Entidade Regional está a colocar o Ribatejo no mapa turístico
Na segunda parte da entrevista com Vítor Silva, presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, abordámos a forma como a Entidade Regional do Turismo está a trabalhar os concelhos ribatejanos, em termos administrativos e de produto turístico, de modo a preservar a identidade do Ribatejo.
A Entidade Regional não representa apenas o Alentejo mas também o Ribatejo, portanto, falemos agora do Ribatejo. Como é trabalhar estes concelhos?
Não vou discutir os méritos ou os deméritos da reformulação turística legal que ocorreu há cerca de 10 anos e que, no nosso caso, juntou territórios bastante diferentes, com culturas diferentes, com um desenvolvimento turístico muito diferente e até com uma densidade populacional também muito diferente. Posso dizer-lhe que os 47 municípios do Alentejo têm à volta de 450 mil pessoas e 11 concelhos do Ribatejo, da Lezíria, têm 250 mil pessoas, com uma economia muito diferente e um desenvolvimento do produto turístico também diferente. Isto porque, aquilo que para o Alentejo constituiu, a partir de certa altura, uma mais valia importante que foi o turismo, na Lezíria do Ribatejo ainda não tem hoje a mesma importância. Nós temos, quase se pode dizer, um pecado original que é ter duas regiões na Entidade Regional e na Agência.
No tempo em que o Ceia da Silva foi presidente da Entidade Regional e eu estava na Agência, decidimos, ao fim de pouco tempo, tentar separar o mais possível as duas entidades e inclusivamente a ERT mudou o seu nome para Entidade Regional de Turismo do Alentejo e do Ribatejo, mas o mesmo não pode acontecer na Agência porque o Turismo de Portugal não reconhece, para efeitos de promoção internacional, outra marca que não seja o Alentejo.
Mas não sendo possível a integração porque são regiões diferenciadas, tem procurado definir posicionamentos e ações?
Conhecendo todos os passos que foram dados, tomei a iniciativa de tomar algumas medidas que vão no sentido daquilo que quero fazer enquanto tiver estas responsabilidades, que é reconhecer que estamos perante duas regiões em que a Entidade Regional de Turismo é a mesma. Mas este é um problema que ao nível da Agência de Promoção não conseguimos resolver, a não ser pela via do produto.
“A ERT mudou o seu nome para Entidade Regional de Turismo do Alentejo e do Ribatejo, mas o mesmo não pode acontecer na Agência porque o Turismo de Portugal não reconhece, para efeitos de promoção internacional, outra marca que não seja o Alentejo”
Em termos administrativos foram tomadas algumas decisões que eram fundamentais, uma delas foi a de termos uma delegação no Ribatejo, estamos agora a instalá-la em Santarém, num local cedido pelo município e para a qual vamos contratar mais uma pessoa além da que já lá temos. Constituí também um Conselho Consultivo para acompanhar a Direção da Entidade Regional e definir uma linha estratégica para aquele território. Esse Conselho Consultivo que tem um elemento de cada autarquia, que são 11 e um número idêntico de empresários – por acaso até são 12 empresários. Em maio vamos ter a primeira reunião. Estas decisões foram tomadas no âmbito do nosso Plano de Atividades que foi aprovado em dezembro do ano passado.
Vou também criar uma rede de comunicação, com uma caixa de correio própria, com técnicos das autarquias de maneira a que a comunicação circule instantaneamente entre todos, porque agora, se em Rio Maior se passar alguma coisa que tenha a ver com a Entidade Regional de Turismo ou com a Agência, em Coruche não se sabe, e vice-versa.
Estas são algumas ideias do ponto de vista da organização administrativa do território que são fundamentais. Tenho muita esperança no Conselho Consultivo, por ser formado por pessoas que conhecem o território, que eles aportem algumas ideias.
E em termos de produto o que já está a ser trabalhado?
Temos dois projetos que são estruturantes para aquele território: estamos a desenvolver com a CVRT (Comissão Vitivinícola Regional do Tejo), que aderiu à Agência a seu pedido, a criação da Winer Route 118. A Estrada Nacional 118 vai de Alcochete, pela margem sul do Tejo, até Alpalhão mas aqui referimo-nos apenas à parte do Ribatejo, que é onde estão as grandes casas com forte componente vinícola, como a Quinta do Casal Branco, a Quinta da Alorna, a Quinta da Atela, Fiúza, entre outras e algumas dessas quintas são mesmo atravessadas pela EN 118. Não será só para promover uma rota de vinhos, é a estruturação para promover tudo o que fica em volta, toda a oferta turística, desde a gastronomia ao património. É um grande projeto que não se pode fazer de um dia para o outro, é um projeto que se vai fazendo.
Outro projeto tem a ver com o rio Tejo que eu penso que não está devidamente desenvolvido e aproveitado. O Tejo é praticamente a coluna vertebral da região e tem alguns pontos de muito interesse, como é o caso do Escaroupim que já tem passeios de barco, ou do Arripiado, que fica no concelho da Chamusca.
Foi feito para o Ribatejo um guia de oferta, para os agentes de viagens, dos 11 concelhos da Lezíria que estão sob a nossa alçada. O guia tem as indicações necessárias em cada concelho, os pontos de restauração, de alojamento, pontos de interesse turístico, etc. Isto permite a um agente de viagens de Bragança, por exemplo, construir um programa para um cliente que queira conhecer aquela zona do Ribatejo. Fizemos uma distribuição maciça desse guia junto dos agentes de viagens do país e agora começámos a organizar visitas de familiarização de agentes de viagens ao nosso território.
É neste caminho que vamos continuar: respeitar cada uma das regiões, embora tenhamos projetos comuns. Por exemplo, temo o mesmo “claim” para as campanhas de promoção – “Há um lugar” – mas não misturamos Alentejo com Ribatejo.
Ia perguntar se nestes concelhos tem havido investimento, nomeadamente ao nível do alojamento?
Muito menos e esse é um dos problemas que temos porque não havendo alojamento é muito difícil haver turismo porque o alojamento é que fixa as pessoas e depois arrasta a restauração e programas de visitação. Uma mensagem que tentamos sempre passar aos autarcas é que todas as autarquias devem ter uma posição nesta matéria, devem fazer um levantamento daquilo que pode ser utilizado para esse efeito, ou até de sítios onde os PDM permitam a construção e ter uma política ativa de atração de investimento. Nós podemos ajudar porque temos um Gabinete de Apoio ao Investidor, mas o fundamental está do lado deles.
Reforço do investimento no mercado espanhol
Dizia-me há pouco que, para além da presença em feiras, estavam a retomar os contactos de maior proximidade com os agentes de viagens. Quer desenvolver?
O nosso principal mercado externo é o mercado espanhol e uma vez que a lei permite que as ERT também tenham intervenção no mercado espanhol, consegui fazer aprovar no Plano de Atividades da Entidade Regional de Turismo para este ano, um reforço muito grande do investimento no mercado espanhol. Posso dizer que aumentámos em 50% o nosso orçamento para o mercado espanhol, mas à custa da Entidade Regional de Turismo que tem meios financeiros para o fazer e legalmente pode fazê-lo.
Para isso, promovi reuniões entre as equipas de promoção da Agência e da ERT, até porque estas estavam apenas focadas no mercado nacional e agora passam a estar também focadas no mercado espanhol. Para nós o mercado espanhol não é intermediado, é direto, pelo que o tipo de ações que podemos fazer é diferente do que podemos fazer noutros mercados. Faço notar que na contratualização que assinamos com o Turismo de Portugal para a promoção externa, está consignada a obrigatoriedade de, em cada mercado, gastarmos dois terços do orçamento com operadores e apenas um termo em ações que não envolvam operadores, ora isso não faz sentido no mercado espanhol porque não é intermediado.
Para os outros mercados que são fundamentais para nós como o brasileiro, é altura de ter ações físicas. No princípio de maio vamos estar na Travelweek by ILMT em São Paulo, uma feira vocacionada para o turismo de luxo, porque temos empresas muito interessadas e gostaria de fazer um roadshow com empresas no mercado brasileiro.
“Queremos posicionar cada vez mais o Alentejo e o Ribatejo como destinos sustentáveis”
Na Alemanha, que é o nosso segundo mercado juntamente com o Brasil, voltou a não haver a ITB, que era importante para nós não pela feira em si porque em termos de público não é em Berlim que está o poder de compra, mas tínhamos sempre muitas ações programadas para cidades mais pequenas e com grande poder de compra. Ainda este ano vamos estar na Feira do Livro em Frankfurt e uma situação muito positiva é que a Olimar já tem um catálogo de oferta só para o Alentejo. Logo que possível, talvez a seguir ao verão, queremos reatar os roadshows que fazíamos, sempre com um operador, na Alemanha.
Os Estados Unidos são o nosso quarto mercado e também aí queríamos fazer alguma coisa, só que os americanos não estão a viajar muito e agora ainda dizem que à guerra na Europa e o mercado arrefeceu um pouco. Mesmo assim vamos ter em maio um roadshow nos Estados Unidos e no Canadá, juntamente com o Porto e Norte, a TAP e a Air Canada, onde teremos cerca de dezena e meia de empresas.
No fundo é fazer aquilo que se chama “back in business”. Estamos a voltar ao trabalho e estamos atentos ao que se vai passando e às tendências, algumas das quais são já realidade. Neste âmbito, queremos posicionar cada vez mais o Alentejo e o Ribatejo como destinos sustentáveis e temos que olhar para o turista de uma forma diferente, não o vendo apenas como mero consumidor mas envolvê-lo e recebê-lo como se ele estivesse na nossa própria casa.