Coordenador da TIA apela à reflexão crítica e multidisciplinar sobre o turismo em excesso

Para o professor José António Porfírio, coordenador do Projeto TIA – Tourism International Academy, da Universidade Aberta, a ideia de que há turismo a mais deve levar a que se repense o futuro do turismo “de forma mais justa, equilibrada e sustentável”, reequilibrando a sua relação com as comunidades locais.
No encerramento do seminário internacional dedicado ao tema “Excesso de Turismo e a Promoção da Vida Pública: limitar, proibir, preservar, salvar?”, realizado recentemente na Universidade Aberta, em Lisboa, o professor José António Porfírio, coordenador institucional do Projeto PPR TIA – Tourism Internacional Academy, sublinhou que o sobreturismo é “um tema pertinente e complexo, que exige uma abordagem crítica e multidisciplinar”, tendo vincado que “entre a realidade e a construção mediática, o sobreturismo desafia-nos a repensar o futuro do turismo de forma mais justa, equilibrada e sustentável”.
Neste sentido, alertou para a “necessidade urgente de reequilibrar a relação entre turismo e a vida local, garantindo que os residentes não sejam meros figurantes no cenário das suas próprias cidades”, até porque, sublinhou, “o que designamos por sobreturismo pode ser, muitas vezes, mais um sintoma de tensões sociais e políticas do que um simples excesso numérico de visitantes”.
Para José António Porfírio, que é diretor do departamento de Ciências Sociais e de Gestão da Universidade Aberta, o termo sobreturismo transformou-se “numa palavra-chave recorrente, mas nem sempre suficientemente questionada”. Assim, disse, “temos de perguntar se estamos perante uma realidade efetivamente nova ou se é apenas a reaparição de problemas antigos sob uma nova roupagem”.
Referindo-se aos protestos contra o sobreturismo que têm acontecido em várias cidades e destinos turísticos, lembrou que em Lisboa, embora os protestos não sejam tão mediáticos, “têm-se multiplicado as ações de associações de moradores contra o licenciamento de novos alojamentos locais e a turistificação de bairros como Alfama, Mouraria e Bairro Alto. A insatisfação é visível em murais, faixas e assembleias populares”, descreveu.
Entre outras problemáticas, o docente destacou “a sobrelotação e disrupção da vida quotidiana”, motivando queixas ao nível da ocupação excessiva dos transportes público, da dificuldade de acesso a espaços públicos, do aumento dos custos de habitação e deslocação de residentes. Além disso, a “pressão sobre infraestruturas urbanas”, “a degradação ambiental” e a “a perda de autenticidade e identidade cultural”, quando “o espaço urbano se transforma num palco turístico, onde a autenticidade é substituída por encenações para consumo externo”, são outras situações que motivam queixas por parte dos residentes.
Para distinguir os impactos reais do turismo das representações mediáticas, José António Porfírio apelou a uma “abordagem crítica, capaz de ir além das imagens de multidões e protestos que muitas vezes dominam as manchetes”. Isto porque, lembrou, “o risco é que, ao dramatizar o fenómeno, desviemos o olhar de soluções estruturais que são urgentes”.
O coordenador e docente, concluiu que “a resposta ao sobreturismo passa por uma mudança de paradigma, promovendo práticas que equilibrem os benefícios económicos com a preservação ambiental e o bem-estar das comunidades locais”.
O Seminário, realizado no passado dia 11 na Universidade Aberta, em Lisboa, foi promovido pelo Instituto Francês de Imprensa (IFP) da Universidade Paris-Panthéon-Assas e pelo Projeto PPR TIA – Tourism International Academy da Universidade Aberta.