Desde menina e moça Joana Damião Melo queria trabalhar na hotelaria, agora foi eleita ‘Melhor Diretor de Hotel’
Joana Damião Melo, fundadora e proprietária do Senhora da Rosa, Tradition & Nature Hotel na ilha de São Miguel, unidade que também dirige, foi a vencedora dos Prémios Xénios 2024 – Excelência na Hotelaria, iniciativa da ADHP, na categoria de ‘Melhor Diretor de Hotel’. O Turisver falou com Joana Melo para ficar a conhecer quem é esta profissional.
Porque é que a Joana Melo decidiu abraçar uma carreira na hotelaria?
Em 1994 os meus pais abriram a estalagem Senhora da Rosa, na altura eu era uma miúda e nem sabia que carreira profissional queria seguir. Com o desenrolar dos anos, na Senhora da Rosa descobri esta minha vocação e esta minha paixão, ou seja, tive o imenso privilégio de poder observar como se trabalhava num hotel, nas diferentes secções.
Mesmo antes dos 18 anos, eu já queria muito trabalhar num hotel, começando mais pela área da receção porque sempre gostei muito de falar com as pessoas, de as receber como se as recebesse dentro da minha própria casa. Por isso, quando chegou a altura de optar por um curso universitário não tive dúvidas, fui para a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril tirar o curso de Direção e Gestão Hoteleira e fiz os três anos de bacharelato. Quando terminei o bacharelato decidi ir fazer os meus estágios para Espanha, onde acabei por viver quatro anos.
Em Espanha trabalhei para o Grupo Starwwod, depois regressei a Portugal e fiz a reabertura do Sheraton Lisboa – um grande investimento e uma grande remodelação que foram feitos na altura – na área comercial porque comecei a especializar-me na área de vendas e marketing.
Depois integrei sucessivos projetos que foram surgindo ao longo do meu percurso, desde o Martinhal, em Sagres, um resort que até pela sua localização apresentava muitos desafios mas que foi uma experiência muito interessante. Trabalhar num projeto que nada tinha a ver com grandes marcas internacionais em que eu, até aí, tinha feito o meu percurso, num projeto familiar e independente como o Martinhal deu-me outra forma de ver o negócio, trouxe-me muitas oportunidades, muitos desafios e foi uma experiencia muito enriquecedora.
Ao fim de dois anos fui para o Ritz-Carlton Penha Longa, do Grupo Marriott, onde estive cinco anos como diretora de vendas e marketing. Foi um desafio muito grande, também porque a equipa era muito grande, onde se trabalhava com orçamentos muito avultados e com um cliente muito especial. Fomos abrindo novas áreas de negócio, subprodutos que eu tive a oportunidade de liderara como o outside catering, por exemplo. Foi uma experiência muito interessante e na altura ganhei o prémio de Melhor Diretora de Vendas e Marketing da Ritz-Carlton da Europa, Médio Oriente e África, o que foi um reconhecimento muito interessante. Depois, já em 2015, decidi regressar aos Açores.
Depois de trabalhar e ganhar experiência em grandes multinacionais regressou aos Açores para readquirir e transformar a unidade que seus pais tinham aberto
O que é que a levou a regressar aos Açores?
É engraçado porque, na verdade, não estava nos meus planos regressar aos Açores porque achava que ia continuar nas grandes multinacionais. Tanto a Marriott como a Starwood, grandes cadeias internacionais americanas deram-me todas as bases que tenho hoje e que são muito importantes enquanto ‘escolas’, mas em 2015, por questões pessoais e familiares, senti que era hora de regressar a casa e de fazer algo pela minha terra.
Naquele ano os Açores começaram a desenvolver-se mais enquanto destino turístico, coincidindo com a liberalização do espaço aéreo e a entrada das companhias low cost que, de certa forma, ajudaram muitíssimo na promoção do destino, e tudo se desenrolou de uma forma muito natural.
Mas nunca tinha perdido a ligação aos Açores, a São Miguel?
Nunca perdi ligação à terra mas, infelizmente, ao longo dos anos em que estive fora, em 2011, a Estalagem Senhora da Rosa onde eu encontrei a minha vocação, fechou portas. Tratou-se de uma falência em que perdemos todo o imóvel que esteve à venda durante oito anos – havia muitos compradores interessados mas nunca materializavam, parecia que estava à minha esperava.
Quando regressei em 2015, fui trabalhar para novos projetos que surgiram na ilha, nomeadamente o Santa Bárbara Eco Beach Resort, um projeto diferenciador junto à praia de Santa Bárbara na Ribeira Grande, que tem o areal mais comprido da ilha, e fiquei lá durante cinco anos como diretora-geral e diretora de vendas e marketing. Durante esse período os proprietários foram abrindo outras pequenas unidades e eu fui sempre acompanhando as aberturas e acumulando funções porque com a bagagem que eu trazia de fora, foi fácil conseguir juntar vários pequenos projetos.
Em 2017, enquanto estava ainda a trabalhar nesses projetos, surge a ideia de recomprar a Senhora da Rosa, embora não tivesse estado segura de que o iria conseguir porque era um investimento de seis milhões de euros e era necessário um financiamento gigante, o que fazia com não fosse facilmente alcançável.
Entre 2017 a 2019 continuei vinculada aos outros projetos e em paralelo fui trabalhando na recuperação da Senhora da Rosa. Foram dois anos de muito trabalho administrativo, de análise de projeto e de tentativas para reunir todas as condições necessárias, mas aconteceu. Em 2019 readquirimos o imóvel, começámos com as obras e em 2020 tínhamos tudo pronto para arrancar mas, infelizmente, surgiu a pandemia, o que nos levou a ter que esperar um ano para conseguirmos ter as condições mínimas para a reabertura, embora tivéssemos a equipa já montada, e reabrimos em 2021, ainda durante a pandemia, mas não dava para esperar mais.
Um hotel todo equipado, se não está em funcionamento torna-se complicado e tivemos que arriscar e abrir. E foi bom porque nos deu a oportunidade de pôr toda a máquina a funcionar e de aos poucos irmos pondo a casa em ordem.
Tivemos o nosso primeiro ano completo de funcionamento já em 2022, o ano de 2023 foi extraordinário, batemos todos os recordes e este ano estamos a caminhar no mesmo sentido.
Entretanto temos um novo projeto que foi aprovado no exato dia em que falamos, que é quase uma ampliação da senhora da Rosa, não dentro do mesmo espaço mas do outro lado da rua, onde vamos ter mais 10 unidades de alojamento.
Mas será dentro das mesmas características do Hotel Senhora da Rosa?
Sim, procuro sempre a essência de cada lugar, acho que o bonito é percebermos a história de cada sítio, transformarmos, inovarmos mas sem nunca perder a identidade e a alma dos lugares.
Está trabalhar-se bem no turismo dos Açores?
Penso que já se tem feito muito mas ainda há muito mais para fazer. É difícil conseguir-se tudo com a rapidez que gostaríamos, mas acho que aos poucos estamos a evoluir e a ir pelo bom caminho.
“ … agora tento fazer ao contrário, ou seja, tento marcar as pessoas que trabalham comigo, tento atrair o talento, reter as pessoas e inspirá-las porque o turismo é uma indústria de pessoas para pessoas mas o que faz muito a diferença é a liderança”
Como é que encarou o prémio de Melhor Diretor de Hotel?
Com uma enorme alegria. Quando olho para trás, e já são 24 anos, penso em todas as pessoas que me acompanharam ao longo da minha carreira. Não há nenhuma empresa onde eu tenha estado em que não tenha aprendido, que não tenha sido uma experiencia positiva ou que não tenha contribuído para a profissional que sou hoje e há pessoas que me marcaram muito ao longo da minha carreira.
Por isso, agora tento fazer ao contrário, ou seja, tento marcar as pessoas que trabalham comigo, tento atrair o talento, reter as pessoas e inspirá-las porque o turismo é uma indústria de pessoas para pessoas mas o que faz muito a diferença é a liderança. Nos dias de hoje, depois de uma pandemia em que as pessoas se sentiram muito sós, é preciso haver uma maior união, uma maior coesão e proximidade. No meu dia-a-dia no hotel eu tenho uma grande proximidade com as pessoas, sejam clientes ou colaboradores porque acho que isso faz toda a diferença.
Voltou aos Açores, é proprietária de uma unidade hoteleira que também dirige. Significa que voltou para ficar?
Nunca sabemos o dia de amanhã. Se em 2014 me perguntasse se iria regressar a São Miguel, isso não me passava pela cabeça em termos profissionais, apenas quando me reformasse e a verdade é que aconteceu. Não quer dizer que a Senhora da Rosa, com outra vertente, outro nome e outra abordagem, não possa entrar noutros mercados… e quem diz outros mercados, tanto pode dizer outras ilhas nos Açores como pode dizer no continente. Não fecharia nenhuma porta, não diria que não a nada.