Bolsa de Empregabilidade na BTL com entrada grátis porque “ninguém deve pagar para procurar trabalho”
A Bolsa de Empregabilidade, iniciativa do Fórum Turismo, regressa a 18 e 19 de março, na BTL, e estreia-se no Porto, a 6 de Abril. Sobre o que se espera dos eventos, num momento de escassez de mão de obra para o setor, o Turisver falou com António Marto, presidente do Fórum Turismo.
Já antes da pandemia havia falta de recursos humanos no turismo, com a retoma da actividade, parece que o problema se mantem?
Espera-se que este ano venha a ser de reinício de atividade e, como tal, é preciso ir ao mercado. Na última Bolsa de Empregabilidade, realizada em 2019, de facto já sentimos um aumento muito grande das necessidades de contratação e essa necessidade é agora ainda maior porque as empresas, durante a pandemia, libertaram os seus recursos que foram para outras áreas de actividade e agora é necessário ir novamente buscá-los ao mercado. Esta é a grande mudança de paradigma verificada nestes dois anos.
Isso traz uma dificuldade acrescida que é a de conseguir fazer voltar ao turismo os recursos humanos que estão agora estabilizados noutras áreas.
Esse é o grande desafio que se coloca. O setor precisa de saber se reinventar e de ser mais generoso para quem nele trabalha – só assim é que vai conseguir dar a volta. A não ser que fenómenos como os que estão a existir hoje, como a instabilidade no norte da Europa, possam vir a ser uma fonte de recursos humanos para alimentar os quadros do turismo, não só em Portugal como noutros países.
Como ainda não se sabe o que pode acontecer a esse nível, o que é fundamental neste momento é que o setor do turismo cuide bem dos recursos existentes, que faça com que eles tenham gosto pela entidade que estão a representare que consiga influenciar os recursos a vestir a camisola da empresa.
Quando diz que as empresas terão que ser mais generosas, refere-se apenas aos vencimentos ou também às condições de trabalho?
Aos dois níveis. É verdade que a maioria é movida pelas condições financeiras mas não se trata apenas disso. Uma empresa que apresente estabilidade, que dê a hipótese de progressão na carreira, que permita fazer ações de formação e que olhe para o funcionário com cuidado e estima, será sempre preferida.
Bolsa de Empregabilidade no Porto a 6 de Abril
Quantas empresas vão estar neste ano na feira a propor emprego?
Este ano temos uma novidade, vamos estar em Lisboa no âmbito da BTL, com a Bolsa de Empregabilidade a decorrer na sexta feira e no sábado e vamos rumar ao Porto, pela primeira vez.
Na Bolsa de Empregabilidade em Lisboa vamos ter 75 empresas, número que permite exceder largamente a 10 mil ofertas de trabalho que habitualmente estavam neste espaço.
Para o Porto, nesta primeira edição que vai decorrer no dia 6 de Abril no Palácio da Bolsa, já estamos com mais de 55 empresas inscritas e acreditamos que vamos exceder bastante este número. Temos uma grande expectativa em ver qual vai ser a reacção do público do Porto relativamente a este evento que pela primeira vez ali vai acontecer.
No Porto vamos ter apenas um dia mas a Bolsa irá decorrer num horário alargado, das 10h00 às 22h00, para podermos ir buscar um público que esteja a trabalhar mas que possa ir até lá e perceber as ofertas que existem, informar-se com os responsáveis de recursos humanos e, quem sabe, sair com um contrato na mão.
Já conseguem identificar quais as áreas em que incidem as ofertas de trabalho?
Temos ofertas para as mais diversas áreas, desde as mais operacionais às mais exigentes em termos de conhecimento. Vamos ter ofertas em áreas como o marketing, relações públicas, cozinha, housekeeping, receção… As ofertas de emprego não vão ser apenas para os níveis mais básicos, estamos a falar também de opções de liderança e vamos ter ofertas de marcas muito interessantes que estão à procura, por exemplo, de cargos intermédios.
“Hoje, a necessidade de recursos humanos é tão grande que muitas empresas estão a apostar nos contratos sem termo quando o candidato apresenta um bom nível de performance”
Para os alunos que procurem estágios será também apetecível ir à Bolsa?
Sem dúvida, desde logo para que consigam perceber quem é a pessoa que está do lado de lá, quem é que na empresa vai receber a sua candidatura e isso é muito importante. Estamos cada vez mais focados no digital mas é importante darmos valor às acções presenciais e nesse sentido é fundamental vir à feira.
Por ouro lado, através deste contacto direto poderá perceber melhor se há ou não uma oportunidade por parte da empresa e se ela lhe interessa. Se esse for o caso, pode agarrá-la de imediato. O que muitas empresas fazem é contratar um aluno como estagiário e mais tarde dão continuidade com um contrato de trabalho.
Hoje, a necessidade de recursos humanos é tão grande que muitas empresas estão a apostar nos contratos sem termo quando o candidato apresenta um bom nível de performance.
Há dias falava com um director de recursos humanos de um grupo hoteleiro, que dizia que a necessidade de recursos humanos era tão grande que já estavam dispostos a contratar pessoas sem qualificação, que seriam depois formadas no hotel. Essa possibilidade também é colocada por algumas das empresas que vão estar na Bolsa?
É difícil falar por cada uma das empresas porque são diferentes entre si e tem uma abordagem diversa mas, de acordo com o que tenho vindo a perceber através dos contactos que as empresas fazem connosco, sinto que estão realmente disponíveis em serem elas próprias a fazer a capacitação de colaboradores que não tenham experiência. Tudo depende da própria empresa que pode ter, ou não, espaço e tempo para dar formação, mas na minha opinião as empresas estão hoje muito disponíveis para poderem aceitar pessoas sem experiência.
“É preciso olhar para o futuro, ir às escolas secundárias falar do que é o turismo e do que são as suas profissões para que os mais jovens comecem a crescer com a noção de que o turismo não é só trabalhar num hotel”
Há uns anos houve uma grande campanha em prol da dignificação das profissões turísticas. Pensa que hoje, dada a carência de recursos humanos, fazia sentido uma campanha destas?
Acho que sim. Tudo aquilo que pudermos fazer para que o turismo possa captar a atenção, seja dos jovens, seja de profissionais de outras áreas, deve ser feito porque as profissões do turismo têm muito mais para dar do que aquilo que sabemos delas. Há profissões lindíssimas no sector do turismo mas as pessoas deixam-se ficar muitas vezes pela primeira impressão.
Esse é um dos passos a ser trabalhado e é tão importante como as campanhas para atrair turistas. Já houve várias intenções por parte do Turismo de Portugal mas nenhuma foi materializada, talvez porque a pandemia acabou por atrasar essas intenções.
Iria mais longe: é preciso olhar para o futuro, ir às escolas secundárias falar do que é o turismo e do que são as suas profissões para que os mais jovens comecem a crescer com a noção de que o turismo não é só trabalhar num hotel. Os resultados não seriam imediatos mas viriam a médio e longo prazo.
Como é que vai decorrer este ano a Bolsa de Empregabilidade?
Como é habitual teremos uma sessão de abertura, na manhã do primeiro dia, em que contaremos com a presença de membros do Governo e do Turismo de Portugal, bem como de patrocinadores e parceiros.
O grande foco reside nas vagas que existem em aberto e nas pessoas que as procuram, pelo que estamos a trabalhar junto não só da Academia mas também junto do Instituto de Emprego e Formação Profissional para podermos encaminhar os interessados para os dois dias da Bolsa, onde terão ofertas de todas as áreas do turismo, à exceção da aviação.
Além disso, irão poder contar com a nossa ajuda para construírem um currículo, um pitch de apresentação das suas valências junto de um director de Recursos Humanos. Vamos também trabalhar com eles no diagnóstico e avaliação das línguas estrangeiras, entre outros serviços que iremos prestar-lhes.
Quem vai às Bolsa de Empregabilidade tem que pagar o bilhete de entrada na BTL?
Não. Para participar na Bolsa existe um custo associado de 2,50€ mas somos nós a suportá-lo, dentro da nossa filosofia de que ninguém deve pagar para procurar trabalho. No entanto, isso não permite entrar na BTL. Já quem tiver o passe da BTL poderá sempre entrar na Bolsa de Empregabilidade.