Câmara de Vila Nova de Cerveira quer reverter concessão do Castelo para instalar hotel

O Castelo de Vila Nova de Cerveira foi concessionado, em outubro de 2019, ao empresário Eurico da Fonseca, no âmbito do Programa REVIVE, para ali ser instalado um hotel que deveria ter aberto em 2021. Passados dois anos, o presidente da Câmara quer reverter a concessão e devolver o castelo à comunidade.
No final da semana passada, o presidente da Câmara de Vila Nova de Cerveira, Rui Teixeira, fez saber que quer reverter a concessão do castelo que prevê a sua reconversão em hotel de (pelo menos) quatro estrelas e 41 quartos e que, de acordo com um comunicado enviado às redações, está à procura de novas soluções para o imóvel através de um projeto europeu.
Em resposta à agência Lusa sobre um comunicado enviado pela autarquia, já veiculada por outros órgãos de comunicação, Rui Teixeira afirmou que o atual executivo municipal “não quer que o ‘ex-líbris’ do concelho seja transformado em hotel, até porque existem atualmente três projetos privados” na área do alojamento e hotelaria.
Recorde-se que, em outubro de 2019, a Secretaria de Estado do Turismo, então ainda chefiada por Ana Mendes Godinho, anunciou que, no âmbito de um concurso do Programa REVIVE, o Castelo de Vila Nova de Cerveira tinha sido concessionado à empresa Eurico da Fonseca, a mesma que desenvolveu o projeto do Palácio de São Bento da Vitória, no Porto, no âmbito do mesmo programa.
Na altura foi também anunciado que o hotel deveria abrir portas em 2021, após um investimento que rondava os três milhões de euros. No entanto, nesse ano, em plena pandemia, o prazo para a realização do investimento e abertura da unidade hoteleira, viria a ser prorrogado por mais dois anos
“Quando foi assinado o contrato de concessão, em dezembro de 2019, o investidor tinha dois anos para iniciar a intervenção. Em 2021, o prazo foi prorrogado por mais dois anos e não foi iniciada”, explicou Rui Teixeira, acrescentando que, passados mais dois anos, a obra ainda não teve início e que “está a terminar o prazo para o seu início”. Por isso afirmou estar confiante “na reversão da concessão. Espero no início de 2024 concretizar esse objetivo”.
Na nota enviada no final da semana passada às redações, a autarquia de Vila Nova de Cerveira adiantou que, na terça-feira [da semana passada], uma perita internacional do programa URBACT, Ileana Toscano, visitou o Castelo de Vila Nova de Cerveira “para definir uma metodologia participativa que contribua para aproximar este património dissonante da comunidade cerveirense”.
“Chamar a população e as várias entidades locais a pronunciarem-se sobre o estado atual e a visão futura deste ‘ex-líbris’ do concelho é o desafio proposto”, sublinha a nota. A visita da perita decorreu da participação do município no projeto ARCHETHICS (Architecture, Citizenship, History and Ethics to shape Dissonant Heritage in European cities).
De acordo com a nota de imprensa, o presidente da Câmara está “manifestamente preocupado com o estado atual de abandono” do castelo, tendo reiterado “a necessidade de o Castelo de Cerveira voltar a fazer parte do quotidiano da comunidade”. Encara por isso o projeto em curso como “uma oportunidade para refletir, em conjunto, novas rotas culturais que integrem este monumento nacional no dia a dia dos cerveirenses e dos turistas, recuperando a relação afetiva e histórica entre o Castelo e a sua população, e restaurando a sua centralidade”.
Para o autarca, o envolvimento dos jovens na promoção do Castelo de Cerveira, como um novo corredor cultural ‘dentro e fora das muralhas’, “vai construir novos pactos sociais entre as gerações, fomentando novas formas de relacionamento ao repensar este lugar como um bem comum urbano”, cita a mesma nota de imprensa.
Nos próximos meses, o objetivo do projeto passa por alargar a auscultação à população de Cerveira, “envolvendo os mais diversos setores, desafiando a comunidade a cocriar um plano de ação integrado, cujas soluções possam vir a ser testadas através de ações de pequena escala”.
Com origens no século XIII, o castelo foi mandado construir pelo rei Dom Dinis. Classificado como monumento nacional ali funcionou, até 2008, a Pousada de D. Dinis, que integrava a rede de Pousadas de Portugal.
Foto: Castelo de Vila Nova de Cerveira (site do Programa Revive)