Autarcas preocupados com perda de identidade dos centros históricos

A perda de identidade e de “alma” dos centros históricos não serve ao turismo, já que uns e outro devem manter uma relação inseparável, como ficou concluído do XVIII Encontro Nacional dos Municípios com Centro Histórico, que decorreu em Almada, de 10 a 12 de novembro.
A “alma” dos centros históricos e a sua transformação em áreas “completamente uniformizadas” por causa do turismo foram apenas duas das várias preocupações que ficaram do XVIII Encontro Nacional dos Municípios com Centro Histórico, que este ano teve exatamente como tema “Turismo e Centros Históricos”.
Logo na sessão de abertura, a presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, defendeu que “o desenvolvimento turístico não é incompatível com a preservação do património e com a vivência local”, tendo manifestado a importância de salvaguardar os direitos fundamentais de quem habita os centros urbanos, afirmando que “se perdermos os nossos habitantes, perdemos a nossa identidade”.
Nesse sentido vão também as conclusões do Encontro, onde ficou demonstrada a relação inseparável que existe entre o turismo e a reabilitação dos centros históricos.
A mesma ideia seria também transmitida à agência Lusa pelo secretário-geral da Associação Portuguesa dos Municípios com Centro Histórico (APMCH), Frederico Mendes Paula, ao referir que “não é possível termos políticas de desenvolvimento turístico em centros históricos sem mantermos populações, a alma, as vivências, os serviços e os bens que aí existem” porque “é isso que faz com que sejam autênticos”.
Frederico Paula faz ainda notar que com os moradores “relegados para as periferias”, a transformação das funções dos imóveis para alojamento turístico e a conversão do comércio local em estabelecimentos de lazer, corre-se o “risco de se transformarem áreas genuínas e com características únicas em áreas completamente uniformizadas”.
Reconhecendo que o turismo é “muito importante” para as economias locais, Frederico Mendes Paula diz que é possível existir harmonia entre moradores dos centros históricos e turistas, se existirem “políticas de desenvolvimento” que sejam enquadradas por regras. Para isso, disse, é necessário que seja feito um trabalho entre autarquias, agentes privados e Estado central, em que “os agentes privados são os grandes investidores na habitação e no imobiliário” e o Estado tem uma “responsabilidade de regulação do mercado” para que os imóveis de residência não sejam transformados em alojamento local e/ou apartamentos de luxo, já que num cenário como este “a alma dos centros históricos perde-se”.
Refletir sobre o turismo e o seu impacto, quer como fator de desenvolvimento e de regeneração, mas também como possível ameaça ao património edificado, às atividades tradicionais e à permanência da população residente, foi o objetivo deste encontro.
Foto: Luís Filipe Catarino _ CM Almada