Costa Venezia: Navegar entre testemunhos da História da Humanidade
É um daqueles desafios irrecusáveis. E assim se parte da mágica e inebriante Istambul para um cruzeiro de oito dias em direção do mar Egeu e de lugares que, também eles, oferecem um pouco da imortalidade histórica e cultural da Europa, do Mundo e do Homem.
Por Fernando Borges
Há um novo dia que se anuncia com a chegada a oriente, onde dizem já ser o continente asiático, dos primeiros tons laranja que tomam conta do horizonte e do céu recortado em contraluz por alguns dos 10.000 minaretes que dizem existir na cidade. Mas se esta é uma imagem que impressiona quando se olha do último deck do Costa Venezia para o lado asiático do Estreito de Bósforo, não deixa igualmente de impressionar quando o olhar se dirige para o lado europeu desse mesmo estreito onde, já com outros tons de claridade, se vão descobrindo com uma outra nitidez mais alguns dos tais minaretes que dão forma às cerca de 2.000 mesquitas que também dizem existir na cidade que se divide entre a Ásia e a Europa, Istambul.
Istambul, Turquia
E é aqui, na cidade que um dia já se chamou Bizâncio e Constantinopla, que foi capital do império romano do oriente e do império otomano, que se iniciam dois itinerários oferecidos pelo Costa Venezia, permitindo numa única viagem conhecer e explorar lugares como as turcas Esmirna e Bodrum, e as gregas Mikonos e Atenas, ou Kusadasi, na Turquia, com overnight, Rodes e Heraklion na Grécia.
Mas antes de largar as amarras que o prendem ao novíssimo terminal de cruzeiros de Galataport Istambul, um velho e histórico porto que se rodeou de projetos inovadores para servir de inspiração ao que é hoje um moderno e animado centro de compras, arte, gastronomia e cultura, há que agarrar o tempo com as mãos e os acasos com o olhar.
Para que isso seja possível, o Costa Venezia é durante dois dias e uma noite um “hotel” de referência a partir do qual se parte à descoberta desse universo de movimentos, cores, odores e culturas que desde tempos ancestrais teima em cativar quem visita esta cidade cheia de eternos legados para a Humanidade e uma imersiva viagem ao passado. Mas também ao presente de uma Istambul que se mostra a cada passo ser muito asiática para ser apenas europeia, e muito europeia para ser só asiática.
Entre palácios e tentações
Visita-se bairro de Sultanahmet, onde se concentram os principais cartões-postais da cidade, como a agora chamada Mesquita Aya Sophya e a Mesquita Azul com os seus impressionantes minaretes e que se olham frente a frente através de um belo jardim como que desafiando as suas grandiosidades, deliciamo-nos e imaginamos estórias vividas no Palácio Topkapi, reflexo do esplendor máximo do Império Otomano, uma imensidão esculpida em mármore e recheada de belos pátios de azulejos debruçada sobre o Mar de Mármara que no auge das suas glórias chegou a abrigar uma população de cerca de quatro mil pessoas, entre concubinas, eunucos e membros da corte, e deixamo-nos encantar pela medieval Torre Gálata.
Também há a obrigatoriedade de navegar suavemente pelo Bósforo num passeio turístico, esse estreito que conecta o Mar Negro com o Mar de Mármara, e a partir dele olhar para a Europa e para a Ásia ao mesmo tempo que se vão descobrindo tesouros como o Palácio de Dolmabahçe, que foi o primeiro palácio em estilo europeu construído em Istambul e residência de alguns sultões do Império Otomano. E olha-se para a Torre de Leandro, ou Torre da Donzela, erguida sobre uma ilhota no estreito e que foi originalmente construída em 408 A.C., uma espécie de portagem e de torre de controlo do movimento dos barcos no Bósforo, ou para a Fortaleza Rumeli.
Mas nunca teremos estado em Istambul se não nos deixarmos tentar pelas compras no Grande Bazar, o maior mercado coberto do mundo, um emaranhado de mais de 60 ruas e de cinco mil lojas que se transforma numa verdadeira experiência antropológica e onde comprar tapetes, bules de prata, lanternas, joias, porcelanas ou artigos de couro, que muitas vezes é o que menos importa, parece jogar com a resistência à tentação. Assim como é obrigatório deixarmo-nos envolver pelos aromas e sabores do Mercado das Especiarias, ou de nos sentarmos num dos tradicionais cafés frequentados apenas por homens e que parecem fazer parte de uma secular paisagem cultural.
E seguimos por ruas, praças, ruelas e jardins de uma Istambul que tão depressa é caótica como serena, numa viagem a um passado, que muitas vezes nos parece exótico, e uma modernidade contemplativa entre mais palácios, hammas seculares e os sempre presentes minaretes de mesquitas coroadas por domos.
Para lá do Bósforo, o Mar Egeu
E é com os sentidos repletos de fascínio que regressamos ao Costa Venezia. É que à nossa espera há ainda muito mar para navegar. Há que olhar mais uma vez para essa cidade situada entre dois mares, o Mar de Mármara e o Mar Negro, entre dois continentes, a Europa e a Ásia, e entre dois mundos, um cheio de tradições e o moderno. E enquanto as amarras vão sendo libertadas, de terra ainda chega, como que num “até breve”, o chamado dos muezins anunciando o início de mais uma prece diária.
E parte-se. Sabe-se que se parte porque agora o ar é atravessado pela voz de Andrea Bocelli e o tema “Con Te Partirò”. Eàproa começa a desenhar-se, cada vez mais próximo, o Corno de Ouro e o Bósforo. A partir daqui é mar. E novos portos. Agora e já nas águas puras no seu azul do Mar Egeu.
E ali está Esmirna, cidade entre sete colinas que abrigava sete igrejas que dizem ter sido destinatárias das cartas registradas no livro do Apocalipse, que reivindica ser o local de nascimento de Homero, o épico poeta da Grécia Antiga, e que disputava durante o primeiro século D.C. com Pérgamo e Éfeso a posição de cidade mais importante da Ásia.
Esmirna / Èfeso
Na realidade é Èfeso o centro de todas as atenções e o destino principal de quem desembarca em Esmirna, cidade fundada pelos gregos, ocupada pelos romanos e reconstruída por Alexandre, o Grande, antes de fazer parte do Império Otomano no século XV.
Obrigatoriamente, os primeiros passos em terra seguem em direção de Èfeso, um dos maiores tesouros não só da Turquia como da humanidade, que foi um dia a segunda cidade mais importante do Império Romano. E como é fácil ainda hoje, milénios passados, concordar com a História. É que perante os nossos olhos ergue-se um dos maiores museus arqueológicos do mundo ao ar livre que o confirmam. Assim como nos dizem da grande importância para o mundo pagão, com destaque para o Templo de Artémis, a deusa grega protetora dos bosques, da caça e dos animais selvagens, um templo que era constituído por 127 colunas de mármore que guardavam no seu interior a estátua da deusa em ébano, ouro, prata e pedras preciosas, fazendo por isso parte das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Mas, hoje, dessa maravilha apenas resta uma coluna que conseguiu resistir às invasões, saques e terremotos ao longo dos tempos.
Mas continuamos a percorrer ruas pavimentadas com mármore originais que nos levam a outros monumentos grandiosos, como o Grande Estádio e a Biblioteca de Celso, duas das edificações mais conservadas do sítio arqueológico, assim como a lugares que são referências do cristianismo e que tem nas ruinas da casa onde morou a Virgem Maria o seu maior legado.
O fascínio de um mar azul
Mas há que regressar a Esmirna e ao Costa Venezia para partir ao encontro do porto seguinte. E já a navegar fica um último olhar para o topo de um penhasco onde o Castelo Kadifekale, ou Castelo de Veludo, construído durante o reinado de Alexandre O Grande, parece indicar o rumo que nos levará até Riviera Turca, a Bodrum.
A receber-nos, está o Castelo de São Pedro, uma obra da arquitetura dos Cavaleiros Hospitalários erguida com pedra vulcânica e mármores do Mausoléu de Halicarnasso, abrigando atualmente o Museu Arqueológico Subaquático, uma presença que se destaca em qualquer olhar que se tenha sobre ou a partir da baía de Bodrum.
E é da sempre animada marina que se parte a bordo de um tradicional “gulet”, um barco nativo desta região, para um cruzeiro pelas águas transparentes que refrescam pequenas enseadas e que convidam a um mergulho enquanto se olha para brancos vilarejos empoleirados nas encostas dos morros, formando um cenário encantador, como o que é coroado por um conjunto de moinhos de vento.
Mas existe a própria Bodrum, uma pequena cidade que é sinónimo de charme onde vaguear pelas suas estreitas ruelas e ruas marcadas por pequenas casas brancas onde se penduram varandas coloridas por buganvílias é um verdadeiro prazer, assim como o é caminhar pela orla marítima, em especial pela baía Kumbahçe, desenhada por pequenas praias animadas por restaurantes, bares, esplanadas, espreguiçadeiras e pufs que parecem baloiçar sobre as transparentes águas.
Olha-se o mar. E dele, já a bordo do Costa Venezia, também e de novo para as pequenas casas brancas e para a encantadora paisagem que envolve este paraíso do litoral turco debruçado sobre o Mar Egeu. Há uma luz que dá forma a tudo o que se estende perante os nossos olhos. A mesma luz que nos recebe em Atenas, o porto de escala que se segue neste itinerário.
Atenas, um lugar onde o tempo é eterno
Incansável. Insaciável. Emocionalmente devoradora. Assim podemos definir aquela que é a capital mais antiga da Europa, a cidade dedicada à deusa da sabedoria, Atena. Que é o berço da democracia, terra de filósofos e amante das artes. E são poucas as cidades do mundo que com ela poderão rivalizar quando se fala do peso histórico dos monumentos. Assim aparece o Partenon, coroando um simples morro a que deram o nome de Acróplole, o Teatro de Herodes Atticus, numa das suas encostas, o Templo de Poseidon e o de Zeus Olimpico. Também o Arco de Adriano, o Estádio Panatenaico, originalmente construído na época romana e posteriormente reformado para sediar os primeiros Jogos Olímpicos modernos em 1896. E a Ágora Antiga, que foi o centro social e político da antiga Atenas, o Templo de Hefesto, o templo antigo mais bem preservado da Grécia, o Parlamento Helênico, um austero edifício neoclássico na famosa Praça Syntagma construído na década de 1830 como Palácio do rei Otto, o primeiro rei da Grécia, para um século depois passar a abrigar o Parlamento grego. E lá está o mundialmente famosa render da guarda e os seus “tamancos”, uma das mais conhecidas e procuradas imagens de Atenas.
Ao percorrer Atenas, muitas são as vezes que parece estarmos num lugar de tempos suspensos. Mesmo quando deixamos de lado a Atenas monumental e arqueológica para percorrermos ruelas e becos estreitos e sinuosos “decorados” por casas caiadas de branco de bairros residenciais, como o de Anafiotika, parte do antigo e histórico bairro conhecido por Plaka. Um mundo culturalmente rico e o mais apetecido pelos turistas, não só pelas intermináveis Agias, capelas e igrejas bizantinas que fazem parte do ADN de Atenas, mas também local obrigatório para quem quer ter encontro com a tradicional gastronomia ateniense e de animada peregrinação noturna.
Presságios de um regresso ao porto de partida
Mas há mais uma noite de navegação que nos espera e que chega para dar razão a quem afirma que num navio de cruzeiro acima do comandante e com poder para fazer este mudar o itinerário existe o fator “condições atmosféricas”. E foi este fator que fez o Venezia rumar na direção de Kusadasi, em vez da tão desejada ilha grega de Mikonos. Assim regressámos mais cedo a terras turcas e a outra das portas de entrada para quem quer visitar Éfeso.
Kusadasi, Turquia
Marcadamente uma cidade que tem na sua ligação com o mar um dos seus principais atrativos, Kusadasi, que podemos dizer dividir-se entre a sua longa marginal percorrida por praias, restaurantes e esplanadas e o seu centro histórico onde largas ruas pedonais se encontram com antigas ruas estreitas, velhas escadarias e praças, como a que tem como principal atração uma bela mesquita, enquanto um pouco mais ao lado uma porta em estilo árabe dá entrada, também aqui, a um bazar de rua.
E parte-se mais uma vez. Agora em direção do porto e da cidade onde tudo começou, de Istambul. Mas antes, e já com as amarras soltas, olha-se para a ilha de Guvercinada, uma ilha ligada a terra por uma passagem pedestre e onde apenas existe um velho castelo, e que talvez seja a maior atração monumental de Kusadasi.
A partir daqui é o Mar Egeu e um dia de navegação onde tudo o que há para fazer é usufruir do conforto, animação e “dolce far niente” oferecido pelo Costa Venezia. (ler aqui)
Até que avistamos a ponte “Canakkale 1915″, batizada em homenagem aos soldados turcos que combateram numa sangrenta batalha que ali ocorreu contra franceses e ingleses durante a Primeira Guerra Mundial, e da qual saíram vencedores, passando a ser desde a sua inauguração em março de 2022 a maior ponte suspensa do mundo, e também ela a ligar a Europa à Ásia.
E assim ficamos a saber que estamos no Estreito de Dardanelos, que a seguir vem o Mar de Mármara e o Estreito de Bósforo. E aqui, acontece o reencontro com as mesquitas e minaretes da sempre fascinante e mágica Istambul.
*O Turisver viajou a convite da Costa Cruzeiros