Empresas suportam pressão dos custos para evitar grandes aumentos de preços, conclui estudo da AHRESP
O inquérito da AHRESP, a que o Turisver teve acesso, conclui que as empresas da restauração e do alojamento estão a sofrer a pressão inflacionista decorrente da guerra na Ucrânia. Em muitos casos, os preços ao consumidor já aumentaram mas os empresários continuam a suportar parte da subida de custos.
Uma das conclusões saídas do inquérito é a de que, tanto as empresas do sector da restauração e similares como as do setor do alojamento turístico, estão já a sentir “na pele” os efeitos da pressão inflacionista que tem levado a uma escalada de preços não apenas ao nível energético mas também nos bens de consumo, particularmente os alimentares.
De acordo com a AHRESP “o aumento dos custos com matérias-primas, energia e transportes já está a fazer estragos junto das empresas de restauração, similares e do alojamento turístico”, com os empresários a suportarem parte dos aumentos para que a subida de preços ao consumidor não seja tão elevada.
Os resultados do inquérito revelam que 94% das empresas afirmou ter já sentido o impacto da guerra e da pressão inflacionista. Entre as empresas de restauração e similares, 77% sentiram aumentos de até 50% nos custos com matérias-primas, nos transportes e na energia, enquanto 47% das empresas de alojamento turístico registou subidas de até 15%.
Realizado entre 2 e 16 de maio, junto das várias tipologias de empresas que constituem os setores da restauração e similares e do alojamento turístico, em todo o território nacional, o inquérito, a que o Turisver teve acesso, concluiu que 73% dos empresários da restauração e similares já sentiram “escassez de produtos essenciais para o exercício da sua atividade, o que, aliado ao aumento dos custos operacionais, levou ao aumento de preços ao cliente”. Neste sentido foram as respostas de 86% das empresas de restauração e similares e 51% do alojamento turístico muito embora 77% das empresas tenham revelado que a sua atualização dos preços não foi além dos 15%, tendo preferido, como sublinha a AHRESP “esmagar margens a fazer recair o significativo aumento de custos junto dos clientes.”
O que as empresas também sentem é a continuação das quebras na faturação: “63% das empresas de restauração e similares e 39% das empresas de alojamento continuaram a registar quebras no 1.º quadrimestre de 2022, face ao período homólogo de 2019”, sublinha a Associação. De referir que 15% dos respondentes revelaram não ter sentido alterações de nenhum tipo na faturação, enquanto 11% revelou que a mesma tinha até aumentado até 25% nos primeiros quatro messes deste ano.
Se bem que mais de metade das empresas dos sectores representados pela AHRESP (54%) tenha indicado que continua a ter capacidade para suportar os seus encargos e honrar os seus compromissos, não deixa de ser preocupante que 26% das empresas da restauração e similares tenham admitido que podem avançar para a insolvência, caso não consigam suportar todos os encargos.
Como forma de resolver este problema, as empresas (85% de restauração e 41% de alojamento) consideram que uma das medidas essenciais seria a aplicação temporária da taxa reduzida de IVA nos serviços de alimentação e bebidas, seguindo-se os apoios financeiros para a otimização de consumos e a transição energética.
Falta de Recursos humanos pode pôr em causa qualidade do serviço
Sobre esta área do inquérito, o que se pode dizer é que não houve “milagres”, a falta de trabalhadores continua a ser um dos maiores problemas do setor, com 53% das empresas de restauração e 26% das empresas de alojamento a apontarem mesmo que “pode vir a estar em causa a boa prestação e qualidade dos nossos serviços”. Destas, 76% referem ter necessidade de contratar entre um a três trabalhadores e 13% precisam entre quatro e seis trabalhadores para o desempenho de funções regulares na empresa (o ano todo).
Revela também o inquérito que 43% dos empresários precisam de contratar trabalhadores especificamente e apenas para a época alta, sendo que a maioria (89%) necessita de contratar entre 1 e 3 trabalhadores para esta época. Contudo, à data de preenchimento do inquérito, 56% das empresas ainda não tinham conseguido assegurar a contratação dos profissionais de que necessitam.
Para 14% das empresas de restauração os horários de trabalho são o principal obstáculo à atração e retenção de trabalhadores, sendo que 34% acreditam que teriam ganhos de produtividade se o horário de trabalho diário fosse alargado por mais de oito horas, com a compensação de dias de folga adicionais.
Menos constituições de empresas e mais insolvências nos dois últimos anos
Em relação às perspetivas para o verão, o inquérito conclui que para 47% das empresas de restauração e 73% das empresas de alojamento este será igual ou melhor do que 2019. Já 39% das empresas de restauração responderam que será pior. Ainda no que toca aos meses de verão e àqueles que poderão ser os principais mercados turísticos, 55% respondeu Portugal, seguindo-se França (48%), Espanha (45%) e Alemanha (41%).
À margem do Inquérito a que o Turisver.pt teve acesso, foi realizado um estudo sobre a constituição e dissolução de empresas destes setores em Portugal. Uma das conclusões é a quebra acentuada na constituição de empresas em 2020: -39,4% no alojamento turístico e -24,8% na restauração e similares). Em 2021, o número de novas constituições foi de -1,62% descer face a 2020.
Já no que se refere à dissolução de empresas, após uma diminuição nos anos de 2019 e 2020, o ano de 2021 registou uma tendência crescente de aumento, com o pico a ser atingido no 1.º trimestre de 2021, com a AHRESP a destacar o encerramento definitivo de 1.160 empresas do canal HORECA no primeiro trimestre de 2021, o dobro do registado em 2020.