todos são bem-vindos, mas estamos na fase de sabermos bem qual é o rumo que queremos. Há que definir o rumo da estratégia do turismo dos Açores, de um turismo que se quer sustentável, de um turismo que se quer que deixe valor acrescentado nos territórios por onde passa” – Luís Silveira, presidente da Câmara de Velas

Foi também do rumo do turismo nos Açores que falou o presidente da Câmara das Velas, Luís Silveira, que na sessão de abertura falou da importância do turismo para o país, para a região e para a ilha de São Jorge, afirmando que é essa importância que leva o município das Velas a acarinhar a atividade turística, sem no entanto perder o foco na identidade e na sustentabilidade, pelo que, afirmou, há que começar a “selecionar o turismo que nós queremos”.
“Nós não estamos já na fase de dizer que não a ninguém, todos são bem-vindos, mas estamos na fase de sabermos bem qual é o rumo que queremos. Há que definir o rumo da estratégia do turismo dos Açores, de um turismo que se quer sustentável, de um turismo que se quer que deixe valor acrescentado nos territórios por onde passa” e de “assegurar que quem vive nas ilhas continua a querer receber turistas”, afirmou, sublinhando que “não queremos turismo de massas, queremos um turismo sustentável, que deixe menos pegada ambiental, mais valor acrescentado e que as pessoas que recebem os turistas nos territórios os vejam como uma mais-valia”.

Também o presidente da Câmara da Calheta, Décio Pereira, defendeu que é preciso assegurar a identidade da ilha e ter mais rigor na sua divulgação. “Penso que o grande ponto de reflexão que temos de ter para o futuro é a salvaguarda da nossa identidade. Isso é o que nos diferencia no momento e é o que nos tem de diferenciar no futuro próximo”.
Neste âmbito, Décio Pereira referiu-se às Casas Açorianas afirmando que “não são só pedras, não são só madeiras” antes são “indiscutivelmente a nossa identidade” e “uma oferta turística única na nossa região”. Por isso defendeu que “temos que saber preservá-las”.
O Turisver deslocou-se a São Jorge a convite das Casas Açorianas
A Gilberto Vieira:
Há cerca de 34 anos (08-08-1992) escrevi uma carta à Secretaria Regional de Turismo e Ambiente dos Açores a propósito de uma notícia inserida no semanário «Independente» na qual se noticiava que investidores estrangeiros procuravam implantar o «modelo mediterrânico» do Turismo.
Teria muito interesse em lhe enviar uma cópia da referida minha carta em anexo de «e-mail» e para o efeito solicito-lhe o respectivo endereço.
Entretanto e se este espaço destinado a comentários o permitir, respigarei alguns extractos dela:
« Penso que os Açores não poderão constituir uma «alternativa ao Mediterrâneo» saturado e em crise. Como território insular, o arquipélago apresenta à partida, uma situação de grande fragilidade ambiental perante os efeitos depredadores do crescimento imobiliário induzido pelo aproveitamento das suas potencialidades naturais e das paisagens agrárias resultado de um lento mas porfiado labor humano de modelação do espaço físico. E se a terciarização da sua economia pela via do «monocultivo turístico» for priviligiada, os Açores poderão incorrer numa dependência externa muito mais acentuada do que a actual»
E apontava o exemplo a ilha de Rodes, estuado por H. Grolleau: «Esta ilha era uma das mais ricas da Grécia em agricultura. Desde que nela o turismo se tornou a primeira indústria, as quintas ficaram desertas ea produção agrícola diminuiu a tal ponto que tudo se importa na ilha, mesmo os legumes mais elementares»
Michel Drain, referindo-se à Costa do Sol (faixa do litoral espanhol entre Estepona e Torremolinos), apontava: «o desenvolvimento turístico desempenhou um papel de freio na modernização da agricultura sem por outro lado trazer emprego numeroso e bem remunerado. O único resultado foi o de inibir o desenvolvimento agrícola e industrial da região e de proporcionar empregos subalternos ou efémeros»
….
O aumento do custo de vida por especulação nos preços de bens essenciais e da habitação, antagonismos entre agricultores e proprietários dos empreendimentos imobililários quanto à utilização da terra e da água constituem custos ou externalidades sociais negativas decorrentes de um massivo desenvolvimento turístico»
Estes alguns dos excerptos da carta.
No jornal «Público- Local» do passado Sábado, 15-02-2025, e na reportagem sobre o encontro da Associação de Turismo em Espaço Rural» sob o tema «Não perca o rumo», o Sr. Gilberto Vieira afirmou: «Uma das coisas com que me preocupo é que não se perca a identidade, porque isso vai reflectir-se no turismo». E apontava: «o turismo na região tem de começar a limar arestas».
Se me desculpar, eu acrescento: «quanto antes». E proponho : o apoio aos sectores básicos da economia açoreana e evitar que continue a ser «O turismo o grande motor da economia dos Açores e a principal atividade económica a criar riqueza, empregos, investimento e oportunidades» , segundo declarou Berta Cabral (in https://portal.azores.gov.pt/web/comunicacao/news-detail?id=176 de 14 -02-2025). Defendia a «sustentabilidade» mas não a explicava< como a obteria. Será que quereria dizer contingentação dos fluxos turísticos? Dificilmente o acredito, num País onde um dos indicadores que tem sido utilizado para demonstrar a evolução da nossa economia tem sido «o número de camas vendidas».
No Continente, perdeu-se uma oportunidade de conciliar turismo com agricultura através do «Agroturismo de Aldeia». Com excepção de algumas grandes Quintas, esta modalidade de turismo sustentável e que salvaguarda a identidade culturaL não foi promovida em povoações hoje desertas e com o património edificado em ruínas ou então em algumas habitadas em fins de semana, sazonalmente por oriundos dos grandes centros urbanos que as compraram barato ou por estrangeiros . O caso das aldeias da Serra da Lousã é paradigmático do abandono a que foram votadas durante muitos anos: A luz eléctrica foi inaugurada em Talasnal quando dela saiu o último habitante.
Com os melhores cumprimentos
Antero Leite
A.C.E.R.-Associação Cultural e de Estudos Regionais
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