Consciência ambiental cresce mas não diminui desejo de viajar, conclui estudo
A Statista, empresa parceira da ITB especializada em estudos de mercado, fez entrevistas em mais de 55 países, e concluiu que uma coisa são as preocupações com o ambiente, outra é alterar planos de viagem ou pagar mais por causa disso. Mas já se notam mudanças.
Que as alterações climáticas têm contribuído para uma maior consciência ambiental por parte dos consumidores é hoje uma verdade inquestionável e também em férias ou quando pensam nas férias as pessoas sentem essa preocupação. Ainda assim, são raros os casos em que um consumidor altera os seus planos de viagens ou não se importa em pagar mais por uma viagem mais sustentável. Já vai havendo quem o faça, mas o número é diminuto, segundo conclui o mais recente inquérito da Statista sobre este tema.
A nível mundial, a indústria de viagens contribui com cerca de 10% do PIB, mas é responsável por cerca de 5% das emissões de CO2. Segundo as conclusões do estudo da Statista, “as mudanças climáticas estão a fazer com que os viajantes criem uma maior consciência ecológica nas não a ponto de diminuir o desejo de viajar”.
De acordo com os resultados do inquérito, “as mudanças climáticas têm pouco efeito sobre o desejo das pessoas de viajar”, com as viagens ao exterior a continuarem com procura elevada.
Isto porque, se é verdade que os viajantes querem evitar voar, não é menos verdade que continuam a planear fazê-lo, nomeadamente em longo curso. “Só mais tarde descobriremos se as pessoas realmente mudaram seu comportamento de viagem conforme indicado e se abstêm em números de voos (de longo curso) e viagens de longa distância”, indica o estudo.
Ainda assim, de acordo com o Global Consumer Survey (GCS) da Statista, que entrevistou até 60.000 pessoas por país em mais de 55 países, as mudanças climáticas já influenciam o comportamento de viagem de 65% dos turistas na Alemanha, mercado que desde há muito é dos mais atentos às práticas de sustentabilidade. Em resposta a se mudariam o seu comportamento de viagem por causa das mudanças climáticas, a resposta mais frequente foi “evitar voos [de longo curso] ”. No entanto, 70% dos alemães que planeiam fazer pelo menos uma viagem este ano querem também cruzar fronteiras internacionais.
O estudo aponta que “decidir não viajar por motivos de sustentabilidade é raro”. Dos entrevistados alemães que planejam não viajar em 2022, apenas 6% citaram a proteção do meio ambiente como motivo. Ou seja, a ameaça representada pelas mudanças climáticas não afeta o desejo das pessoas de viajar, embora possa, potencialmente, influenciar a forma como elas vão de férias.
Além do tipo de transporte, existem outros aspetos que influenciam a sustentabilidade de uma viagem e que interessam aos turistas, principalmente àqueles que acreditam que é possível fazer viagens sustentáveis. Por exemplo, para 48% dos viajantes alemães, evitar o desperdício é importante em suas férias, enquanto para 40% é importante poupar recursos como energia e água e 39% gostariam que o pessoal local fosse pago de forma justa.
Por outro lado, mais de 40% dos entrevistados na globalidade dos países, estavam dispostos a reservar uma viagem com um operador turístico sustentável, e cerca de 36% estavam dispostos a pagar um prémio pela reserva com um deles. No entanto, uma coisa é dizê-lo, outra é fazê-lo na realidade e o estudo conclui que nos últimos dois anos, apenas 19% dos entrevistados preferiram pagar mais para viajar de forma mais sustentável.
Setor deve apresentar opções atraentes de viagens sustentáveis
O que também ficou claro é que os viajantes não estão apenas cientes de seu comportamento individual, mas também veem a indústria de viagens como tendo a obrigação de fornecer opções atraentes de viagens sustentáveis.
Segundo o Global Consumer Survey, 92% dos viajantes na Alemanha exigem que os formuladores de políticas e os operadores turísticos introduzam medidas que tornem possíveis férias mais ecológicas.
Para viajantes nos EUA e no Reino Unido, a certificação de resorts ecologicamente corretos e o fornecimento de informações sobre a pegada de carbono de uma viagem são um fator importante. Na Alemanha, a proibição de aviões particulares está no topo da lista de medidas (28%, primeiro lugar), em comparação com 19% (quarto lugar) no Reino Unido e 11% (nono lugar) nos Estados Unidos.
Apesar das discrepâncias, os turistas de todos os países são unânimes em dizer que, acima de tudo, é preciso haver mais pesquisa e investimento em opções de transporte ecologicamente corretas.
Rika Jean-François, comissária de RSE da ITB Berlin, afirma que “cada passo em direção à sustentabilidade conta. Mesmo um resort all inclusive pode ser administrado de forma responsável e sustentável se tiver um sistema adequado de gestão de resíduos e água, usar energia renovável e oferecer produtos locais, e se os funcionários forem da região – no entanto, a gestão deve apoiar essas medidas”.
Hoje em dia, continuou a responsável, os viajantes não têm apenas que escolher entre viagens de “baixo custo” e “eticamente corretas”, pois cada vez mais operadoras estão a incluir a sustentabilidade no seu portfólio de produtos sem aumentar os preços”, ou seja, “este é um investimento no futuro”.
A comissária sublinha também que a certificação independente é importante dado oferecer “orientação” aos operadores e clientes, além de que “ajuda a evitar o greenwashing”.