Constantino Pinto: o mercado tem capacidade para absorver o produto
Na segunda parte da entrevista a Constantino Pinto, diretor de vendas da Ávoris em Portugal, falámos da ralação com as agências de viagens, da oferta que os operadores estão a colocar no mercado e de perspetivas para o ano em curso.
No caso da Ávoris, até pela vossa dimensão, não se pode dizer que estão no ano zero depois da pandemia, até porque nunca pararam completamente, não é assim?
No ano de 2020 não tivemos operações charter em Portugal mas continuámos a operar com marcas como a Rhodasol. Aqui notou-se que a componente hoteleira assumiu um destaque muito grande e a marca número um passou a ser a Rhodasol, o nosso banco de camas mas em 2021 já tivemos as nossas operações, embora não com a dimensão nem com a frequência que queríamos, mas conseguimos manter uma regularidade até ao fim da temporada, nomeadamente com as Caraíbas – Cancun e Punta Cana.
Hoje, quando analisamos a oferta que está no mercado, ela aparentemente é excessiva. Está de acordo?
Não, aquilo que nos tolda o entendimento tem muito a ver com os dois anos que acabámos de viver. Penso que o mercado tem capacidade para absorver o produto que está colocado. Nós, em anos normais, tínhamos, em boa parte da temporada, três rotações charter com 388 lugares disponíveis para Punta Cana e outras três para Cancun, com o mesmo número de lugares. Depois ainda tínhamos a Jamaica, com uma rotação semanal e Varadero, também com uma rotação e, em colaboração com a Sonhando, tínhamos os Cayos, também com uma rotação semanal, ou seja, a oferta era claramente superior à que temos hoje e que é de uma rotação semanal para cada destino, sendo que Cuba só vai começar em julho e Cabo Verde em junho. Se às operações tradicionais juntarmos o que temos de novo, ainda ficamos muito longe da disponibilidade de lugares que tínhamos. Se fizermos este trabalho ao pormenor, com todas as operações disponíveis no mercado, verificamos que não temos assim tanta disponibilidade como se podia pensar.
Relação com os agentes de viagens baseada no respeito mútuo
Têm consolidado a vossa relação com as agências de viagens?
A nossa preocupação foi sempre a de termos uma relação com os agentes de viagens, não baseada na dependência mas no respeito mútuo, na seriedade, no profissionalismo, na entrega, na ética porque, apesar de poder parecer utópico, acreditamos que os negócios têm que ser cada vez mais humanizados e estes são fatores que não podemos nunca descurar. Se reduzirmos tudo isto ao fator preço, sobramos todos, pomos um site a vender por determinado preço e está feito. Eu tenho que ter uma relação com o agente de viagens que lhe permita a ele comunicar-me os problemas e dificuldades que tem e depois compete-me a mim, enquanto operador turístico, encontrar soluções e respostas que permitam ao meu cliente dar respostas ao cliente final. Essa tem sido a relação que temos construído e não duvido de que os agentes de viagens sabem reconhecer isso. Há uma diferença nesta equipa: somos uma equipa com rosto, uma equipa que dá a cara hoje como deu nos tempos da pandemia – estivemos sempre presentes, em 2020 e 2021 desdobrámo-nos em iniciativas comerciais, em webinars, criámos o ÁvorisTraining que foi um êxito de participação e um ponto de encontro interessante.
Com a situação estes dois últimos anos, há quem afirme que vai haver um maior engajamento das agências em agrupamentos ou franchisings para que possam estar mais protegidos e preparados para reagir em determinadas situações mais complexas. A acontecer, isto poderá facilitar-vos o trabalho?
Penso que sim, é muito mais fácil definirmos políticas que sejam comuns, porque o imput que nos chega também é comum e reflete as preocupações de um coletivo, seja em forma de grupo ou em forma de rede. É sempre mais fácil ter um rosto ou um grupo de rostos que represente um coletivo e fale por esse coletivo como é mais fácil reunir com 10 ou 20 entidades do que reunir com 1.500, primeiro porque isso é humanamente impossível e depois porque não conseguimos ter a perceção da realidade de cada um.
E negociar é mais fácil?
Não digo que seja mais fácil mas é mais desafiante. O que nos é exigido acaba por ter outro peso porque estamos a falar de uma massa critica completamente diferente, que não existiria individualmente, mas isso também nos permite a nós, enquanto fornecedores, operadores e parceiros, criar os nossos patamares de exigência. Acho que é uma dinâmica muito interessante e muito positiva.
“(…) o nosso objetivo para este ano seria encontrar um resultado equilibrado em que não estivéssemos a números vermelhos, estamos a trabalhar nesse sentido e tudo indica que conseguiremos lá chegar”
Quais são os vossos objetivos para este ano?
Eu diria que isto é mais Constantino Pinto do que Ávoris Corporación Empresarial mas não estou a fugir às metas do grupo: o nosso objetivo para este ano seria encontrar um resultado equilibrado em que não estivéssemos a números vermelhos, estamos a trabalhar nesse sentido e tudo indica que conseguiremos lá chegar.
Comparativamente a 2019, estão a pensar ficar muito próximos ou não?
Uma visão realista não nos permite sequer pensar nesses valores, talvez em 2023 consigamos lá chegar. Se nos situarmos entre os 60% e os 70% desse valor – são números meus – já seria muito bom.
Quantos aviões é que têm este ano baseados em Portugal?
Temos dois, ambos de longo curso, temos um A330 que é o que já tínhamos cá e que está a operar agora porque o nosso segundo avião, um A330-900neo, de 388 lugares está em manutenção e só estará disponível no final deste mês ou princípios do próximo. Assim que estiver disponível entrará em operação, e termos os nossos 388 lugares a bordo de um avião mais silencioso e confortável, que tem um ambiente de cabine mais agradável, com entretenimento individual.
Conseguem ocupar esse avião a semana inteira?
Antigamente sim – em 2019, o avião voava todos os dias, não parava, agora não. Mesmo no pico do verão sobram alguns dias e o avião fará operações de Espanha. Na época em que não temos operação, o avião é utilizado onde for necessário porque a gestão da companhia aérea é feita globalmente.
Já estão a pensar no inverno 2022-2023?
Já se está a trabalhar nisso mas ainda não está nada fechado porque a preparação desta temporada e as adaptações de ultima hora que temos vindo a fazer constantemente, consome-nos muita energia, mas temos já ideias claras sobre as operações que iremos ter.