Diogo Brites Santos, vencedor de um Xénio: Quando servir num casamento nos traça o caminho

Diogo Brites Santos é assistente de direção de F&B no hotel Six Senses Douro Valley, em Lamego, e ganhou recentemente o prémio de “Melhor Diretor de F&B” nos Xénios 2023. Apesar de tudo apontar para uma carreira de Gestor de Empresas, seguindo as pegadas do pai, foi com uma bandeja na mão que descobriu a sua vocação para a hotelaria e a área de F&B. O Turisver esteve à conversa com este jovem do Porto.
Sempre quis seguir a área do turismo ou tinha outros planos?
Na realidade não era esse o meu objetivo nem o meu trajeto era para ser feito na hotelaria, era para ser feito pela área de Gestão de Empresas, um pouco guiado pelo facto de o meu pai ter a sua empresa. Na altura ainda ingressei na Católica do Porto, onde comecei a tirar Gestão de Empresas e depois senti que não era algo que me fascinava, era muito teórico e eu quando aprendo algo, preciso ver a aplicação prática do conhecimento e não estava a conseguir ver. Sermos forçados a tomar uma decisão do nosso caminho, tão jovens, leva-nos a tomar uma decisão precipitada e então descobri que não era esse o meu caminho, mas também não sabia qual era.
Então como é que depois vai parar ao turismo?
Depois de ter desistido do curso de Gestão de Empresas comecei a trabalhar numa quinta de eventos como empregado de mesa, muito levado pelo facto de que queria arranjar algo para fazer e não pela motivação de ser aquele o meu caminho. Nunca tinha pegado numa bandeja nem nunca tinha sequer pensado que seria um trajeto a seguir. Ingressei nessa quinta onde trabalhava aos fins de semana e senti uma recompensa emocional que nunca tinha sentido antes, no aspeto profissional, quando no final de um casamento, os noivos vieram ter connosco dizer que sem nós aquele dia não teria sido tão especial. Foi algo que me recompensou muito a nível emocional e que me fez ingressar nesta área.
E depois entrou para a Escola de Hotelaria e Turismo do Porto?
Exatamente, continuando a ir trabalhar aos fins de semana em eventos como forma de me motivar e de saber o que é que poderia fazer. Foi na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto que tirei o curso de Restauração e Bebidas.
Portanto, sabia que era por essa área que queria ir…
Sim, aí foi quando eu senti que era por aí que eu queria ir.
Surgiu a oportunidade de ir para a Les Roches (…), em Marbella, onde tirei o meu bacharelato e especializei-me em Pequenas e Médias Empresas Empreendedorismo (…) Senti que aprendi muito, entrei num mundo internacional, multicultural, foi se calhar o sítio onde eu cresci mais …
Como se processou o seu percurso académico e profissional?
Quando acabei o curso de Restauração e Bebidas continuei a trabalhar nos eventos e casamentos, mas senti que ambicionava mais e ingressei como chefe de sala num restaurante no Porto. Mas precisava de algo mais, de mais conhecimento para dar o salto. Surgiu a oportunidade de ir para a Les Roches, escola especializada em formação em gestão hoteleira e turismo de luxo, em Marbella, onde tirei o meu bacharelato e especializei-me em Pequenas e Médias Empresas Empreendedorismo.
Senti que aprendi muito, entrei num mundo internacional, multicultural, foi se calhar o sítio onde eu cresci mais a nível pessoal porque tive contacto com muitas culturas, muitas pessoas e isso parecendo que não, quando se é um miúdo de 21 anos permite-nos dar um salto muito grande.
Depois de terminar o curso passou por Barcelona…
Exatamente, depois fui para Barcelona, em Espanha, onde estive 8 meses no W, um dos maiores e mais icónicos hotéis da cidade de Barcelona e depois comecei como supervisor de pequenos-almoços no primeiro hotel da cadeia Almanac Hotels, também em Barcelona. Na altura tinha um conceito muito inovador, era um boutique hotel apesar de ter 91 quartos, era muito focado no cliente e aí foi a primeira vez que tive o contacto com a supervisão e gestão de equipas. Depois passei para F&B Supervisor e deram-me a oportunidade de gerir o rooftop do hotel.
Depois dessa experiência regressei a Portugal, quase no início da pandemia. Cheguei em janeiro de 2020 e ingressei como manager do restaurante do hotel Neya do Porto, que também era um novo projeto. Construi tudo o que tinha a ver com a parte de Food & Beverage e apesar de ter só o restaurante a meu cargo, preocupava-me com o bar, os eventos e acabei por me tornar diretor de F&B do Neya Porto ao fim de um ano e alguns meses.
Foi o culminar do esforço de todo este tempo e todo o conhecimento que adquiri e que fui transmitindo às equipas por onde passei e que elas me transmitiram a mim e que me permitiu ser o profissional que sou hoje, porque sem elas não era nada.
Quando vim para o Six Senses Douro Valley foi uma coisa um bocado estranha, porque eu vi uma oportunidade no Linkedin, um hotel de luxo no Douro, mas a proposta era anónima. Candidatei-me e ingressei como Food & Beverage do Six Senses Douro Valley, que tem um conceito de hotelaria de luxo, descontraída, com o qual me identifico muito, até pelos valores da sustentabilidade. É a hotelaria do futuro. E ao fim de um ano tornei-me Assistent Director de F&B e ganhei o Prémio Xénios 2023.
Quais são os maiores desafios e dificuldades que encontra no dia-a-dia nesta área de F&B e na posição que se encontra?
Penso que as dificuldades é o que o mundo da hotelaria sente, é a parte da construção das equipas e a formação das mesmas, criar a estabilidade dentro das equipas.
Atrair talento internacional no interior do país é muito complicado
Sendo um hotel de interior nota-se ainda mais essa dificuldade?
Nota-se mais porque é muito difícil atrair talento internacional e talento das grandes cidades, vir para cá envolve muito sacrifício e esforço, porque estamos a sair de uma zona que tem tudo para uma zona onde falta oferta para quem é jovem, para quem está numa fase de construir carreira e que se procura muitas coisas que esta zona não tem.
O Diogo foi eleito nos Xénios vindo de um hotel que está no interior do país. Acha que a hotelaria nessa região de Portugal ainda é um pouco esquecida?
Depende da zona. Na zona do Douro já não é assim e isso vê-se pela quantidade de hotéis que estão a abrir por aqui, assim como restaurantes com chefes de renome, porque esta zona tem muito potencial e para quem crescer neste mundo hoteleiro é um sítio onde se tem muito para aprender. Não é só preciso trazer pessoas novas, é preciso também ver aquilo que as pessoas que vivem aqui têm para oferecer. Na minha opinião esta zona tem crescido muito pelo que o Six Senses aportou.
Não é o prémio que me deu valor, foi o ser reconhecido como alguém que está a trazer algo de novo à hotelaria. E tendo eu apenas 29 anos, acho que é um reconhecimento espetacular
O que significa para si ter recebido o prémio Xénios “Melhor Diretor de F&B”? Estava à espera?
Não sei quem me nomeou, descobri que fui nomeado, porque um colega enviou-me uma mensagem a dizer “parabéns, foste nomeado”. Eu não sabia e até lhe respondi: “fui nomeado para quê?”, ao que ele retorquiu “então, para melhor diretor de F&B”.
Depois passei à fase dos finalistas, mas nunca a pensar que ia ganhar, porque acho que ainda tenho tanto para aprender … Claro que o reconhecimento é fantástico. Quando recebi o prémio, por um lado fiquei em choque, mas ao mesmo tempo deu-me uma alegria muito grande, por saber que afinal todo este sacrifício e esforço serviu para algo.
Não é o prémio que me deu valor, foi o ser reconhecido como alguém que está a trazer algo de novo à hotelaria. E tendo eu apenas 29 anos, acho que é um reconhecimento espetacular.
Este prémio, acha que lhe pode abrir outras portas?
É engraçado, porque antes de eu receber o prémio tinha sido promovido, mas muita gente diz em tom de brincadeira que depois de ganhar o prémio fui promovido [risos.] Significa que tive dois reconhecimentos no espaço de uma semana que me fizeram ver que eu estava bem naquele trajeto. Mas sim, penso que pode abrir portas aqui dentro, também o voto de confiança que tenho tido dos meus diretores, mas isto também significa que o esforço e dedicação são importantes para nos abrirem portas. Nunca ninguém vai abrir as portas por nós.
Penso que me ajudou e que me vai ajudar no futuro e que é uma inspiração para outras pessoas com a minha idade, que podem ver que um dia podem ser eles a ganhar. Penso que é um impacto muito importante nas novas gerações verem que alguém com a minha idade pode ganhar um prémio destes e que há coisas muito boas dentro deste mundo hoteleiro.
O que é que o Diogo acha que tem trazido de novo ou que pode trazer para esta área do F&B?
Penso que o meu ponto mais forte é a criatividade e a capacidade da criação de algo de um momento para o outro, com estrutura e com pensamento. Penso que é isso que posso aportar: criatividade, capacidade de organização, uma visão sempre para a frente e não diária.