Ana Rita Dias, da Iberojet: Ser assistente de bordo é muito mais do que oferecer chá e café
Assistente de bordo na Iberojet, companhia aérea do Grupo Ávoris, Ana Rita Dias foi a chefe de cabine no voo inaugural da Jolidey entre o Porto e Cancun, no México. O Turisver, que integrou o grupo de agentes de viagens e jornalistas convidados, aproveitou para ter uma breve conversa com esta profissional que se confessa apaixonada “pelos ares” e pelo contacto com as pessoas.
Estamos a fazer esta entrevista em pleno voo para Cancun, a bordo do Airbus A3330neo da Iberojet, em velocidade de cruzeiro e a cerca de 11.000 metros de altitude e aquilo que começo por lhe perguntar é o porquê de ter escolhido esta profissão?
Eu sempre tive uma paixão pelos ares que é algo que não se explica e isso, aliado ao contacto com o público que é também uma coisa que adoro, fez-me juntar estes dois mundos, o que foi possível desde que entrei na companhia aérea Orbest, hoje Iberojet que é a nossa marca comercial. Com isto juntei, como se costuma dizer, o útil ao agradável.
Já entrou para a companhia há muito tempo?
Entrei na Orbest em 2010, o que já me possibilitou voar em vários tipos de aviões.
Nestes anos, com a entrada de aviões de uma nova geração, tem havido uma melhoria para o vosso trabalho ou essa evolução é mais sentida pelos passageiros?
Tem havido uma evolução em tudo, aliás o que é uma evolução para os passageiros para nós também acaba por sê-lo. Quando entrei, em 2010, o conforto que existe agora, em termos dos assentos e dos ecrãs individuais, não existia e era tudo mais difícil, ainda tínhamos cassetes para colocar os filmes. Hoje, todo o design dos aviões é diferente, há muito mais conforto, como acontece com este avião em que estamos a voar, o nosso Airbus A330neo.
Trabalha numa companhia aérea de uma empresa que tem vários operadores turísticos e por isso trabalha essencialmente com turistas. São de vários países ou basicamente de Portugal e Espanha?
Acabamos por trabalhar um bocadinho com todos mas claro que trabalhamos mais com o público português e espanhol mas há alguma diversidade, o que nos permite contactar com várias nacionalidades.
Como é o turista português a bordo?
Nós somos sempre muito hospitaleiros, muito simpáticos e muito faladores e isso nota-se no passageiro português, o que não é mau, porque há uma simpatia que não existe noutras nacionalidades. É um público muito simpático mas também é muito exigente e essa exigência tem aumentado ao longo do tempo, mas não é, de todo, um passageiro difícil de lidar.
A experiência e as diferenças entre os voos de longo e médio curso
Trabalhou sempre no longo curso?
Não, também no médio curso. Neste momento a nossa operação com o A320 (médio curso) está mais no mercado espanhol mas nos outros anos tivemos muitos voos, nomeadamente do Porto, para Maiorca, Menorca, Cabo Verde e conseguimos fazer o médio curso. Nestes últimos anos é que temos feito sempre o longo curso.
Qual é a sua preferência, o médio ou o longo curso?
Prefiro fazer o longo curso porque o contacto com o passageiro acaba por ser mais personalizado uma vez que temos mais tempo, não fazemos um serviço apressado, podemos dar maior atenção aos passageiros e mesmo a nível de equipa torna-se mais fácil conhecermo-nos melhor uns aos outros e formarmos uma equipa mais estável. Claro que a somar a isto está o facto de os destinos serem mais apelativos.
As equipas que fazem estes voos regressam logo ao ponto de partida ou ficam alguns dias no destino?
Nestes voos de longo curso não é possível chegar ao destino e fazer outro voo porque há limitações de tempo de voo, o que significa que temos sempre que ficar no destino pelo menos uma noite. Depois depende das rotações. Quando ainda não tínhamos os voos do Porto e de Barcelona, quando saiamos de Lisboa acabávamos por ficar uma semana, quando há mais rotações que se ligam, voltamos mais rapidamente, como é o caso agora.
As equipas são mistas, ou seja, todos os elementos são portugueses?
No caso deste voo, a equipa é toda portuguesa à exceção do cockpit em que por acaso são todos espanhóis e quando são voos à partida de Portugal é isso que acontece quase sempre mas também acontece voarmos com tripulação mista, formada por portugueses e espanhóis.
Em termos da empresa mãe o que se pretende é que não haja uma divisão entre Portugal e Espanha e isso sente-se hoje também ao nível das equipas. Se ao início poderia haver algumas diferenças, hoje já não existem, o ambiente é muito bom.
“… as pessoas olham para nós muitas vezes como a pessoa que simplesmente oferece chá ou café mas fazemos muito mais do que isso. Há toda uma série de procedimentos para garantir a segurança de 388 pessoas que estão a bordo, como acontece neste voo entre o Porto e o México”
Fazem muitos voos para zonas que sofrem com situações meteorológicas como furacões. Alguma vez se passou alguma situação mais grave que afectasse o voo?
Que afectasse o voo, ainda não passei nenhuma situação mas no destino sim. Já tive um alerta de tsunami em Havana, há cerca de dois anos o furacão Grace passou pelo nosso hotel no México. O que conseguimos perceber é que estes destinos, por serem muito afectados por este tipo de situações, estão muito bem preparados para as enfrentar.
Há sempre a ideia de que os tripulantes ganham muito bem e quando há greves por melhores salários não conseguem a simpatia dos passageiros nem do público em geral. Ganha-se assim tão bem na aviação?
Muito sinceramente, isso depende muito das companhias aéreas, principalmente, e também do tipo de voos que fazemos. O salário, os nossos dias de voo, depende das companhias e o facto de serem de médio ou longo curso, também altera aquilo que se recebe. Depois há companhias que têm tudo incluído, outras que pagam uma ajuda de custo extra… O que pode existir, tanto em Portugal como noutros países, é uma grande variação porque não há salários uniformes entre as companhias. Por outro lado, as pessoas olham para nós muitas vezes como a pessoa que simplesmente oferece chá ou café mas fazemos muito mais do que isso. Há toda uma série de procedimentos para garantir a segurança de 388 pessoas que estão a bordo, como acontece neste voo entre o Porto e o México, é o bem estar dos passageiros e é o cansaço que tendemos a esquecer porque gostamos do nosso trabalho, mas as noites que não dormimos ou as 10 horas seguidas a trabalhar enquanto os passageiros estão sentados, tudo isso entra no nosso serviço e no nosso salário.
*O Turisver viajou para Cancun a convite da Jolidey, operador turístico do Grupo Ávoris