Eduardo Cabrita diretor-geral da MSC Cruzeiros: “Nós vamos contar sempre com os agentes de viagens”

Na última parte da entrevista com Eduardo Cabrita, diretor-geral da MSC Cruzeiros em Portugal falámos do Euribia que está a chegar, dos planos para novos navios nos próximos anos, dos cruzeiros de inverno e da relação com as agências de viagens que, afirma o nosso entrevistado, continuam a ser a maior força de vendas da MSC Cruzeiros em Portugal.
Muito em breve vão ter um novo navio, o MSC Euribia. O que é que este navio aporta de novo?
O Euribia insere-se no plano de expansão a cinco anos que foi elaborado pela companhia. O último navio que foi inaugurado foi o World Europa, o Euribia é o nosso segundo navio movido a LNG, ou seja, é um navio mais ecológico e o que vamos tentar efetuar a bordo, como em todos os nossos navios, é ter a excelência seja no alojamento, seja no entretenimento com novos espetáculos, na animação ou na alimentação, com Chefs “Estrelas Michelin” e novos tipos de restauração. Ao todo são cinco restaurantes, 10 espaços de restauração, um novo layout no Carrossel Lounge que proporciona experiências imersivas…

Há muita coisa a dizer sobre o Euribia mas o importante é que tanto a MSC Cruzeiros como a Explora, estão a olhar para a sustentabilidade e esse é o derradeiro desafio. O mundo marítimo diz que 2050 terá que ser atingido o NET Zero, a MSC disse isso uns tempos antes, mas o facto é que estamos todos a correr o mais que podemos para que em termos de sustentabilidade a meta de 2050 seja atingida antes. Como o mundo dos cruzeiros é muito mais visível do que o mundo marítimo (há cerca de 350 navios de cruzeiros contra 100.000 navios marítimos) temos que ser nós, como setor, a estar na vanguarda da responsabilidade ambiental.
Dentro deste plano a cinco anos, quantos são os navios que vão ter proximamente?
O plano que estava definido pela MSC previa que até 2030-2035 pudéssemos ter cerca de 40 navios, com o Explora. A Explora Journeys vai ter um navio a ser lançado por cada ano, neste momento tem quatro lançamentos previstos até 2026 e mais quatro em opção que, se tudo correr bem serão ativados. O mesmo acontece com a MSC Cruzeiros, prevendo-se que nos próximos cinco a oito anos possamos ter mais 10 navios. Contas feitas, com o Euribia ficamos com 22 navios e depois serão mais 18 até atingirmos os 40 navios, sendo que oito podem ser da marca Explora e 10 da MSC Cruzeiros.
Isto se tudo correr bem porque ainda agora saímos da pandemia mas não saímos da guerra e temos que ter algum cuidado no futuro imediato para perceber como é que os mercados vão funcionar porque o que se passava em 2019 não se passa em 2023 e não se vai passar em 2024 nem em 2025 – os mercados vão estar ainda de formas deferentes.
A criação de uma nova marca e de um novo produto não vai impedir que a MSC Cruzeiros não tenha também um plano de grande crescimento?
São dois segmentos completamente diferentes, um contemporâneo outro de ultra-luxo e acho que há mercado para ambos, aliás até podia haver lugar para mais, concretamente para os navios de expedição, que é outro setor a olhar em termos de futuro. Trata-se de outro nicho, de outro tipo de férias, mas penso que há capacidade para que isso possa acontecer no futuro.
A ideia é saber como é que dentro do mundo marítimo podemos desenvolver melhores marcas e atratividade em termos de produto.
“Em 2019 houve 30 milhões de pessoas a fazerem cruzeiros e esse número é ainda extraordinariamente pequeno se olharmos para o total de pessoas que faz férias em todo o mundo, estamos ainda a falar de um nicho com muito para explorar”
Ouvimos sempre falar na construção de mais navios mas nunca se ouve que este ou aquele navio acabou. Isto significa que os navios não têm prazo de vida?
Um navio não é como um carro. A parte mais estratégica de um navio é o casco, o motor pode tirar-se e voltar a colocar-se. Desde há 10 ou 15 anos, pode dizer-se que um navio, que tem cerca de 30 anos de payback, pode ter um prazo de vida de 50 anos mas o facto é que a velocidade dos próprios mercados faz com que os navios tenham que sofrer remodelações. Nós, nos quatro navios que foram lançados entre 2003 e 2006, fizemos remodelações no final de 10 anos – uma remodelação de interiores e um aumento porque o próprio mercado e a velocidade de perceção das pessoas sobre o que é mais velho ou ais novo mudou em relação ao que era há 30 ou 40 anos. Isso significa que é preciso fazer remodelações a cada 10 ou 15 anos.
Em termos de número, com cerca de 350 navios de cruzeiro no mundo, ainda temos muito espaço para crescer. Em 2019 houve 30 milhões de pessoas a fazerem cruzeiros e esse número é ainda extraordinariamente pequeno se olharmos para o total de pessoas que faz férias em todo o mundo, estamos ainda a falar de um nicho com muito para explorar. Claro que todas as companhias vão explorar as regiões de uma forma diferente, com estratégias diferentes.
Voltando a Portugal e à comercialização. As agências de viagens ainda têm um peso muito elevado nas vendas da MSC?
Têm, aliás as agências de viagens vão ter sempre o peso mais elevado nas vendas da MSC. Quando tivemos que lançar o B2C fizemo-lo por uma razão inerente à pandemia, tínhamos clientes que vinham ter connosco porque iam ter com as agências de viagens e estas não estavam disponíveis ou estavam de portas fechadas e eles tinham pago determinados valores às agências – alguns traziam mesmo os comprovativos – e nós não tínhamos como dar nenhum tipo de ajuda porque os contratos tinham sido feitos entre o passageiro e a agência. Portanto, ou o passageiro ia queixar-se ao Fundo de Garantia do Turismo de Portugal ou nós tínhamos que arranjar solução. Hoje, no entanto, estamos a voltar ao tempo em que o agente de viagens é preferido pelos clientes.
A porta do B2C está simplesmente entreaberta, não fazemos disto algo forte, a ideia é que todo o nosso negócio continue a passar pelas agências de viagens porque explicar o que é um cruzeiro, com cada vez mais detalhes a bordo, não é uma tarefa fácil e o agente de viagens está cada vez mais preparado para perceber que tipo de clientes tem à sua volta e saber como pode entregar um cruzeiro ou outro tipo de férias a esse cliente. Nós vamos contar sempre com os agentes de viagens e eles vão sempre ser a maior parte da força de vendas da MSC.
Trabalho com os agentes de viagens está a atingir uma nova realidade
Já conseguiram voltar ao ritmo de contactos e de iniciativas que tinham com as agências de viagens em 2019?
Em 2023 procurámos já chegar ao que conseguimos em 2019, ainda não foi possível mas notámos também que todo o mercado está a movimentar-se de uma forma muito forte e que as agências de viagens estão com um trabalho imenso para que tudo possa acontecer. Deixámos de fazer todas as ações que fazíamos, nomeadamente algumas visitas e passámos a fazer alguns webinars por uma questão de facilidade para as agências de viagens. Isto porque nos diziam que não tinham tempo para fazer todas as visitas porque estavam assoberbados com as vendas mas muitos também diziam que se marcássemos uma determinada hora iriam fazer tudo para estarem presentes. Isto levou a que tivéssemos esta mudança de estratégia, ou seja, continuamos com os eventos, com as visitas às agências de viagens e continuamos com as visitas a navios, embora não nos números de 2019 mas os webinars acabam por ser bastante benéficos até que os agentes de viagens consigam habituar-se à nova realidade.
Ainda estão a vender algum verão mas como trabalham sempre com muita antecedência, já estarão a trabalhar o inverno. Quais são os produtos de inverno que consideram mais adequados ao mercado português?
Desde que lançámos, há muitos anos, os Emirados, sempre foi um produto bastante querido do mercado português. Há cerca de um ano lançámos o Mar Vermelho, eu tive a oportunidade de há poucos meses fazer este itinerário e é algo único porque tem stay&cruise, que é outro produto que nós temos, e faz o Cairo, Sokhna, faz Safaga para ir a Luxor, faz dois portos na Arábia Saudita, vai a Aqaba na Jordânia para ir a Petra… é um itinerário extremamente completo e cultural, virado para uma parte ancestral do Médio Oriente. Tivemos muitos passageiros a efetuar este cruzeiro pela novidade do itinerário, até porque todos nós aprendemos na escola o que é o Egito, mas não a Arábia Saudita que foi um destino que me surpreendeu muito pela positiva.
Notámos que o itinerário do Mar Vermelho teve muitos repetentes porque já tinham feito outros cruzeiros mas este tem um tipo de carisma diferente. Conseguimos também notar que os cruzeiros que têm partidas de portos mais próximos de Lisboa são os preferidos, caso dos que saem de Barcelona.
Lançamos há uns tempos o norte da Europa no inverno, foi um produto relativamente bem conseguido porque foi a primeira vez e tivemos que puxar pelo mercado, e tivemos alguma surpresa positiva na resposta do mercado português. Não notámos ainda este ano apetência pelos cruzeiros nos Estados Unidos mas por razões que têm a ver ainda com a pandemia e com os voos e também porque as pessoas se concentrarem mais, no inverno que passou, em cruzeiros de maior proximidade.
Para o inverno de 2023-2024 vamos ter as Caraíbas e esperamos que sejam retomados os níveis de 2019. Vamos continuar a abrir mais mercados, este ano o Bellissima já está no Japão e vamos continuar a efetuar cruzeiros no Japão tanto no próximo inverno como no verão de 2024. À medida que vamos tendo mais navios vamos tendo também uma maior capacidade para abrir mercados – o Japão abriu e nós estávamos lá. A China provavelmente irá abrir e nós poderemos também estar lá. Ainda há poucos dias lançámos uma promoção sobre o período de inverno, chamada “Sol de Inverno”, em que temos as bebidas incluídas para todos os itinerários.
Relativamente ao ano de 2024 o que posso dizer é que já estamos com o dobro de reservas que tínhamos para 2019 no mesmo período, ou seja, em maio deste ano temos para 2024 o dobro das reservas que tínhamos em 2018 para o ano de 2019, o que é muito bom. Claro que naquela altura tínhamos menos quatro navios e isso faz diferença mas penso que é um bom indicador do mercado, nomeadamente porque nos faz pensar que as pessoas estão a voltar a reservar com maior antecipação.