Furnas: A Lagoa, as casas e o verde silencioso

Imagine uma paisagem verdejante, onde uma lagoa espelha o céu. Ouvem-se os passarinhos e por trás deles, o silêncio, esse que tanto precisamos para nos revigorar as forças… Lá, do outro lado das águas esverdeadas que seguem a seu ritmo, duas casas, uma pequena igreja e uma história de várias gerações para contar. Estamos na Lagoa das Furnas, na ilha açoriana de São Miguel.
Margarida Ribeiro é a trisneta do casal fundador das casas da Lagoa e dos Barcos. Antiga educadora de infância, empresária agrícola e agora empresária hoteleira, mantém nos seus 82 anos, uma jovialidade de fazer inveja a qualquer um. Falar desta herança, que tem passado de geração em geração é quase como música para os nossos ouvidos.
Como tudo começou…
Tudo começou com o seu trisavô, José do Canto, um aristocrata micaelense que em 1842 casou com uma rica morgada, Maria Guilhermina Tavira Brum da Silveira. No final do século XIX, para além das casas, começa a adquirir parcelas de terreno à sua volta, onde viria mais tarde a construir a Mata-Jardim. Amante da cultura francesa, onde chegou a morar com a mulher e os filhos, José do Canto tem em mente uma série de projetos para esta propriedade.
O primeiro terá sido o pavilhão dos barcos (atual Casa dos Barcos), em 1860. De inspiração nos modelos de arquitetura nórdica (anglo-flamenga), manifestada no recorte ondulado representado acima dos telhados, serviria para José do Canto guardar os seus barcos.
A Casa da Lagoa, um chalé franco-suíço, desenhado por George Aumont, viria a ser construído em 1867, na altura designado como Pavilhão da Pesca.



E em 1886 é inaugurada a Igreja da Nossa Senhora das Vitórias, projetada pelo arquiteto francês André Breton, para dar resposta a uma promessa feita por José do Canto, aquando da doença de sua mulher que a deixaria quase às portas da morte. Maria Guilhermina salvou-se e a pequena igreja – de estilo neogótico, um dos poucos existentes em Portugal – foi construída. Mais tarde serviu de última casa eterna para os seus proprietários.
Pelo meio das edificações, José do Canto havia ainda encomendado ao arquiteto paisagista parisiense Barrillet-Deschamps, um projeto para a Mata-Jardim, mas foi George Aumont que viria a finalizá-lo. Atualmente ainda é possível ver o traçado da zona ajardinada, com cerca de 10 hectares, que se mantém conservado conforme o projeto francês, assim como o conhecido Vale dos Fetos, que viria a ser reconstruído por Ernesto Hintze Ribeiro pai da atual proprietária e que serviu de cenário para o primeiro encontro de namorados entre, Margarida Ribeiro e o seu marido.
As gerações vindouras…
Margarida tinha 10 anos, quando o pai herdou a propriedade de José do Canto, como conta ao Turisver: “A casa era muito antiga, não tinha casa de banho, o jardim estava estragado e o Vale dos Fetos tinha sido cortado. Foi então que o meu pai deitou mãos à obra e decidiu com a minha mãe reconstruir a casa da Lagoa e o jardim. Vendia alguns cortes de madeira e com esse dinheiro conseguia manter o jardim. E nós passámos a ir todos os verões passar férias na Casa da Lagoa. De início não gostava nada, porque não tinha ali os meus amigos, mas aos poucos eles também começaram a ir para lá e era muito divertido.”
Também a Casa dos Barcos acabou por ser reconstruída, até porque a avó materna de Margarida ali ficava, juntamente com os empregados para estar sempre acompanhada.
Ernesto Hintze Ribeiro viria a falecer pouco depois do 25 de Abril e Margarida assumiria a propriedade, mas com os filhos já crescidos tornava-se cada vez mais difícil manter as casas em bom estado: “Ao início dormíamos um fim-de-semana numa casa e o outro noutra, mas o sítio é muito húmido no inverno e a Casa dos Barcos começou a degradar-se”.
A Casa dos Barcos
Há 12 anos, já sem grande esperança de conseguir manter a casa em boas condições, Margarida Ribeiro decide alugá-la para Turismo Rural. E se bem o pensou, mais rapidamente colocou mãos à obra. “Tinha começado a moda do turismo e decidimos fazer algumas obras e enveredar por esse setor”, recorda ao Turisver a proprietária.






Atualmente, a Casa dos Barcos conta com duas suites, uma no rés-do-chão com uma cama de casal e um sofá-cama e outra no primeiro andar com duas camas. Existe ainda um pequeno quarto de jogos na mansarda que permite colocar uma cama extra para uma criança. Existe também uma cozinha toda equipada onde os hóspedes podem preparar as suas refeições e uma mesa de refeições.
“Idealmente a Casa Barco acolhe até 6 pessoas, dois casais e duas crianças”, garante Margarida, sublinhando que apesar da estadia não incluir pequeno-almoço é distribuída uma cesta de vimes no check-in, com produtos regionais, que vão desde os bolos lêvedos das Furnas, pão caseiro, queijo das Furnas, manteiga, sumo de laranja, doce e leite.
A Casa da Lagoa
A Casa dos Barcos foi um sucesso e embora a Casa da Lagoa continuasse por algum tempo a servir como casa de verão da família, logo teve o mesmo destino que a Casa dos Barcos. E tal como esta foi sujeita a obras de melhoramento, aproveitando, no entanto, muitos dos móveis antigos que ali havia.





“Há uns 8 anos acabámos por dar o mesmo destino à Casa da Lagoa”, explica-nos Margarida Ribeiro, acrescentando que ali “no primeiro andar temos uma suite com cama de casal e casa de banho privada, depois temos mais um quarto com duas camas com vista para a Lagoa e um quarto mais pequeno com uma cama que dá para uma criança. Existe ainda uma casa de banho que dá serventia a estes dois quartos”.
Enquanto o rés-do-chão comporta uma sala de estar com lareira, uma sala de jantar que dá para um balcão com vista para a Lagoa e um quarto mais pequeno, com uma cama. Existe ainda uma cozinha e uma casa de banho.
Mata-Jardim José do Canto
O que fazer na ilha de São Miguel é coisa que não falta e amiúde vamos dando conta no nosso site. A 45 km da Lagoa das Furnas encontra Ponta Delgada e a 5 km as Furnas com as suas caldeiras (fumarolas), os banhos em águas naturalmente quentes e o famoso Cozido das Furnas, entre outros.
Aqui na Lagoa da Furnas, para além das canoas e das bicicletas para adulto e criança, que os proprietários das casas dos Barcos e da Lagoa disponibilizam aos hóspedes, podem ainda visitar a Mata-Jardim José do Canto, que já aqui lhe demos conta, assim como a Igreja da Nossa Senhora das Vitórias, com os seus vitrais.



“Os nossos hóspedes têm uma chave do jardim e podem desfrutar do mesmo quando quiserem, há quem nos deixe agradecimentos por tão bonita visita. É realmente um lugar muito bonito, que para além do Vale dos Fetos, tem ainda a Cascata Salto do Rosal com 40 metros de altura”, explica Margarida, acrescentando que a Mata-Jardim está também aberta ao público entre as 10h00 e as 18h00 no verão e das 10h00 às 17h00 no inverno.
Quando questionada sobre o futuro das casas, que se encontram integradas nas Casas Açorianas, a proprietária não esconde o desejo que este “património arquitetónico e florestal” se mantenha preservado e no seio desta família.
Contactos:
Casa dos Barcos e Casa da Lagoa
Margem Sul da lagoa das Furnas
9675-090, Furnas, São Miguel, Açores
+351 918 779 700
Preços: Casa da Lagoa – 300€ por noite (época alta)
Casa dos Barcos – 250€ por noite (época alta)