“Eu gosto mesmo de ser diretora de vendas” revela Gilda Cardoso vencedora de um Xénio da ADHP

Gilda Cardoso, diretora de vendas na DHM – Discovery Hotel Management, foi a vencedora do Prémio Xénio- Excelência na Hotelaria da ADHP, na categoria de ‘Melhor Diretor Comercial / Marketing e Vendas. O Turisver falou com Gilda Cardoso para ficar a conhecer melhor esta profissional que se revela feliz com este reconhecimento e o considera como o “culminar de muito trabalho” realizado ao longo da sua carreira.
Como é que surgiu a ideia de se candidatar aos Xénios – Prémios Excelência na Hotelaria?
Não me candidatei, candidataram-me, propuseram o meu nome, eu estava no meio de toda a agitação que foi a abertura do Crowne Plaza Caparica Lisboa e estava muito longe de pensar ganhar o prémio. Foi uma grande surpresa mas fiquei muito contente, primeiro por ser nomeada, depois fiquei muito contente por estar na ‘short list’ de finalistas. Aí comecei a acreditar um bocadinho mais, sabia que tinha hipóteses mas não estava certa porque os meus colegas nomeados eram muito bons e achei que estávamos todos em perfeito equilíbrio.
Vencer foi uma surpresa e foi muito bom porque é sempre muito bom sentirmos que somos reconhecidos pelo nosso trabalho. Acredito que um prémio destes não é apenas pelo trabalho que se faz num ano mas o que se vai fazendo ao longo de muitos anos e nós fazemos tantas coisas que a dada altura nem sequer nos apercebemos bem de tudo aquilo que já fizemos.
Eu diria que os diretores comerciais são avaliados pelos resultados que têm, pelo que este prémio acaba por ser o culminar de muito trabalho e isso é efetivamente muito bom.
Na hotelaria já está há muito anos?
Já, eu comecei na Accor, onde estive 10 anos, concretamente no Novotel de Setúbal como estagiária na área de receção, passei para coordenadora de grupos e eventos, depois para promotora de vendas (Sales Executive). Depois, a Accor reuniu os comerciais em Lisboa e eu vim para Lisboa, para a sede, onde estive quatro-cinco anos. Findos esses anos, saí e fui para o Grupo Altis. Na altura fui contratada pelo Vítor Manique para Sales Manager, depois como o Grupo Altis centralizou toda a área comercial no Altis Grand Hotel eu passei a não ter apenas o Altis Park Hotel mas todos os hotéis. Quando entrou o Francisco Moser, foi ele que me propôs para diretora de vendas do Grupo Altis, o que aceitei com muito gosto, cargo em que fiquei durante cerca de cinco anos.
Há oito anos, vim para a DHM. Na altura, deixar um grupo hoteleiro como o Grupo Altis, que era muito estável, e vir trabalhar para um Fundo, era um risco acrescido mas o desafio era muito grande e também por isso era algo que me atraía, portanto, resolvi mudar e aceitar a proposta. Entretanto, o Francisco Moser também saiu do Grupo Altis e também veio para a Discovery, o que foi uma surpresa muito boa.
Quando entrei na Discovery tínhamos apenas cinco unidades, neste momento já temos 18 e criámos todo o produto hoteleiro, todos os procedimentos, toda a metodologia de trabalho, ou seja, foi muito de nós que colocámos em tudo isto. Nós costumamos dizer que somos uma tribo, em que todos caminhamos para um mesmo objetivo. Somos muito unidos, temos um espírito de equipa muito bom, trabalhamos muito, também nos divertimos muito, e fazemos isto com muito gosto.
Veio para a hotelaria e foi “o gosto de receber, o gosto pelo serviço” que a prendeu
Quando é que decidiu que a hotelaria era a área profissional a que iria dedicar a sua vida?
Eu sou do Montijo e quando estava a estudar a minha ideia era ser veterinária e não entrei em veterinária por meio valor, em dois anos consecutivos. No primeiro ano em que não entrei fiquei a fazer melhoria de nota, depois, quando não entrei pelo segundo ano já não tentei mais. Fui para a Universidade Internacional para a área de gestão hoteleira e sou de geração espontânea, ou seja, não tenho ninguém na família que tenha seguido hotelaria.
Penso que aquilo que me trouxe para a hotelaria e me manteve cá foi o gosto de receber, o gosto pelo serviço – isso sempre me encantou, portanto, quando a minha primeiro opção não foi possível, segui a segunda e devo dizer que nunca me arrependi de o ter feito.
Gosto mesmo muito daquilo que faço, gosto muito das equipas dos hotéis, adoro os meus clientes e os meus colegas e hoje creio que sou muito mais feliz na hotelaria do que algum dia teria sido em veterinária.
A Gilda tem a seu cargo a parte comercial e o marketing?
Não. Antigamente as vendas e o revenue estavam numa área só mas agora, dado o volume de negócios que temos separámos as áreas e tenho apenas a área de promoção e de vendas da totalidade das nossas 18 unidades e de seis campos de golfe.
Como é que se coordena tudo isso?
Eu nunca trabalhei numa empresa com apenas um hotel, trabalhei na Accor, no Grupo Altis e aqui e não sei o que é trabalhar uma unidade só, portanto acho que tudo se complementa, nós tiramos ensinamentos de uma área que podemos colocar noutras mas coordenar tudo só me é possível porque tenho chefes de equipa muito competentes e dedicados em cada uma das áreas – os nossos head of sales são efetivamente muito bons e dão um apoio muito grande a cada uma das áreas.
Na Discovery temos um cluster que é a Octant que tem hotéis boutique, com um posicionamento mais upscale, temos os nossos resorts all inclusive no Algarve, os nossos hotéis MICE, como é o caso do Crowne Plaza que acabamos de abrir e temos cinco campos de golfe com 18 buracos e o do Crowne Plaza com nove. Portanto, se não tivesse uma equipa que é grande em qualidade e não em número, a trabalhar comigo, seria muito difícil coordenar tudo.
“Em anos anteriores, as reservas eram feitas com seis meses ou um ano de antecedência e nós estamos com reservas de golfe em ‘last minute’, casamentos que seriam reservados a um ano e meio e que estão com uma ‘booking window’ mais curta, mesmo o mercado de verão no Algarve está também a reservar mais tarde e do MICE nem se fala”
A hotelaria viveu um ano muito bom em 2022 e tudo leva a crer que 2023 venha a ser ainda melhor. Estes anos turísticos muito bons são mais trabalhosos ou para as suas funções são mais calmos?
Os piores anos que nós tivemos foram os da pandemia em que nós não tínhamos mesmo clientes. Neste momento, são muito trabalhosos porque estamos a recuperar muito dos anos que se passaram, estamos a começar praticamente de uma base zero. Acredito que estes anos sejam os mais trabalhosos precisamente porque o mercado ainda não está estabilizado, porque há muito ‘last minute’ em áreas onde, em anos anteriores, as reservas eram feitas com seis meses ou um ano de antecedência e nós estamos com reservas de golfe em ‘last minute’, casamentos que seriam reservados a um ano e meio e que estão com uma ‘booking window’ mais curta, mesmo o mercado de verão no Algarve está também a reservar mais tarde e do MICE nem se fala, se calhar temos um pedido para uma terça feira que chega na sexta feira anterior e mesmo os pedidos internacionais estão a vir com uma antecipação menor – é aqui que está a grande dificuldade.
Quais são os mercados que dão mais trabalho? É mais fácil trabalhar o mercado português do que trabalhar o mercado alemão, ou por exemplo o Brasil?
Cada um tem as suas qualidades, as suas características. O mercado nacional, por ser o mercado de maior proximidade tem um conhecimento muito grande sobre o que é a hotelaria em Portugal e as várias características de cada grupo hoteleiro e nós também conhecemos melhor as ‘booking windows’ dos portugueses, por exemplo no lazer, e a forma como funciona o mercado nacional.
Por mercados, há diferenças a nível de comportamentos. O mercado brasileiro gosta muito de conversar connosco até porque falamos a mesma língua, é um mercado que requer um cuidado pessoal ‘olho no olho’ muito frequente. O mercado alemão, com as suas regras mais rígidas já requer que nos adaptemos a eles, o mercado asiático também tem as suas características… Não diria que há um mercado mais difícil do que outro, diria que é uma questão de nós nos adaptarmos às qualidades de cada um deles.
Apoio familiar é fundamental para o desempenho de uma função exigente
Como é que se compatibiliza o facto de exercer funções tão desgastantes e que pressupõem uma grande entrega com a vida familiar?
Com muito apoio familiar. Eu não poderia ter este trabalho tão exigente se não tivesse apoio familiar. Poderia fazer o mesmo mas com muito mais dificuldade. Quer a minha mãe, quer a minha sogra, quer o meu marido, sempre deram muito apoio e depois os filhos que são criados neste ritmo acabam por estranhar pouco, o que interessa é que o tempo que estamos com eles ser um tempo de qualidade. Claro que ajuda sempre termos alguma organização mas se não houvesse um suporte familiar seria bastante mais difícil.
Há novas gerações que estão agora a entrar na hotelaria e a preparar-se para fazerem o seu percurso. Acredita nesta nova geração?
Acredito que estão muito mais preparados do que nós estávamos quando entrámos, a todos os níveis, seja operacional, seja a nível de procedimentos, terão talvez um grau de resistência às dificuldades diferente do que nos tínhamos – isso será mais cultural – mas tenho muita esperança porque vejo muita gente boa a começar e acredito que irão fazer a diferença, até porque para além da boa preparação que têm nas escolas, os portugueses sempre foram muito trabalhadores e juntando as duas coisas acho que muito trabalho e bom senso se consegue chegar mais longe.
Este prémio que recebeu agora é o primeiro reconhecimento público que tem. Disse-me que representa muito para si mas poderá de alguma forma mudar o resto da sua vida enquanto profissional?
Mudar, muda, pelo menos para mim porque é efetivamente a primeira vez que os meus pares me reconhecem. Em termos da empresa não me posso queixar porque somos uma empresa que prima pela meritocracia, pelo que o valor de cada um de nós é efetivamente reconhecido mas suas funções. Pode também mudar alguma coisa na forma como os outros me veem porque dá alguma notoriedade. Sendo eu uma pessoa com um perfil mais discreto, gosto sempre de provar o meu valor pelos números e gosto de apresentar bons resultados e é por aí que gosto que me avaliem ‘dentro de casa’ – mas diria que sim, que muda.
Teve algum feedback por parte dos seus colegas?
Tive feedback de todos os meus colegas, de todas as pessoas que gostam de mim – felizmente são muitas – e voltei a ter contactos com pessoas com quem não falava há algum tempo, por exemplo pessoas com quem trabalhei na Accor, que me enviaram os parabéns e nesse aspeto foi muito bom e muito enriquecedor porque voltei a ter contacto com elas.
A ADHP, enquanto associação, tem um pouco esse papel de juntar as pessoas…
É verdade, junta as pessoas, acho que isso é uma consequência do prémio. Quem tem uma carreira já um pouco longa acaba por se cruzar com muitas pessoas ao longo do tempo, eu sempre estive em grupos hoteleiros e por isso sempre tive muitas equipas a trabalharem comigo e agora voltar a ter contacto com todas essas pessoas foi muito enriquecedor e totalmente inesperado.
Onde é que pensa que pode chegar em termos profissionais?
Ainda não defini qual será aminha meta final. Tenho sempre evoluído e creio que posso continuar a evoluir mas o facto é que os desafios do dia a dia são tantos -e vão sendo superados – que ainda não pensei onde é que gostava de estar mais à frente, até porque estou tão feliz e tão realizada a fazer aquilo que faço e nós quanto mais fazemos mais queremos fazer e fazer ainda melhor. A verdade é que eu gosto mesmo de ser diretora de vendas!