Bungalows são o que “nos permite contrariar a sazonalidade” diz Carlos Rodrigues, da Campigir
Com cinco parques de campismo, em Sines, Sesimbra, Peniche e São Pedro de Moel, a Campigir tem vindo a investir na remodelação dos seus parques e continua atenta a novas oportunidades, apesar de, como nos diz o seu administrador, Carlos Rodrigues, este ser um setor onde já há muito capital estrangeiro a investir.
Quantos parques é que tem atualmente a Campigir?
Temos cinco parques neste momento, um em São Torpes, dois em Sesimbra (a Campimeco e o Valbom, junto à Arrábida), um em Peniche (o Urban Art em Ferrel) e
depois temos um outro em São Pedro de Moel, na Marinha Grande. Este último é da Fundação Inatel, mas nós fazemos a exploração.
Como é que define as zonas em que têm os parques?
Todos eles vão muito no sentido do posicionamento geográfico ser junto a planos de água, nomeadamente o Oceano Atlântico. Foi sempre com a aposta neste tipo de posicionamento que se deu a evolução do grupo.
Em São Torpes vocês procederam recentementea remodelações. Quais foram?
Temos novos bungalows, remodelámos a zona de campismo e os edifícios, também temos edifícios novos, a receção foi toda refeita com uma traça mais alentejana e construímos campos desportivos, um de padel e outro de futebol. Por acaso são dos poucos que têm vista mar ali na zona, permitindo que se aprecie o pôr do sol da praia de Morgável.
Nós tínhamos quatro e passámos a ter sete bungalows, mais a zona de campismo. A nossa expetativa é que, se as coisas correrem bem, nos próximos cinco-seis anos, consigamos triplicar essa oferta.
Os espaços foram reformulados, os balneários também foram recuperados e atualizados, porque é uma área em Sines, São Torpes, que tem muita procura, quer em autocaravana quer até individualmente de bicicleta, param lá e acabam por ficar entre uma a três noites.
Quem é que vos procura, neste parque, concretamente?
Neste parque concretamente, as principais nacionalidades que nos procuram, para além da nacional, é a holandesa. É um mercado que tem uma grande predileção por aquela zona, porque a temperatura é muito agradável no inverno e eles preferem estar cá no inverno e depois no verão vão visitar a família e depois regressam. Nós temos clientes que passam lá temporadas longas no inverno.
É evidente que este parque de campismo sofre de sazonalidade…
A zona de campismo sim, claramente, o parque de autocaravanistas cada vez menos, até porque é uma área que está a crescer e a parte dos bungalows sim, mas depois depende das experiências que podemos dar para complementar. Ou seja, quanto mais atividades conseguirmos oferecer o ano inteiro mais conseguimos combater essa sazonalidade e já estamos a conseguir fazê-lo, temos um grupo de pessoas que nos permite alargar a oferta de animação.
Os parques de Sesimbra têm as mesmas características?
São parques mais para famílias. Enquanto o de São Torpes está mais direcionado para caminhantes individuais e casais, o de Valbom e o do Meco são mais vocacionados para famílias, também são maiores, têm piscinas, um deles tem discoteca, portanto têm mais valências que os outros não têm, mas o posicionamento é ligeiramente diferente por causa disso.
Estamos a começar agora a fazer investimentos com alguma relevância nesses parques. No Parque Valbom, da Cotovia, junto à Serra da Arrábida vamos colocar 40 Bungalows. Mas em qualquer destes parques já temos alguma oferta de bungalows.
Nestes parques é dominante o turista nacional, mas também temos espanhóis, alemães, franceses.
Dois parques a norte do rio Tejo
Têm também um parque em Peniche…
Sim, é o mais recente, abrimos em 2018, na zona de Ferrel, junto à praia de Almagreira, que é um destino muito virado para o surf. Trata-se de um parque mais vocacionado para um público muito mais jovem, surfistas que praticam a modalidade o ano inteiro, que fazem lá temporadas à espera das ondas. São clientes totalmente diferentes dos outros parques. O cliente nacional não domina, deve andar apenas nos 20 a 30% as nacionalidades europeias são dominantes.
O parque de São Pedro de Moel é uma parceria que vocês têm e que fazem exploração. Há quanto tempo estão a explorar este parque?
Vai fazer 12 anos. A Fundação Inatel está a fazer uma remodelação do parque, aliás eles estão a fazer em todos os parques deles. Estão à espera de licença para avançar no Parque de Campismo da Costa da Caparica e vão avançar também no de Cabedelo.
Os associados da Inatel têm as mesmas condições?
Têm descontos próprios, faz parte da nossa parceria, as condições são iguais. É um parque mais familiar, com atividades desde a ciclovia junto à estrada do Atlântico, gigante. E aqui o mercado nacional volta a ser o principal, mas há outras nacionalidades que de início nem estávamos a contar, como por exemplo russos. Atualmente o principal mercado é o nacional, depois espanhóis, franceses. O nosso mercado tradicional para nós é a Europa de Centro – Norte.
Qual é a vossa estratégia de marketing?
Desde há muitos anos que apostamos numa estratégia de marketing muito clara, baseada nos roteiros tradicionais de campismo. Nos últimos anos temos apostado muito em feiras, nomeadamente sectoriais, temos aproveitado esta parceria com aARPTA [Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo], de que fazemos parte, para virmos a feiras sectoriais. Fomos a muitas feiras direcionadas para turismo de natureza, porque os campismos em Portugal, os que estão a evoluir, já não se enquadram no mercado do campismo tradicional, enquadram-se no mercado da hotelaria de ar livre ou do turismo de natureza, e a pandemia veio trazer ainda mais relevância a esse setor e é por aí que se está a evoluir. Tanto que o mercado de campismo puro hoje em dia é muito residual, o que continua a crescer é o mercado autocaravanista, cujo principal mercado emissor é o alemão e o belga, que é um setor muito forte, que cresceu muito. E depois temos o mercado dos bungalows que tem vindo a ganhar cada vez mais expressão e que nos permite contrariar muito a sazonalidade. A lógica é oferecer cada vez mais experiências para os clientes, porque isso vai contrariar cada vez mais aquela lógica do preço mais baixo.
Agências de viagens estrangeiras já trabalham bem este segmento da oferta
As agências de viagens comercializam este produto?
Comercializam, principalmente as alemãs. Nós trabalhamos muito com a Portimar, com a Olimar. Eles têm esse produto específico e procuram e precisam de parceiros e durante muitos anos trabalhavam só com um operador em Portugal, hoje em dia trabalham com muitos mais e nós somos um deles e temos tido cada vez mais.
Em Portugal é que ainda não há muito a cultura das agências vos procurarem, são mais os clientes diretos que o fazem?
Pois não, porque o setor em Portugal ainda está muito parado e a pensar que o alojamento só é feito em hotéis. E cada vez mais e, então com a pandemia, o turismo rural, os glampings, os parques de campismo, ganharam expressão… Nós temos exemplos em Portugal, como o Ohai, na Nazaré, que já é glamping ou campismo de luxo, bungalows de luxo, temos parques no Algarve de qualidade excecional, que já ganham prémios de tudo e mais alguma coisa. Em Sines, em Porto Covo, temos o Costa do Vizir Beach Village que fez uma remodelação completa e está também nesse caminho, inclusivamente contratou há pouco tempo um chef com Estrela Michelin para o seu restaurante, ou seja, está-se a explorar qualidade. Mas o problema é que há ainda um estigma muito grande do setor e de alguns clientes que pensam que campismo é Costa da Caparica,ou sejam os parques mais antigos. Há desses ainda, mas cada vez são menos.
Algum novo projeto na calha?
Temos alguns em estudo, mas não tem sido fácil, porque neste momento o setor está a passar uma fase diferente, porque há muitos investidores internacionais em Portugal e é muito difícil combater com o dinheiro que vem de fora. Mas estamos atentos a oportunidades e andamos a explorá-las.
Falava há pouco nessa parceria com a ARPT do Alentejo, vocês também fazem estas parcerias com outras regiões?
Temos com o Alentejo e com o Algarve, até porque eu também sou presidente da Associação Parques de Campismo Alentejo e Algarve e tenho trabalhado muito com a equipa do João Fernandes [presidente do Turismo do Algarve], são duas regiões que estão muito empenhadas em ajudar o nosso setor.
Há duas Associações em Portugal neste momento, havia uma há muitos anos que era a AECAMP, mas foi extinta e depois houve uma decisão de alguns players, que foram para a AHRESP enquanto os que estavam concentrados no Alentejo e no Algarve, criaram uma outra associação. Somos 13 associados, mas que representam perto de 40% das dormidas de todo o setor a nível nacional e através dessa associação é que tenho tido muita intervenção também no Algarve.