Ana Barbosa empresária turística no Alentejo considera que as ‘searas de vidro’ são “o maior crime que se pode fazer ao turismo”
Empresária de animação turística no Alentejo, Ana Barbosa, integrou o painel “A Paisagem – O Ativo Turístico do Alentejo”, moderado pelo presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo. Ali deixou alertas sobre a “grande ameaça” que paira sobre a paisagem alentejana, qual espécie invasora: as centrais fotovoltaicas que cobrem já parte da vasta planície.
Ana Barbosa, empresária de animação turística no Alentejo, é sócia-gerente da icónica a Turaventur – Aventura e Turismo, e tem um vasto histórico no associativismo do setor, tendo fundado a PACTA, que veio a integrar-se na APECATE, de que foi presidente. Na 11ª edição do Vê Portugal, que decorreu em Anadia, foi uma das convidadas do painel dedicado ao Alentejo.
“A Paisagem – O Ativo Turístico do Alentejo”, foi o tema do painel moderado por José Santos, presidente da ERT do Alentejo e Ribatejo, em que os oradores refletiram sobre o papel central da paisagem alentejana como recurso cultural, ambiental e económico, e para os perigos e ameaças que pairam sobre este ativo tão valioso.
Entre estes perigos estão as “searas de vidro” como denominou a empresária Ana Barbosa, as centrais fotovoltaicas – vulgo painéis solares – que invadem a paisagem alentejana de uma forma a que ninguém consegue ficar indiferente.
Para a empresária, “o Alentejo é paisagem” e este é o pano de fundo sobre o qual trabalham as empresas de animação turística como a sua, que têm como clientes turistas diferentes, turistas que “querem passear no Alentejo (…) no campo” ao invés de ficarem dentro de um resort, que dão “um valor imenso” a essa paisagem, que apreciam e de que querem desfrutar.
Foi sobre essa mesma paisagem que a empresária deixou um alerta: “A paisagem do Alentejo vive uma fase de grande ameaça”, afirmou, referindo-se às “mega centrais fotovoltaicas que cobrem hectares e hectares da paisagem de Portugal”, nomeadamente, o Alentejo, que “tem fama de ser um sítio que é uma imensa planície onde se pode fazer tudo”.
“A melhor coisa que nós podemos fazer em prol desta causa, é pôr estes problemas na praça pública, obrigar quem de direito a dizer o que pensa sobre o assunto e questionar sobre o que estão a fazer ao país – não só ao Alentejo como sabemos”
“Agora, em nome da transição energética quer-se cobrir grandes distâncias do Alentejo que vão transformar a nossa paisagem naquilo a que nós chamamos “searas imensas de vidro”, que vão destruir este meio ambiente”. E, para Ana Barbosa, este “é o maior crime que se pode fazer ao turismo”.
E para que a plateia ficasse com uma ideia daquilo de que estava a falar, explicou que “no conselho de Évora, diria mesmo às portas da cidade, que é Património Mundial da Unesco, apareceram no espaço de poucos anos, três grandes projetos de mega centrais voltaicas, um milhão e meio de painéis que vão produzir cerca de mil megawatts e cobrir mais ou menos 1.300 hectares, só da zona norte de Évora”.
“Será esta a vocação estratégica do Alentejo e em particular cidades como Évora? Será que podemos separar o património humano da envolvente? Será que podemos destruir este tesouro? (…) O contributo que temos que dar todos para as alterações climáticas, passa mesmo por este tipo de empreendimentos?”.
Pelo turismo e pelos cidadãos, a resposta de Ana Barbosa foi um rotundo “não” a todas as questões, mas por não ser contra as centrais fotovoltaicas e ser a favor das energias renováveis, disse que na presente situação “a melhor coisa que nós podemos fazer em prol desta causa, é pôr estes problemas na praça pública, obrigar quem de direito a dizer o que pensa sobre o assunto e questionar sobre o que estão a fazer ao país – não só ao Alentejo como sabemos”.
Para a oradora, a campanha para as eleições autárquicas é altura certa para “perguntar a todos os candidatos, o que é que pensam sobre isto e o que é que pensam fazer em prol dos concelhos, porque só assim é que nós podemos ver esta situação na praça pública”, defendeu.


