Apoios aos Planos de Comercialização e Venda devem ser aumentados

Numa época de recuperação face aos dois últimos anos mas com um cenário macroeconómico desfavorável, o foco da hotelaria deve ser na rentabilidade. Esta é a opinião de Miguel Cymbron, diretor de vendas e marketing do Grupo VIP Hotels, que aponta também a necessidade de um maior apoio à comercialização e vendas.
Pedia-lhe uma radiografia da situação do Grupo VIP Hotels, face a estes dois anos de pandemia?
O Grupo VIP foi apanhado numa situação complexa porque das 12 unidades que temos em Portugal, 11 são em Lisboa e uma é nos Açores, que numa primeira fase também tiveram muitos problemas. Isto levou a que estivéssemos mais de um ano praticamente parados. Começámos a recuperar no início do verão do ano passado mas em novembro, quando já estávamos numa situação melhorada, surgiu a Ómicron e voltámos a uma situação pior. Agora estamos novamente numa fase de nos reerguermos, mas ainda estamos a dois terços.
Temos praticamente todas as unidades a funcionar e o objetivo é que estejam todas abertas a muito breve prazo, se bem que existam problemas ao nível de alguns mercados: o asiático praticamente acabou, os de leste, nomeadamente a Rússia com quem tínhamos algumas operações de lazer foram canceladas, por isso temos que pensar no Ocidente, ou seja, na União Europeia e na América, englobando Estados Unidos, Canadá e Brasil.
Penso que as coisas vão melhorar mas neste momento há uma grande incógnita que passa pela evolução que a guerra vai ter – não havendo um alastrar do conflito para o lado ocidental, acredito que Portugal consiga manter a sua recuperação normal, com um verão em Lisboa que poderá ser igual aos dos anos anteriores à pandemia.
Relativamente aos Açores, as perspetivas para o verão são ótimas porque há um conjunto de operações aéreas muito forte e a nível do mercado nacional a recuperação está também a ser muito grande, não só no mercado de lazer mas também ao nível do MICE, com o regresso de alguns incentivos.
O que posso dizer é que, neste momento, os números estão muito idênticos a 2014, que tinha sido um ano de viragem face à anterior crise. O percurso deverá ser idêntico, muito embora em Lisboa os mercados asiáticos façam falta. O mercado japonês e o sul coreano deverão ser os primeiros a recuperar, muito embora o japonês tenha uma dimensão muito maior.
Aproveitaram o tempo e menor actividade para refrescarem as unidades hoteleiras?
Fizemos algumas remodelações, dentro das nossas possibilidades económicas e da incerteza que se vivia. Acabámos o que tínhamos em curso, por exemplo, no VIP Entrecampos acabámos a remodelação dos quartos e o VIP Suites do Marquês, que atrasou um pouco face aos nossos objetivos, está em remodelação total.
“Neste momento estamos muito mais orientados na questão dos preços do que nas ocupações porque há uma enorme ameaça, já anterior à situação de guerra mas que agora se está a acentuar, que é a questão dos custos, seja da energia como as matérias primas”
Qual é o vosso objectivo para este ano?
Como disse, estamos muito focados em atingir os números de 2014 mas há uma diferença: neste momento estamos muito mais orientados para a questão dos preços do que para as ocupações porque há uma enorme ameaça, já anterior à situação de guerra mas que agora se está a acentuar, que é a questão dos custos, seja da energia como das matérias primas. Se compararmos com 2019, estamos com preços mais elevados, o que também tem a ver com as operações de grupos asiáticos que, pela sua natureza, puxam sempre os preços médios um pouco para baixo. A nossa grande preocupação neste momento é a rentabilidade e penso que esta deve ser a preocupação de todas as empresas hoteleiras. O cenário macroeconómico não é favorável: fala-se no aumento das taxas de juros, entre outras coisas, e há que ter o foco na rentabilidade.
Um dos problemas com que se confrontam é com os recursos humanos?
A situação da falta de recursos humanos poderá agora atenuar-se com a vinda dos refugiados ucranianos. Vem muita gente bem formada, qualificada e com grande capacidade de trabalho. Tradicionalmente, os ucranianos são pessoas que trabalham muito bem, são muito focados e muito capazes
“A digitalização não se faz se não houver algum contacto pessoal anterior”
Tudo o que se poderia ter feito pelas empresas hoteleiras, nomeadamente em termos de promoção, foi feito?
Penso que havia uma coisa que poderia ter sido feita, que era dar mais apoio aos PCVs [Planos de Comercialização e Venda]. O ano passado fui à Assembleia Geral da ATL, levantei essa questão e a resposta que me deram foi que as verbas são as mesmas e há cada vez mais pessoas.
Em 2020, em Lisboa, foi dada uma majoração de 10 pontos percentuais mas em 2021 essa majoração foi retirada porque estavam muito preocupados com a sua saúde financeira. Os PCVs resultam da contratualização entre as Agências Regionais de Promoção Turística e o Turismo de Portugal, por isso cabe também ao Turismo de Portugal aumentar as verbas para que o apoio possa ser reforçado.
Nós vamos fazer um esforço significativo em Inglaterra, no Meeting Show, e no Brasil, na ABAV, e só recebemos 25% porque vamos a essas feiras de modo independente. Se fossem roadshows ou workshops davam 50% e não entendo porquê – as feiras não deixaram de ser importantes e, numa altura como a que atravessamos, uma empresa investir numa feira no Brasil representa um esforço muito significativo, tendo em conta a tesouraria atual.
É verdade que estamos na época da digitalização mas a digitalização não se faz se não houver algum contacto. Uma coisa é a forma que se fecham os negócios, que está muito digitalizada, outra coisa é a forma como se abrem os negócios, que não é assim tão digitalizada.
Deveria haver mais apoio ao nível da promoção porque o negócio existe, é preciso é ir lá buscá-lo e a concorrência é grande.