Francisco Jesus: “Sesimbra vai quadruplicar o número de camas das unidades hoteleiras” em poucos anos
Na inauguração do Sesimbra Oceanfront Hotel, na terça-feira, 14 de maio, o Turisver falou com o presidente da Câmara de Sesimbra, Francisco Jesus. Em cima da mesa estiveram temas como o produto turístico que Sesimbra tem para oferecer aos turistas, os principais mercados, a sazonalidade e as perspetivas de abertura de novas unidades hoteleiras, entre outros.
Sesimbra vive muito dos turistas portugueses. Quanto é que o mercado nacional representa para o concelho?
Os números dos últimos anos indicam que perto de 50% dos turistas são nacionais, o que significa que já temos mais de 50% de turistas provenientes de mercados internacionais. O mercado nacional procura-nos sobretudo na época balnear, na época alta, entre os meses de junho e setembro, antes de terminarem as férias escolares. E há uma coisa fantástica, é que, se olharmos para aquilo que são os mercados internacionais, não há um mercado que se distancie dos restantes.
Eu costumo dar o exemplo do Algarve que depende muito, sobretudo do mercado inglês. Sesimbra tem uma percentagem muito diversificada, muito idêntica dos vários mercados. Obviamente, com o português, o espanhol e o alemão à cabeça, o mercado francófono, mas também os países nórdicos.
Hoje está a surgir o mercado brasileiro e o mercado americano está em grande expansão, o que obviamente também não é indissociável destas novas cadeias hoteleiras. Agora, o Oceanfront Hotel vem dar, também, garantidamente, uma maior visibilidade até pelo grupo a que pertence, muito ligado ao mercado americano, o que será um novo suporte para este mercado.
Mas tivemos, em plena pandemia, a abertura do Four Points by Sheraton aqui em Sesimbra, quase com 200 quartos, também ligado a um grupo americano que veio trazer esse mercado emergente da região de Lisboa e que está em franco crescimento também aqui para Sesimbra.
Esta diversificação é até uma vantagem porque se houver um problema em algum desses mercados, não vamos sofrer muito. Se isso acontecer, como temos esta diversificação trabalharemos mais os outros mercados.
Têm conseguido esbater os meses de sazonalidade, que se reflete nas baixas ocupações dos hotéis?
É importante que a nossa curva não tenha um pico tão grande, centralizado nos meses de junho a setembro, e é importante que ela esteja a ser aplanada. É verdade que nós temos uma pressão muito grande nesses meses, mais até do que aquilo que seria desejável, mas conseguimos ter uma ocupação das nossas unidades hoteleiras, já com uma percentagem razoável, durante todo o ano.
Isso é fruto de um trabalho que é feito em parceria com todos, não apenas com os operadores hoteleiros, mas também com a restauração, com as empresas marítimo turísticas, e de animação turística. É feito um trabalho de parceria, de divulgação, muito por via daquilo que é ter uma costa única – tirando o caso do Algarve virada a sul -, que permite fazer atividades marítimas num largo espectro do ano e não apenas durante o período de verão. E Sesimbra tem, obviamente, a ganhar, estando a 30 quilómetros de Lisboa, sendo um dos produtos turísticos, com a parte de Setúbal e Palmela, com o polo da Arrábida, ligando também ao enoturismo que temos em Azeitão – temos tudo para ter sucesso nesta operação hoteleira, mas, sobretudo, no turismo, no concelho de Sesimbra.
“Os hotéis que estão em construção indicam-nos que daqui a meia dúzia de meses, ou daqui a um ano, podemos ter um aumento de camas, mas com aqueles que estão em procedimento, neste momento, sejam projetos aprovados, informações prévias, obras a iniciar, obras em curso, Sesimbra vai quadruplicar o número de camas em unidades hoteleiras”
No PDM da Câmara Municipal ainda há espaço para mais alojamento turístico, nomeadamente a hotelaria?
Nós, neste momento, temos hotéis com processos a decorrer, uns com mais maturidade e outros com menos, alguns já em obra. Os hotéis que estão em construção indicam-nos que daqui a meia dúzia de meses, ou daqui a um ano, podemos ter um aumento de camas, mas com aqueles que estão em procedimento, neste momento, sejam projetos aprovados, informações prévias, obras a iniciar, obras em curso, Sesimbra vai quadruplicar o número de camas em unidades hoteleiras.
Não é menos verdade que também temos, neste momento, no alojamento local, o triplo das camas disponíveis do que temos no alojamento convencional, nas unidades hoteleiras, se assim se pode dizer. Mas salientava que este alojamento, sobretudo naquele período da época mais alta, é fundamental para conseguirmos ter uma atratividade turística forte. É verdade que também temos que reconfigurar o alojamento local em necessidades de alojamento de longa duração, até porque a vila de Sesimbra não é diferente daquilo que é o resto do país.
A vila de Sesimbra também sofre pela questão da desertificação associada à especulação imobiliária, e nós precisamos de reconfigurar alguns destes alojamentos em alojamento de longa duração, de forma a termos aqui também uma maior autenticidade. Eu costumo dizer, olhando para o perfil do turista que é conhecido, que as pessoas devem procurar Sesimbra porque é Sesimbra, e não porque é uma praia como outra qualquer do país.
Sesimbra oferece experiências de gastronomia, de mergulho, de turismo de natureza com a serra da Arrábida, tem experiências de observação de golfinhos, e também cultuais, nomeadamente graças à aposta que fizemos a nível da requalificação do património cultural, de tudo o que era a Fortaleza, o Castelo, o Cabo Espichel. Esta diversificação da oferta representa um ganho porque não temos apenas o produto sol e mar para oferecer a quem nos visita, e permite-nos ter uma relação diferente com os turistas, proporcionando-lhes experiências únicas que não se repetem noutro sítio do país.
O que é que o município pensa fazer para melhorar, para dinamizar mais o turismo, até ao final deste mandato?
Nós estamos perante uma marginal que hoje, claramente, gostaria que fosse de mobilidade suave, sem carros, com mais verde, menos cimento, mas ela não pode ser retirada dos carros, até porque o planeamento da vila de Sesimbra não se vai refazer em dois, três ou quatro anos. Os dois grandes estacionamentos cobertos que nós temos são exatamente na extremidade da marginal Nascente, onde nos encontramos, e da marginal Poente, que é recente, tem um ano de abertura, sensivelmente, com cerca de 300 lugares públicos, e, portanto, os carros vão ter que passar na marginal. Mas nós vamos reconfigurá-la para ser uma zona de coexistência, dando prevalência aos peões e reordenar as esplanadas o que é importantíssimo, sobretudo na qualidade da oferta que têm para o turista. Sei que é um trabalho árduo, não vai ser pacífico, é certo, mas é importante que se faça, e temos pensado, iniciar esta intervenção no pós-verão.
Claro que temos muito trabalho ainda pela frente na reabilitação da rede viária, que também é importante para o turismo, a recolha dos lixos, que é um problema que se coloca nas várias cidades turísticas do país, até sobre a pressão que têm a nível turístico. Portanto, há sempre aspetos que são do quotidiano que é preciso melhorar, mas, sobretudo, aqueles que deixam marca e que valorizam as cidades têm a ver com a transformação dos territórios, devolvendo-os às pessoas, para que elas possam partilhar desse espaço público.