ATA sem solução pode atrasar crescimento turístico nos Açores
A Associação de Turismo dos Açores (ATA) vive dias complicados. Imbróglios que se arrastam no tempo, dívidas, pouco empenhamento do governo regional e divisão entre empresários do setor, levam a que não existam candidatos às eleições.
As entidades turísticas, públicas e privadas, nos Açores, parecem estar a andar sobre “brasas”, dado o arrastar da situação complicada pela qual passa a Associação de Turismo dos Açores (ATA). Esta é uma situação que não é nova, mas atingiu um patamar crítico com a decisão de Carlos Morais em não se recandidatar às eleições, alegando como impedimento a sua eleição para a vice presidência da Câmara Municipal da Horta, na Ilha do Faial.
As eleições para a direção da Associação de Turismo dos Açores foram adiadas, porque o prazo para a apresentação de candidaturas aos corpos sociais já terminou sem que tivesse sido apresentada qualquer lista. Carlos Morais, atual presidente, não vai poder deixar a presidência da Associação, por um lado porque os estatutos não o permitem e por outro porque estamos a poucos dias do início da BTL, o maior evento do turismo português, onde os Açores vão marcar presença com um stand de grandes dimensões que acolhe no seu seio dezenas de empresas da região, marcando assim uma presença forte na feira.
São vários os motivos que levaram a que, um organismo fundamental para a promoção dos Açores, tenha caído quase num vazio, sem ter uma direção forte e coesa que tome decisões numa altura do ano em que se está próximo da época alta do turismo, tornando-se assim urgente a remarcação de prazos eleitorais e das eleições.
Os motivos que levam a que vários empresários coloquem alguma resistência em avançar para a direção da ATA são vários, a começar pelas dívidas acumuladas e os casos em tribunal em que a Associação, enquanto entidade, e o seu ex-presidente Francisco Coelho estão envolvidos.
Os motivos que levam a que vários empresários coloquem alguma resistência em avançar para a direção da ATA são vários, a começar pelas dívidas acumuladas e os casos em tribunal em que a Associação, enquanto entidade, e o seu ex-presidente Francisco Coelho estão envolvidos. Outra questão é o continuado não envolvimento do Governo Regional na ATA, como membro ativo e as divisões constantemente presentes entre entidades associativas e empresariais de diferentes ilhas.
As dívidas e os casos de polícia
Uma situação que já não vem de hoje são as dívidas acumuladas, tanto à banca, onde o montante ascende a 3,8 milhões de euros, como a outras empresas, como é o caso da SATA. São dívidas que remontam a 2014/15, que foram sendo reduzidas mais por falta de comprovativos que os credores deveriam exibir para serem ressarcidos do que através de pagamentos efetuados.
Se a situação financeira, por si só, não fosse suficientemente pesada, a Associação Turismo dos Açores ainda se vê envolvida nas acusações judiciais de fraude para obtenção de subsídios, viciação das regras da contratação pública, falsificação de documentos e participação económica em negócios, entre outras, o que levou a que, em Fevereiro de 2019, quando Francisco Coelho era ainda presidente, a Polícia Judiciária tivesse feito buscas à Associação e a várias empresas da região, entre as quais a SATA, no âmbito da operação “Nomos”, na sequência da qual foram constituídos cinco arguidos, entre os quais o então presidente da entidade, Francisco Coelho.
O Governo Regional, a SATA e as divisões entre entidades empresariais
Em setembro de 2018, o Governo Regional, então liderado por Vasco Cordeiro, tomou a deliberação de deixar de ser associado da Associação de Turismo dos Açores, no que veio a ser de imediato a ser seguido pela SATA, situação que preocupou os empresários e que estes tentaram reverter, sem sucesso.
O atual governo açoriano, presidido por José Manuel Bolieiro, apesar de ser de outra cor política do anterior, não tem demonstrado, até à data, vontade de reverter esta situação, mantendo-se de fora da ATA, o que também acontece com a companhia aérea dos Açores.
Mesmo reconhecendo que a atividade económica do turismo é um dos motores do desenvolvimento da região, o Governo Regional está a “lavar as mãos como Pilatos”, circunstância que os empresários do sector, ouvidos pelo Turisver online, consideram preocupante
Mesmo reconhecendo que a actividade económica do turismo é um dos motores do desenvolvimento da região, o Governo Regional está a “lavar as mãos como Pilatos”, circunstância que os empresários do sector, ouvidos pelo Turisver online, consideram preocupante e até lhe atribuem uma quota parte de responsabilidade pela situação que se vive hoje, com a ATA em vias de poder ficar paralisada na sua função principal que é a de fazer promoção do destino nos mercados nacional e internacional e potenciar negócios para que os Açores possam recuperar e recomeçar a crescer no turismo.
Para que a tempestade seja perfeita acresce a estas situações a divisão entre associações e empresários turísticos de diferentes ilhas, que procuram, em bom português “puxar a brasa à sua sardinha”, sem terem como foco principal a resolução dos problemas existentes, a definição de uma estratégia promocional e de apoios à venda do destino, que beneficie, em primeiro lugar, os Açores como um todo, porque desta forma, todas as ilhas e todas as empresas beneficiarão também.
O Turisver tem acompanhado todo este imbróglio e sabe que foram várias as reuniões institucionais e entre empresários do sector, que se realizaram na última semana. Depois de ter ficado vazia a apresentação de candidaturas para os corpos sociais da ATA, o processo vai recomeçar e é crível que as eleições possam acontecer entre o final do mês de abril e início de maio.
J.E.