Cláudia Caratão fala dos produtos de que é responsável na Solférias e deixa “dicas” para a sua venda

Diretora de produto e contratação na Solférias, Cláudia Caratão tem sob a sua responsabilidade alguns dos produtos mais vendidos pelo operador, como é o caso da Disneyland Paris e do Porto Santo, mas é também responsável por outros produtos. O Turisver falou com Cláudia Caratão para saber um pouco das especificidades de cada um desses produtos.
Cláudia, há muitos anos que tem responsabilidades sobre uma parte do produto da Solférias?
Sim, a única coisa que tem vindo a mudar é que tenho acumulado a responsabilidade de mais destinos. Comecei apenas com Portugal Continental com um programa chamado “As viagens na minha terra”, que foi um produto que me ocupou durante muitos anos, até porque em termos de contratação, para além do alojamento, damos ao produto um cunho próprio que passa pela contratação temática.
Depois, passei a ter também os Açores e a Madeira, e com a Madeira veio a primeira experiência de ser responsável por um produto que na tour operação é considerado de risco, já que inclui as operações charter de verão para o Porto Santo e as do final do ano para a ilha da Madeira.
Mais tarde acumulei o destino Disney e alguns outros destinos europeus como a Grécia, Malta e as ilhas espanholas, bem como a programação de alguns parques temáticos de Espanha.
Corrija-me se estiver enganado mas com esta panóplia de destinos tem sob a sua responsabilidade o Top 3, dos destinos mais vendidos pela Solférias?
Tenho seguramente, porque o primeiro destino em vendas é Cabo Verde, mas sou responsável pelo segundo destino do ranking que é a Disney e também pelo terceiro que é o Porto Santo, embora este já rivalize ultimamente com o aparecimento dos charters para o Senegal, um destino que ganhou peso em termos da nossa faturação.
Quando se diz que os operadores turísticos portugueses não querem saber do destino Portugal, a experiência da Cláudia a trabalhar o destino diz exatamente o contrário?
Portugal foi o destino por onde comecei na tour operação, e foi o produto que trabalhei anos e anos, e não é de todo verdade que os operadores turísticos não se preocupem com a programação do destino Portugal porque preocupam-se, e muito.
Nós, na Solférias, dávamos e damos muita atenção quer a um hotel de cinco estrelas com mais de 100 quartos, quer a uma unidade de turismo rural ou local, de cinco ou 10 quartos, e íamos muito além da programação do alojamento dado que temos muita preocupação em comunicar aos clientes, através da agências, aquilo que eles poderiam esperar e explorar no destino. Independentemente de o cliente comprar ou não, ficava com sugestões e com informações sobre produtos específicos e diferenciados. É um trabalho minucioso e que nos ocupa muito tempo, tendo até em conta a produtividade que às vezes possa dar mas é um produto que mantemos porque consideramos que sendo nós um operador português e estando em Portugal, faz todo o sentido colocar a oferta do destino interno à disposição dos portugueses.
“Todos os anos a Disney introduz algumas mudanças e essas alterações que são feitas na origem levam a que tenhamos que estar sempre a fazer um acompanhamento com formações constante e comunicação, quer no que diz respeito a remodelações de hotéis, as alterações dos regimes alimentares e até mesmo em termos da programação do parque”
A comercialização do produto Disney sempre foi mais complicada de explicar aos agentes de viagens do que a maioria dos outros destinos, fazendo até lembrar a complexidade da comercialização dos cruzeiros. Ainda hoje é assim?
Ainda hoje é assim, é um produto que tem necessidade de um grande acompanhamento e quem o está a comercializar tem que ter um grande conhecimento do produto para o poder explicar ao cliente. Isso não acontece por haver algum receio da parte dos agentes de viagens mas porque todos os anos a Disney introduz algumas mudanças e essas alterações que são feitas na origem levam a que tenhamos que estar sempre a fazer um acompanhamento com formações constante e comunicação, quer no que diz respeito a remodelações de hotéis, as alterações dos regimes alimentares e até mesmo em termos da programação do parque. Como base existem mecânicas que já estão interiorizadas mas todos os anos há sempre algumas alterações, por isso na Solférias temos a preocupação de levar o destino às agências e fazer formações, por vezes especificas, sobre o produto Disney.
Por outro lado, depois da pandemia notamos que houve alteração nas agências de viagens, com a saída de muitos profissionais do turismo e a entrada de muita gente nova e isso também criou a necessidade de se dar uma formação de raiz sobre este produto e este destino, que é um produto muito particular em que o conhecimento do agente é uma mais valia na venda ao cliente final, até porque os onlines podem ser todos maravilhosos mas não dão a resposta que o contacto de um cliente com um agente de viagens conhecedor dará.
Existe muita gente que tem a ideia que conhece e pode falar sobre a Disney porque viu um vídeo promocional, ou já esteve numa formação há alguns anos, o que não é verdade porque a Disney vai sempre inovando, vai acrescentando coisas e a própria programação que cria vai diferenciando a oferta. Se um turista visitar o parque hoje e voltar daqui a dois ou três anos seguramente encontra coisas diferentes.
É verdade que há uma parte que é muito emotiva que é a relação que nós temos com a marca e obviamente que isso constrói-se desde criança e mesmo os adultos têm um relacionamento de grande proximidade com a marca. Um destino em que nós nos divertimos e vemos o sorriso das crianças é um destino que só por essa razão nos dá vontade de repetir, mas a Disneyland Paris preocupa-se em acrescentar algo de novo todos os anos, ou nos espetáculos que proporciona, ou nas diferentes experiências que os clientes têm durante a sua estada no parque.
A Solférias também programa outros parques temáticos na Europa, de que a Cláudia também é responsável de produto. Algum se destaca mais na procura?
Depois da Disneyland Paris, que é o mais vendido pela Solférias, o parque que se segue é Isla Mágica porque fica muito próximo de Portugal e possibilita a viagem de carro. Para quem vai de Lisboa, por exemplo, o percurso até Sevilha demora poucas horas, o que possibilita ficar uma ou duas noites, ir ao parque e visitar a cidade, e depois regressar. Essa proximidade ajuda a fomentar a procura por este parque e muitos turistas portugueses a fazerem férias no Algarve, pela proximidade a que estão de Sevilha, acabam por fazer um dia de visita.
O Parque Warner, em Madrid, também fica relativamente perto mas já são umas horinhas a mais, no entanto a procura tem aumentado a dois dígitos por ano. Não se podendo comparar como a Disney, o parque Warner acaba por ter um preço relativamente mais baixo e é atrativo para quem quer ter uma primeira experiência com a família num parque temático. Nestes casos, a primeira escolha acaba por recair muitas vezes nestes parques mais próximos e que têm um preço inferior – mesmo as estadias têm preços mais baixos.
Solférias programa as Ilhas Canárias com partidas do continente e a Solférias Madeira à partida do Funchal
As ilhas espanholas são programadas pela Solférias em voos regulares ou em partcharter?
A nossa operação é 100% baseada em voos regulares, quer à partida de Lisboa, quer do Funchal com a nossa marca Solférias Madeira, que é muito forte. Todos os anos fazemos alguns approaches com a companhia aérea no sentido de termos alguns lugares garantidos.
A nossa operação à partida do Funchal para a Gran Canária ou outras ilhas deste arquipélago, é apenas comercializada no mercado madeirense, as ilhas Canárias são um destino top dos madeirenses desde há muitos anos, e é um destino de repetição para os madeirenses.
A Cláudia também é responsável pelos destinos Grécia e Malta, estes são programados em voos regulares?
Sim, a Grécia com a companhia aérea Aegean essencialmente, e para Malta fizemos o ano passado com a Air Malta mas este ano com o fim da companhia estamos a programar em voos regulares mas com escala.
Para a Grécia estamos a voar para Atenas que funciona como aeroporto de distribuição de passageiros para várias ilhas, possibilitando-nos ter uma panóplia de produto, seja para uma região próxima da capital, Atenas que tem uma linha gigantesca de praias maravilhosas com muita oferta até de restauração e animação, muito à imagem do que temos em Portugal nas zonas balneares, seja para as ilhas com combinados com cruzeiros em veleiros que é um produto novo que introduzimos na nossa programação. Para além disso temos também os circuitos mais clássicos em autocarro e com guia, ou propostas para o fly & drive.
A Grécia é um destino que requer internamente muita orçamentação porque as hipóteses são muitas, por isso temos feito a base do que é mais procurado, mas depois passa muito pela orçamentação, ao sabor daquilo que os clientes pretendem. Por isso é um destino mais trabalhoso mas ao mesmo tempo é mais desafiante para nós.
Malta é outro dos destinos que está sobre a sua alçada, como se processa essa operação?
Malta não é o tradicional destino de programação de sete noites, encaramo-lo mais como um destino de escapadinha. Durante algum tempo foi visto no mercado como um destino de praia, mas a meu ver não é. Tem efetivamente algumas praias simpáticas, mas para nós portugueses, que temos praias excelentes, não passam disso: simpáticas.
Mas se Malta não é fantástica na oferta de praias, é um destino com uma raiz cultural e gastronómica muito fortes e tem de ser entendido e comercializado mais nessa perspetiva. Daí as escapadinhas de três ou quatro dias serem o mais indicado.
*Leia aqui a parte da entrevista dedicada a Cabo Verde