Com a maturidade dos 50 anos mas sempre jovem, Sogenave não para de crescer no canal HORECA
Com cinco décadas de existência, a Sogenave tem feito, nos últimos anos, uma trajetória mais direcionada para o mercado, tirando partido da sua estrutura e know-how e apostando na hotelaria e restauração. João Simões, presidente do Conselho de Administração da Sogenave e Alexandre Bastos, administrador, falaram com o Turisver sobre a empresa, o seu funcionamento, as áreas de negócio e os objetivos.
Podemos dizer que a Sogenave, embora não seja uma empresa muito conhecida do público final, mesmo que de muitas formas chegue a esse público, é já uma empresa quase indispensável para muitos players, quer da hotelaria quer da restauração, entre outras áreas?
João Simões – Exato. Nestes últimos anos, a Sogenave transformou-se na forma como comunica com o mercado e aproveitou muito a “boleia” da pandemia para comunicarmos de outra forma com os nossos públicos alvo, ou seja, com os públicos que nos interessam. Isto porque, naquela altura, nós estávamos em pleno processo de crescimento para o canal Horeca, para aquilo que é a nossa atividade fora do grupo .
Somos uma empresa B2B, não trabalhamos diretamente o consumidor final, embora tenhamos algumas marcas que chegam ao consumidor final, marcas de representação que estão no retalho, mas o nosso foco é o canal profissional, em vários segmentos. Nos últimos anos, temos vindo a estar mais visíveis de várias formas, nomeadamente através da caracterização das viaturas que vamos tendo a rodar pelo país, mas também nas redes sociais e em alguma imprensa especializada e local. De forma estratégica, continuamos um pouco afastados dos meios de comunicação generalistas porque esse não é o nosso público-alvo.
Isso tem a ver também com o crescimento da empresa e com a procura de novos nichos de mercado? Falava há pouco no canal Horeca mas, provavelmente ,têm outras intervenções no mercado?
João Simões – A Sogenave nasceu há 50 anos no universo do grupo CUF, como está bem documentado no nosso livro comemorativo, e nos primeiros anos de vida esteve virada para o mercado. Depois, quando foi adquirida pelo grupo Trivalor, passou um período em que se dedicou fundamentalmente a servir as necessidades do grupo, ou seja, era uma empresa instrumental que trabalhava para satisfazer as necessidades das empresas do grupo. Já nestes últimos, a empresa tem vindo a virar-se mais para o mercado, tirando partido de toda a estrutura que tem montada, da escala que tem já ao nível da compra e das plataformas logísticas, das equipas e do know-how, para crescer, valorizar a empresa e torná-la exposta ao mercado, o que é uma forma de dar competitividade para dentro e com esta estratégia temos vindo a trabalhar vários segmentos.
Entre os principais segmentos que temos vindo a trabalhar está o food service comercial, onde temos a hotelaria e a restauração como segmento alvo. Trabalhamos toda a hotelaria – estrategicamente as cadeias hoteleiras mas também a hotelaria independente -, e toda a restauração, desde as cadeias internacionais, cadeias nacionais de maior ou menos dimensão e também chegamos à restauração de street business. Outro canal importante na Sogenave é o que podemos denominar como food service mais social, um segmento em que somos muito fortes e temos uma gama completa para toda essa área, desde as IPSS ás Misericórdias, passando pela área do ensino, Segurança Social e tudo o que são as forças de segurança – o Exército, a Força Aérea. A nível de concursos públicos estamos presentes nessa área de food service social e cobrimos todo o território nacional, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
Empresa tem oito grandes segmentos entre os quais se inserem a hotelaria, a restauração e os eventos
Toda essa área social é anterior à vossa penetração na hotelaria e turismo?
João Simões – É, porque a área social é muito semelhante àquilo que é o abastecimento à restauração coletiva para o qual a Sogenave está talhada há muito anos, portanto, sair do abastecimento às cantinas do grupo para a área social, que tem uma oferta muito semelhante, foi o crescimento natural. A restauração e hotelaria, principalmente quando mais segmentadas, trazem outros desafios e estas áreas têm sido trabalhadas mais a sério nos últimos anos na Sogenave.
Alexandre Bastos – A abrangência da Sogenave é hoje muito grande, está em oito macro segmentos: dentro do canal Horeca temos um segmento mais comercial e outro mais social em que apostamos forte, mas temos também a exportação – a hotelaria em Cabo Verde, por exemplo, é trabalhada através da exportação – e temos o retalho e, neste caso, a Sogenave encontra-se em em todo o lado, seja numa loja do Continente ou da Auchan, através das marcas que representamos. Depois estamos em mais quatro segmentos menores, abastecemos produto para a indústria, para facility management, fornecemos soluções que não são só alimentares para o mercado das empresas.
É nos quatro segmentos principais que se inserem a hotelaria, a restauração e os eventos, que são uma área também muito relevante na Sogenave. Estamos a falar no suporte a grandes eventos porque como temos uma máquina logística muito forte, conseguimos pôr todo um aparato de produtos, sejam alimentares, não alimentares e equipamentos, em qualquer ponto do país. Esta é uma área menos visível mas posso dizer que estamos em eventos como o Boom Festival, a Festa do Avante ou eventos internacionais em que a Sogenave aparece não com brand mas na retaguarda.
A Sogenave já é uma empresa tecnológica bem equipada mas com aposta contínua nesta área
No livro que conta a história dos vossos 50 anos, os anos 2010-2018 são referenciados como aqueles em que a empresa dá o grande salto em termos tecnológicos. Hoje, a empresa é totalmente tecnológica?
Alexandre Bastos – Longe disso, porque em tecnologia nunca está nada feito, temos que estar sempre a inovar, veja-se o que está a acontecer agora com o ChatGPT e a Inteligência Artificial. Entre 2010 e 2020 demos um grande salto para o exterior que nos obrigou a modernizar muito a organização. Por exemplo, ao nível dos armazéns tudo o que se vê é tecnologia: uma encomenda entra por sistemas, é atendida sem papéis, não há ninguém a fazer as faturas, é o nosso picker, os nossos caixeiros de armazém, que vão aviando códigos sequenciais em várias línguas, o que significa que podemos pôr uma pessoa de qualquer nacionalidade a trabalhar, porque basta o computador traduzir a encomenda e dizer que o ‘código x’ é para aquela morada… Tudo o que hoje se vê foi construído a partir daquela altura e tem muita tecnologia associada à preparação, à otimização de rotas, mesmo à gestão comercial, aliás, não há nenhum vendedor nosso que não funcione com um iPad, que não tenha a informação toda descarregada em tablets. Estamos a apostar cada vez mais na digitalização e na automatização de processos, mas é um trabalho que nunca acaba.
João Simões – Hoje, a Sogenave está em constante desenvolvimento de tecnologia, nós temos variadíssimos projetos de inovação e tecnologia em aberto, muito na área das operações mas também na venda, para trabalhar todo o mercado e a força de venda, para conhecermos o mercado e as soluções que nos vão permitir alcançar os nossos objetivos. Isso torna o negócio mais interessante e mais desafiante mas é fundamental porque não sobrevivemos sem ter muita tecnologia.
Por exemplo, um fornecedor só entra no nosso parque se tiver uma ordem de encomenda, depois de entrar, regista-se, encosta no parque, o motorista aguarda que lhe digam, através do seu telemóvel, a porta onde encosta e depois é o próprio sistema que vai dizer onde é que as paletes vão ser arrumadas. Todo este processo, tal como o picking, a gestão de stocks e das necessidades, é gerido com ajuda de sistemas e não podia ser de outra maneira porque são milhares de referências que trabalhamos diariamente e para não ter faltas para com os clientes nem desperdícios ou excesso de produtos, toda a gestão tem que ser feita com a ajuda de meios tecnológicos.
“Temos clientes de enorme dimensão, garantimos abastecimento a cadeias hoteleiras e de restauração em todo o país ao mesmo tempo e não é problema para nós que uma cadeia tenha 200 ou 300 pontos de venda”
Porque muitos dos produtos com que laboram são perecíveis, é necessário um grande trabalho de equipa para que o desperdício seja o menor possível?
Alexandre Bastos – Essa é a nossa luta porque numa máquina destas, onde há produtos alimentares muito pressionados pelas validades, caso dos frescos, toda a gestão tem que ser feita com muito rigor.
Quando o camião Sogenave faz uma entrega, já passou por uma jornada fabulosa que começa pela encomenda que tem uma sequência no computador para que possa ser enviada de uma determinada forma. Se o cliente pediu ovos e batatas, estas vão para baixo e os ovos para cima, nada é deixado ao critério do operador. O operador executa mas tudo foi pensado previamente, não é o bom senso que impera, o que impera é uma afinação permanente de sistemas. Cada tipo de produtos sai de uma parte diferente, dos não refrigerados, dos refrigerados, das frutas e legumes, outros saem da zona dos não alimentares e depois tudo coincide e entra ao mesmo tempo no camião, em compartimentos diferentes dependendo da temperatura. Todo isto é muito massificado porque temos dias de preparar quase mil encomendas ou até mais, dependendo dos picos, mas todas têm uma personalização.
Apesar da dimensão que a Sogenave tem, o vosso cuidado com o cliente vai desde a encomenda à entrega dos produtos e ao pós venda?
João Simões – Não pode ser de outra forma. Temos clientes de enorme dimensão, garantimos abastecimento a cadeias hoteleiras e de restauração em todo o país ao mesmo tempo e não é problema para nós que uma cadeia tenha 200 ou 300 pontos de venda. Estamos preparados para isso porque operamos com esta plataforma e com a do Porto e temos mais algumas, incluindo nas ilhas, e o processo é todo igual.
Alexandre Bastos – Temos a capacidade, que não é comum em Portugal, de poder chegar a qualquer ponto do país e ter uma oferta igual para todo o lado, com a mesma tipologia de produto, o mesmo preço e podemos entregar a mercadoria desde Vila Real de Santo António a Chaves, ao Porto Santo ou a Angra do Heroísmo.
Um dos segmentos que enumerou há pouco foi o da exportação e citou Cabo Verde. A exportação assenta nos países de expressão portuguesa?
Alexandre Bastos – Assenta nos países de expressão portuguesa em África mas não só, Marrocos, por exemplo, também é um alvo. Começámos com este processo de exportação em 2014/15, portanto já levamos alguns anos e começámos pelos países onde se fala português – poderia ser onde se falasse outra língua qualquer porque temos uma máquina que faz tradução de etiquetas – mas também procurando os países da diáspora, o chamado mercado da saudade: Luxemburgo, França, Alemanha, Inglaterra, são países para onde habitualmente exportamos produtos alimentares e não só, também soluções de cozinhas.
A Sogenave sempre teve uma relação com o estrangeiro muito vasta, cerca de 20% a 25% do que comercializamos é importado e tem que ser assim na área alimentar. Estamos em todas as feiras, procuramos estar muito bem informados do que se passa no mundo, seja na Europa, seja na América ou na Ásia. As nossas equipas de compras fazem, permanentemente, visitas a feiras, têm contactos com fornecedores e representamos muitas marcas estrangeiras, principalmente no retalho. Tudo isso trouxe-nos esta expertise de trabalhar com facilidade com o estrangeiro.
A partir de 2015 começámos a fazer isso na ótica da venda e neste caso levamos as marcas portuguesas para o exterior e também as soluções portuguesas. Além disso, somos proprietários de uma marca de cafés que é a FEB, a que o púbico-alvo que vive lá fora dá a sua preferência por se tratar de mais um sabor português.
A exportação é, portanto, mais um eixo de desenvolvimento e cada vez mais temos solicitações, apesar de o nosso foco continuar a ser o nosso país. Nós temos um ‘hashtag estamos em todo o lado’ e de facto, literalmente, vamos estando em todo o lado, com várias presenças em simultâneo.
Em Cabo Verde, temos vários tipos de clientes mas um deles, de forma direta ou através de distribuidores, é a hotelaria, principalmente na ilha do Sal mas também um pouco em Santiago. Essa é uma área que nos interessa e temos um fluxo contínuo de contentores para lá.
Amanhã, publicaremos a segunda parte da entrevista a João Simões e Alexandre Bastos, respetivamente presidente do Conselho de Administração e administrador da Sogenave, onde abordamos, entre outros, os seguintes temas:
- Internacionalização da empresa
- Consultoria e conceção de layouts (cozinhas e outros equipamentos)
- Marcas próprias e marcas de representação
- Relação qualidade-preço
- Penetração no mercado