Dakhla: Uma porta entre o Atlântico e o grande Saara

Relaxa-se nas areias das praias banhadas pelo Atlântico, voa-se em pranchas de kitesurf e de windsurf numa baía que tem o seu nome inscrito no Clube das Mais Belas Baías do Mundo, aventura-se por trilhos que atravessam as grandes dunas do Saara e descobre-se a cultura berbere quando percorremos o souk e as labirínticas ruas da cidade. Assim é Dakhla.
Por Fernando Borges
Há quase sempre um vento que sopra com tanta força que se torna obsessivamente provocante. E ninguém reclama desse vento que vai alternando entre o que chega carregado da maresia do Atlântico e um outro de areias vindas do grande deserto do Saara, os mesmos ventos que foram sentidos por Antoine de Saint- Exupéry durante uma das suas escalas por estas terras onde um pequeno príncipe, uma rosa e uma raposa “conversavam” com o tempo que aqui por vezes parece interminável.


E é no meio deste cenário que encontramos Dakhla, que não é apenas a cidade mais a sul de Marrocos e ponto de encontro entre as culturas árabe, berbere e saharauí, mas também a capital de uma região que começa a despertar para o turismo depois de ter sido descoberta pelos entusiastas dos desportos náuticos, em especial pelos praticantes de surf, wind e kitesurf, transformando-a no seu paraíso africano.
Chamam-lhe também “cidade do vento”, dos sabores e das mais genuínas tradições berberes e que se vão descobrindo entre o colorido, o exotismo e a animação do seu “souk”, enriquecendo de experiências os visitantes, enquanto à sua volta se estendem os areais dourados das suas praias, como as famosas PK25 e Foum El Bouir, para um pouco mais além a praia de Pointe du Dragon e Puerto Rico completarem este paraíso mundialmente famoso principalmente por esses tais amantes dos desportos náuticos e que são os lugares onde se encontram a maioria dos hotéis e resorts de Dakhla, como o Lagon Energy, Bavaro Beach, Dakhla Camp, Westpoint ou o Palais Rhoul & Spa.
Entre um turismo eco responsável e tradições
Mas esta é apenas parte de uma simbiose perfeita entre a natureza e o homem, num prazer que convida a momentos de puro relaxamento nas areias de uma lagoa banhada por tranquilas águas cristalinas e que também é ponto de partida para o encontro com a Ilha do Dragão, uma formação de areia que se ergue no meio da Lagoa de Dakhla, lugar de nidificação de diversas aves marinhas e que complementa uma baía tão perfeita que levou o Clube das Mais Belas Baías do Mundo a inscrevê-la na sua lista.


Também desta lagoa e desta baía na foz do Rio do Ouro onde se reflete Dakhla, cidade fundada pelos espanhóis no século XIX e que começou por se chamar Villa Cisneros para se transformar num importante entreposto comercial e escala obrigatória para as caravanas que atravessavam as dunas impetuosas do deserto, se parte ao encontro de outras atracões que fazem com que o Turismo de Marrocos aposte cada vez mais em Dakhla como um destino emergente e sustentável.
E é assim que nos encontramos com o Parque Nacional de Oued, uma área de conservação natural que abriga uma vasta variedade de vida selvagem, em especial aves migratórias, como flamingos cor-de-rosa que se misturam com o íbis-careca de plumagem preto-azulada e bico longo e curvo, e que é igualmente o lar de uma população de focas monge que escolheram as águas cristalinas da sua costa para aí viverem entre raias e golfinhos corcunda. Assim como é o lugar onde podemos encontrar várias comunidades pesqueiras, como a de Pointe de La Sarga, não muito longe de águas onde se estende um vasta e mundialmente famosa produção de ostras, comunidades que mantêm métodos tradicionais de gestão sustentável dos recursos marinhos, para um pouco mais ao lado encontrarmos a fonte termal de Asmaa que nos oferece uma experiência única de saúde e bem-estar, atraindo um número cada vez mais crescente de turistas locais e internacionais, uma estância termal no deserto que foi outrora frequentada por nómadas e pescadores locais,
E logo ali… a eterna magia do deserto
Mas, sempre que se fala de Marrocos, aparece logo a palavra Saara, esse imenso deserto que faz parte do imaginário de qualquer viajante, com as suas douradas e desafiantes dunas, e que sempre foi um dos destinos preferidos por quem sente correr dentro de si o espírito aventureiro e de explorador, assim como por quem tem um apaixonante fascínio pelos grandes espaços, esses que respiram liberdade.
É um Saara que aqui, em Dakhla, aparece como que um prolongamento das águas do Atlântico e que começa numa elevação feita de areia branca formada pelo efeito dos ventos e transformada numa das principais atrações desta região de Dakhla-Oued Ed Dahab, a Duna Branca, uma curiosidade natural que se ergue no meio de uma lagoa de vários tons de azul e verde para formar mais uma baía e de onde se tem, quando atingimos o seu topo, após uma resistente subida a pé, uma fantástica vista de 360º que revela todo o imponente e indescritível cenário que nos rodeia.


Este pode ser simbolicamente o ‘ponto 0’ para começar a descoberta do grande deserto e explorá-lo num veículo 4×4, seja ele um jeep ou uma moto 4, ou montados no dorso de um bamboleante camelo, e percorrer milenares e arenosos trilhos também feitos de pedra, caminhos agrestes muitas vezes envoltos em espessas nuvens de pó. Também para um constante subir e descer dunas, atravessar desfiladeiros e tornear verdadeiros muros de areia que, aqui e ali, escondem pequenos oásis ou manadas de camelos entre uma ou outra paragem para escutar o profundo silêncio que nos chega de algum intangível lugar.
E há a noite, esse momento que se anuncia após um esplendoroso pôr-do-sol para nos convidar a sentar à volta de uma fogueira ou à porta de uma tenda de um acampamento nómada no meio de mais uma duna e olhar as estrelas enquanto descobrimos parte da cultura e tradições do povo saharauí através de verdadeiros contadores de histórias e entre o saborear de um genuíno “chá do deserto”. Talvez este seja mesmo aquele momento mágico em que a imensidão da paisagem e de tudo que nos rodeia toma conta de nós. Um momento em que também nos lembramos mais uma vez de Saint- Exupéry quando deixou como legado as palavras: “Sempre adorei o deserto (…) Não se vê nada. Não ouvimos nada. E, no entanto, algo brilha no silêncio (…)”.
O Turisver visitou Dakhla a convite do Turismo de Marrocos