“2 Cloud or not 2 Cloud, eis a questão”, por João Pronto
Neste artigo, João Pronto aborda a migração tecnológica para a Cloud, efetuada pela generalidade dos stakeholders turísticos, apontando algumas preocupações de operação, e de nível tecnológico, que esta migração acarreta.
João Pronto, ESHTE
Professor Especialista em Hotelaria e Restauração
Professor Adjunto – Ciências da Informação e Informática
Coordenador de Estágios
É inegável para todos os profissionais de turismo, seja qual for o âmbito do seu trabalho, desde a cozinha dos restaurantes às ondas do mar das empresas de surf espalhadas pela nossa costa, passando pelas organizações turísticas “tradicionais” de escritório, necessitam, cada vez mais, de se comportar como um elemento fundamental do “sistema nervoso central (e digital) da organização turística em que trabalha”, no sentido de que devem interagir interna e externamente, de forma ágil e eficiente… em que os processos de trabalho são inegavelmente mais e melhor suportados por tecnologia do que alguma vez aconteceu no passado, mesmo o mais recente!
As organizações turísticas têm adquirido mais e mais tecnologia, substituindo de forma gradual e consistente a antiga abordagem de aquisição de “hardware”, entenda-se Servidores e Switch, por Switch internos, evitando a aquisição de Servidores internos, adquirindo “Servidores na cloud”, o que tem originado a uma mutação na gestão tecnológica das infraestruturas informáticas das organizações turísticas.
“Antigamente, 100% das organizações turísticas” adquirira o referido “hardware”, acrescido do necessário “software”, entenda-se os programas informáticos que potenciavam a qualidade do serviço turístico, desde os sistemas informáticos de reservas turísticas, como os CRS (Central Reservation System, aos atuais GDS (Global Distribution System) passando pelos POS (Point of Sale) dos bares e Restaurantes, até aos PMS (Property Management System) dos Hotéis…
Há cerca de uma década, algumas (poucas) organizações turísticas, designadamente Companhias Aéreas e grandes grupos de Agências de Viagens e de Hotéis, iniciaram processo gradual de deslocalização dos servidores residentes em salas de servidores armazenadas em edifícios próprios, para a Cloud, que não são mais do que “edifícios próprios” de empresas tecnológicas, em que as Operadoras e as grandes multinacionais de tecnologia são o expoente máximo, como são os casos da Altice, NOS, Vodafone, Amazon Cloud, Google Cloud, ou a Microsoft, entre outras.
As organizações turísticas de menor dimensão financeira têm acompanhando com crescente interesse esta migração tecnológica realizada pelas organizações turísticas com maior poder económico, e rapidamente entenderam que esta migração também lhes é muito aliciante do ponto de vista do negócio, e, também do ponto de vista “económico”, dado que, à medida que as organizações vão tendo maior quantidade de colaboradores e/ou de ativos, mais rentável e ágil se torna o sistema de informação.
Esta migração tecnológica para a Cloud, efetuada pela generalidade dos stakeholders turísticos, acarreta, no entanto, algumas preocupações de operação, e de nível tecnológico, pelo que antes de se avançar para este tipo de decisão estratégica, é muito importante que toda a organização, e não apenas a Administração ou a “direção de Operação”, tenha a noção dos principais processos que têm de ser garantidos para que esta migração não seja apenas um investimento avulso e fracassado.
Processos de Operação:
A Operação deve ficar assente em processos tão ou mais ágeis do que os anteriormente implementados;
Durante o processo de migração da tecnologia “on-site” para “tecnologia – Cloud”, o downtime dos processos deve ser o menor possível, idealmente “0 segundos”;
Antes do processo estar implementado, é muito importante que a Operação tenha noção se algum ou vários processos sofrem alteração, e se for o caso, deve ser garantido que a operação teve ativamente na elaboração dos novos processos, e que, posteriormente, antes da implementação, teve formação interna, de forma que se minimize o impacte da “resistência à mudança”.
Processos Tecnológicos:
Se e quando existir uma quebra no serviço de Internet, seja no circuito da Operadora, na VPN ou outro, existe redundância no acesso ao sistema que está agora suportado na Cloud? Se não existir redundância, deve-se avaliar muito bem o impacte da operação parar devido à falta de sistemas, essa avaliação irá justificar ou não o investimento em redundância de acessos.
Pelo que, a Administração e/ou a Direção de Operação devem ter noção do custo/benefício desta implementação de sistemas redundantes, para que decidam conscientemente se pretendem implementar suportar o custo financeiro deste sistema redundante.
Normalmente, os sistemas redundantes obrigam à implementação de uma série de tarefas tecnológicas, o que perfaz com que o acesso normal às aplicações Cloud, via acesso redundante, não seja em tempo real, gerando algum tempo de inatividade, o que pode afetar ou não o negócio com quebra momentânea, ou quebra mais prolongada do serviço.
Assim sendo, e porque nos dias de hoje, na generalidade das organizações turísticas, “tempo é dinheiro”, em que estar offline provoca graves problemas de operação e necessariamente custos financeiros acrescidos, há muitas organizações que optam por implementar um serviço de Disaster Recovery e não se limitam à implementação de um serviço de redundância.
Disaster Recovery é uma opção tecnológica que, quando bem implementada, faz com que os sistemas que gerem o ou os sistemas de informação organizacional, assim que detetam quebra de serviço, automaticamente, promovem outro sistema que mantenha o sistema de informação afetado em funcionamento, idealmente, sem que os utilizadores nem se apercebam do ocorrido. Obviamente que estes sistemas são mais dispendiosos do que os sistemas redundantes, mas são atualmente muito mais populares do que o eram faz um par de anos…
Na figura infra, podemos verificar um exemplo prático de uma abordagem tradicional tecnológica, que não recorre a sistemas de Cloud, optando por ser a detentora de todo o equipamento tecnológico existente numa qualquer organização turística. Onde podemos verificar a existência de vários servidores internos, como os Servidores de Domínio (DS) ou de ficheiros (File Server), uma Firewall interna, um ou mais Servidores Aplicacionais, como são os PMS/POS/GDS, ou o GTC, software de Gestão Centralizada.
Na figura seguinte, podemos verificar que desapareceram os servidores acima referenciados, na realidade, optei por retirar todos, mas podia ter retirado apenas um ou parte dos servidores, mantendo os restantes “in-house”, dependendo de estratégia de negócio e tempo de vida dos referidos servidores, entre outras ponderações.
Desta forma, a organização turística opta por manter apenas o router que lhe fornece acesso à Internet, e desse acesso à Internet, a Organização Turística acede via serviços Cloud, aos serviços que anteriormente tinha dentro da própria organização.
Em próximos artigos poderemos abordar as diferentes abordagens de implementação Cloud, sem redundância, com redundância, e com disaster recovery implementado, sempre analisando a perspetiva conceptual destes processos e impacte na operação e obviamente na qualidade do serviço turístico.