As agências de viagens deviam olhar para os Açores como “um destino de experiências” afirmou Tiago Botelho
Há 20 anos no mercado, a Picos de Aventura é uma empresa de animação turística que oferece atividades no mar e em terra nas ilhas de São Miguel e Terceira. O Turisver falou com Tiago Botelho, coordenador comercial e de atividades em terra para ficar a conhecer a empresa e os seus produtos. Concorrência, sazonalidade, níveis de procura e perspetivas de crescimentos, foram temas em cima da mesa.
O ano passado a Picos de Aventura já teve uma recuperação de mercado, mas já atingiu os números de 2019?
O ano de 2022, até ao mês de março, decorreu de uma forma que nos deixava grandes dúvidas de como poderia acabar em termos de resultados. Para compararmos com os anos de 2018 ou 2019, que eram os anos de referência, tivemos de começar a fazê-lo só a partir da primavera de 2022, quando começámos a ter níveis de produção muito interessantes, com crescimentos na maior parte das atividades que oferecemos, e 2022 acabou por ser um ano muito bom.
Quem é que procura mais as vossas atividades? Os turistas estrangeiros ou o mercado nacional?
O mercado nacional tem uma quota superior a 50% nos Açores, mas na Picos de Aventura são mais os turistas estrangeiros que procuram as nossas atividades. Ainda assim, se falarmos em nacionalidades, os portugueses representam uma grande fatia no número de clientes.
O que é que o mercado procura mais dentro da oferta diversificada que a Picos de Aventura tem?
A nossa oferta não é criada apontando a um mercado ou a uma nacionalidade específica, aquilo que é a nossa filosofia é darmos a oportunidade aos nossos clientes de conhecerem aquilo que é a ilha de São Miguel e a ilha Terceira de uma forma ativa, em contacto com a natureza, com a cultura e com a história das ilhas, proporcionando experiências diversas que apelam a diferentes tipos de mercado. Provavelmente, essas propostas são mais fáceis de entender numa perspetiva de faixas etárias, aí conseguimos com as nossas propostas ter clientes a fazer atividades mais radicais, como é o canyoning ou a natação com os golfinhos no mar, e outros a fazerem atividades mais calmas como os passeios guiados ou os tours organizados. Portanto não é uma questão de apelarmos mais a mercados em termos de uma nacionalidade, mas sim de apelarmos a faixas etárias e desta forma conseguimos ter uma métrica mais acertada.
O conjunto das vossas ofertas aos turistas divide-se em duas áreas, as atividades em terra e as atividades no mar. O que é que tem mais procura?
As mais procuradas são as atividades de mar, que representam mais de metade da nossa produção anual, sendo que a observação de baleias e golfinhos é o produto mais bem consolidado e mais desenvolvido nos últimos anos, o que faz com que a procura por este produto seja maior.
Existe também outro fator que considero importante para que as atividades de mar tenham uma procura maior, é que há atividades nas ilhas que os turistas podem fazer por si próprios, qualquer pessoa aluga um carro e vai descobrir a ilha por si, ou fazer um passeio pedestre por si – costumo dizer é só preciso comprar um par de botas – embora não fique com um conhecimento tão aprofundado como se fizer um programa com acompanhamento.
Quando estamos a falar em ir para o mar, isso já requer recursos que as empresas que fazem estas ofertas de passeios é que têm, e sendo assim o reflexo é os turistas procurarem os serviços da Picos de Aventura que oferece várias opções aos turistas.
Atividades no mar e em terra
O turista tem muitas vezes a ideia que ir aos Açores é ver as baleias, mas a Picos de Aventura tem mais opções a apresentar. Quais destacava?
A nossa oferta de atividades de mar centra-se essencialmente na observação de baleias e de golfinhos e temos feito investimentos neste sentido. Como exemplo posso dizer que investimos num novo catamarã que chegou há dois anos, em época de pandemia, que nos veio dar mais capacidade de resposta à procura que estávamos a ter.
Mas respondendo concretamente à sua pergunta, também oferecemos um programa de natação em alto mar com golfinhos, temos vindo a aprimorar esta atividade por forma a torná-la cada vez mais sustentável, estando sempre atentos àquilo que são os inputs dos parceiros e dos clientes. Temos aumentado o preço dessa atividade e reduzido a oferta porque a nossa equipa que acompanha sempre os turistas nesta ação nos dá inputs que respeitamos muito. Lembro que as nossas equipas têm sempre um biólogo marinho a bordo e foi com base nas suas opiniões que no ano passado, em pleno verão, reduzimos a nossa oferta da natação com golfinhos, não com o objetivo de a tornar mais exclusiva mas sim para a tornarmos mais sustentável.
Nós temos a noção de que somos convidados do meio marinho e é muito importante mantermos essa ideia enquanto empresa que assume uma responsabilidade sobre a preservação e sustentabilidade desse meio.
Nas atividades de mar oferecemos também os combinados de observação de baleias com a visita ao ilhéu de Vila Franca do Campo. Trata-se de um programa sazonal que só fazemos durante a época alta porque estamos muito dependentes do transporte que é assegurado pelo Governo Regional dos Açores para o ilhéu, em regime de exclusividade. Oferecemos ainda outras atividades com parceiros, como é o caso do mergulho e da pesca desportiva.
E, em terra, a vossa oferta não passa apenas pelos passeios guiados?
Não, aliás uma das atividades que tem crescido bastante nos últimos anos é o canyoning e penso que isso se deve, em primeiro lugar, ao facto de a Picos de Aventura ter os materiais e os monitores com as certificações que nós consideramos essenciais para o enquadramento seguro desta atividade e também porque temos tido cada vez mercados mais jovens que procuram este tipo de atividades com mais adrenalina. Por outro lado, a nossa distribuição e promoção também tem aumentado, nomeadamente em canais online, o que faz com que consigamos chegar a um público muito mais vasto.
Depois, temos a parte dos passeios em terra, dos passeios em carrinha e em bicicleta, da canoagem, temos uma panóplia que passa também pelos produtos em tailor made, aliás, nos últimos anos, temos crescido também ao nível dos programas feitos à medida para grupos, incentivos, famílias, casais, e isso dá-nos experiência suficiente para estarmos confortáveis e oferecermos atividades de uma ponta à outra, isto é, desde o momento em que um turista aterra numa das ilhas onde estamos até ao momento em que se vai embora.
Terceira e São Miguel com algumas ofertas diferenciadas
Pelas características das ilhas onde estão, Terceira e São Miguel, a oferta diverge de uma para a outra ou é a mesma?
Confesso que ao início tentámos que a oferta fosse a mesma em ambas as ilhas embora exista uma série de condicionantes, algumas delas exponenciadas pela pandemia, o que não nos permite que a oferta de São Miguel seja replicada para a Ilha Terceira, na sua totalidade.
Tentámos ter uma atividade de canyoning que na ilha Terceira mas é muito sazonal devido às próprias características da ilha mas, por outro lado, temos outros produtos que são muito mais ricos na ilha Terceira comparativamente a São Miguel, como os passeios guiados na cidade Património Mundial de Angra do Heroísmo. Acho que, naquilo que é a nossa oferta, há um complemento entre as duas ilhas e isso é que é o mais importante.
Atualmente temos capacidade e condições para que as pessoas descubram estas duas ilhas sempre sob a alçada da Picos de Aventura, mantendo aquilo que é o nosso nível de serviço, aquilo que é a nossa oferta e o acompanhamento que damos aos turistas, as atividades de bicicleta e de canoagem não temos na ilha Terceira.
Cada vez há mais empresas de animação turística mas há atividades que requerem cuidados especiais. A vossa concorrência tem uma boa postura no mercado?
As empresas que nós consideramos como nossas concorrentes, têm. Se falarmos, por exemplo, nas atividades de mar, há uma regulamentação específica para isso e as empresas têm que a cumprir. Penso que, do ponto de vista da operação, as empresas estão mais ou menos alinhadas. Naturalmente que depois há estratégias comerciais diferentes.
Na área das atividades em terra houve dois momentos que destaco. O primeiro, a partir de 2015, quando houve a liberalização do espaço aéreo, em que apareceram muito mais empresas de oferta de passeios porque é fácil abrir uma empresa deste tipo, seja de passeios a pé ou de carrinha. Depois veio a pandemia que, de certa forma, trouxe algum equilíbrio. Tem havido crescimento mas penso que o posicionamento do destino e o que os turistas procuram quando vão aos Açores, requer que as empresas tenham um nível de serviço bastante elevado. Claro que há ainda muita gente que procura preço mas as empresas que consideramos nossas concorrentes, tanto a nível de atividades em terra como no mar, pautam-se também por uma boa conduta, um bom serviço e colocam muito cuidado no que fazem.
“A sazonalidade é intrínseca à atividade turística, nunca iremos conseguir ter níveis de produção em fevereiro ou março como temos em julho ou agosto, mas temos que olhar para isso como um desafio e como uma oportunidade”
O principal obstáculo à vossa atividade é a sazonalidade?
A sazonalidade continua a ser um desafio muito grande e nós estamos atentos e a tentar desenvolver experiências e produto que façam com que consigamos ter uma atividade mais estável.
A sazonalidade é intrínseca à atividade turística, nunca iremos conseguir ter níveis de produção em fevereiro ou março como temos em julho ou agosto mas temos que olhar para isso como um desafio e como uma oportunidade. Na ilha de São Miguel nós somos abençoados por termos algumas características dentro da ilha que nos permitem dar resposta ao inverno, como sejam as águas termais na parte oeste e central, no vale das Furnas e é nisto que devemos investir para trazermos mais pessoas durante o inverno. Não é fácil, o nosso mercado ainda é muito do hemisfério norte e por isso condicionado pelo inverno mas o clima ameno dos Açores pode apelar a que as pessoas vão passar alguns dias às ilhas mas há ainda trabalho a desenvolver, seja só ponto de vista da empresa como de gestão do próprio destino.
Na área das atividades de mar, que requer grande investimento, são um bocadinho como os pescadores, além de sofrerem a sazonalidade normal do turismo ainda estão dependentes do estado do mar.
É verdade porque a segurança tem que estar acima de tudo e isso é algo que nem sequer está sujeito a debate. Existem parâmetros que consideramos e avaliamos, que tentamos antecipar mas o clima nos Açores é muito instável e por vezes só conseguimos ter informações mais concertas no dia anterior e às vezes no próprio dia da atividade.
As empresas ao ganharem maturidade do mercado, e a Picos de Aventura está no mercado há 20 anos, também ganham consciência de que temos uma responsabilidade muito grande e não podemos arriscar certos parâmetros. O mar dos Açores é muito instável, nós somos tão democráticos que temos quatro estações num só dia mas muitas vezes não há segurança suficiente para que possamos sair para o mar.
A partir de agora, o crescimento da Picos de Aventura será por reforço da oferta nas ilhas onde estão ou por alargamento a outras ilhas?
No imediato, sob o ponto de vista comercial, o caminho vai passar por estabilizarmos e potenciarmos aquilo que é a capacidade instalada da empresa. Vamos continuar a fazer investimentos, em linha com o que é definido pela administração da empresa, mas o crescimento será feito essencialmente pela otimização daquilo que já temos, por darmos mais resposta à procura nas ilhas onde operamos.
No mercado nacional, o ideal para vocês é que as agências de viagens quando vendem Açores já incluíssem os vossos produtos?
O ideal seria as agências de viagens considerarem que o destino Açores é um destino de experiências, por isso, sim, o ideal seria que os pacotes já considerassem os nossos produtos ou, pelo menos, que apelassem às pessoas para irem além do pacote base ou seja, que fossem agentes ativos na promoção das experiências que os Açores oferecem.
O que é que não perguntei e gostaria de dizer?
Penso que é importante ressalvar o facto de os Açores serem um destino em crescimento sustentado e que as pessoas olhem para a Picos de Aventura como uma referência naquilo que são as atividades de animação turística nos Açores, como uma aliada que está há 20 anos no mercado, que tem capacidade de resposta seja para o cliente final seja para os nossos parceiros das agências de viagens, que tem investido muito na diversificação da oferta e na melhoria das condições, nomeadamente no que se refere à renovação de frotas.