Cancun e Riviera Maya são “destinos que requerem algum cuidado quando se vendem” alerta Adriano Portugal
Para o diretor-geral da rede Mercado das Viagens, participar em fam trips como a que foi promovida pelo Grupo Ávoris ao México, permite ficar a conhecer as mais e as menos valias do destino e do que ele oferece e foi disso que Adriano Portugal falou ao Turisver, numa conversa que versou não apenas o destino mas também a sua hotelaria, as opcionais e a relação preço-qualidade.
Já na reta final da nossa viagem ao México, concretamente a Cancun, Riviera Maya e Costa Mujeres, o que é que destacaria no destino que possa levar os portugueses a afirmarem, à chegada, “era mesmo isto que eu queria”?
Estes são destinos que requerem algum cuidado quando se vendem, devido ao sargaço. Infelizmente esta é uma situação que tem vindo a acontecer nos últimos anos e que, tanto quanto se sabe, tende mesmo a piorar nos próximos. No entanto, o que destaco no destino continua a ser o clima de que os portugueses gostam bastante porque tem calor e águas quentes. O serviço hoteleiro está com uma pontuação média bastante interessante, o que é algo que o português também procura, já que gosta de ficar satisfeito em termos alimentares.
Quanto à hotelaria, assinalo que vimos alguns bons hotéis, uns muito vocacionados para famílias, outros nem tanto, alguns hotéis estão no entanto, a precisar de alguma renovação, até em termos da própria decoração – é uma pena, mas há hotéis que em termos de decoração param um pouco no tempo e também de algumas infraestruturas.
Ainda assim, fomos surpreendidos por outros hotéis mais recentes que têm uma arquitetura mais moderna, com um ar “fresco”. Só que alguns desses hotéis têm um grande handicap que é a falta de praia.
Tiremos a oportunidade de visitar um ou outro hotel com “preço de combate”, como se costuma dizer, no fundo aqueles que servem para o preço “desde” e quando avaliamos este tipo de hotéis ficamos sempre a equacionar se realmente vale a pena o cliente fazer uma deslocação para um destino tão longínquo para depois ficar num hotel desses…
Como sabe, eu tenho que transmitir para a rede Mercado das Viagens uma informação o mais completa possível e para dizer a verdade sinto algum ceticismo em vender esses hotéis a que se refere, pelo menos tenho alguma dificuldade em aconselhar esse tipo de hotéis porque isso também pode trazer-nos problemas a posteriori, mais concretamente reclamações.
Penso que há que tentar encontrar algum equilíbrio financeiro que não passe apenas pelo preço porque sabemos que ao regressar das suas férias o cliente vai reclamar e essa é uma situação que teremos sempre dificuldades em gerir.
O problema é que quando o cliente olha para os preços o que vê é que há uma diferença de 300 euros entre o tal preço “desde” e o hotel logo a seguir e quando se viaja em família a diferença acaba por ser muito significativa…
É verdade e a vantagem de nós virmos nestas fam trips é exatamente o facto de podermos ficar a conhecer os pontos onde estão as menos valias para depois podermos explicar ao cliente o porquê deste e daquele preço – isso é que é importante. Claro que cabe sempre ao cliente escolher mas não podemos vender algo que não corresponde àquilo que o cliente procura. O facto de conhecermos o destino, de conhecermos as especificidades de cada hotel, as mais valias e as menos valias, é muitos importante no dia a dia dos nossos balcões.
Chichén Itzá, Património Mundial, é de visita obrigatória para complementar o sol e praia
Além de visitarmos hotéis, pudemos também fazer algumas opcionais que nos permitiram um melhor conhecimento do destino. Há quem entenda que vir a esta região do México e não visitar Chichén Itzá é quase um pecado. Qual é a sua opinião?
Eu considero que para quem procura lazer e a parte cultural, a visita a Chichén Itzá é obrigatória porque se trata de um Património Mundial mas não me parece que a opcional que fizemos esteja bem montada, aliás considero que está muito desequilibrada. Seria preferível que dividissem esta opcional em duas do que fazer como nós fizemos, que sinceramente penso que os clientes vão sentir que está completamente desequilibrada, o que poderá também trazer reclamações.
Isto porque esta opcional junta a visita a Chichén Itzá com o Cenote Zaxil Tunich?
Exatamente. Ao juntar as duas visitas e ao não haver um horário muito transparente para o almoço, que tanto poderá ser às 15h00 como às 16h00, não irá ser agradável para o cliente, principalmente se atendermos à duração desta excursão que é de dia inteiro – e é mesmo dia inteiro, já que saímos muito cedo e chegamos muito tarde. Posto isto, penso que se calhar não faz muito sentido juntar nesta opcional uma parte cultural com outra mais de lazer e de beleza natural que deveria ser enquadrada numa outra excursão e não nesta.
O Cenote que visitámos é diferente, está inserido uma espécie de quinta onde se almoça complementada com a visita às grutas onde se pode tomar banho. É algo que mereça a pena visitar?
É interessante mas lá está o que eu dizia, seria mais interessante ter uma excursão onde se pudesse experienciar dois tipos de Cenotes – este era uma gruta fechada mas há outras abertas. Penso que os clientes gostariam de ter estes dois tipos de experiências porque uma é na escuridão, com focos de luz que acabam por trazer alguma beleza à própria gruta e outra ao ar livre, permitindo observar as tonalidades das águas tão turquesas que existem nestes Cenotes, o que só pode ser observado à luz do dia.
Uma vez mais, penso que faria todo o sentido juntar numa só opcional a vivência destas duas experiências em matéria de beleza natural.
O preço a que o México está a ser comercializado em Portugal é justo?
O México sempre foi um destino mais caro, comparativamente, por exemplo, à República Dominicana. O número de horas de voo, para quem não goste tanto de andar de avião, também poderá ser um handicap, porque uma coisa é fazer seis horas de voo, outra é fazer quase 11 horas de voo, como é o caso e isso poderá ser um condicionante para esse produto.
O preço, propriamente dito, é algo relativo, depende sempre da qualidade dos hotéis, do serviço, e quando tudo isso se ajusta é perfeito. Vimos hotéis excecionais mas que não serão muito para o nosso mercado, pela falta de praia porque o cliente português quando compra, quer aliar a qualidade hoteleira à qualidade da praia. O que verificámos é que há hotéis com uma qualidade muito acima da média mas com o handicap de não haver uma única praia, ou seja, são direcionados ao cliente de piscina, o que não é o caso do português.