Algarve bate recorde de hóspedes em 2024 “com um acréscimo de 1,3% no turismo nacional”, afirma André Gomes

O turismo no Algarve em 2024 e as perspetivas para 2025, a chegada de cada vez mais marcas hoteleiras internacionais à região e a captação de novos mercados, os recursos hídricos e as eleições autárquicas, foram alguns dos temas abordados na conversa do Turisver com André Gomes, presidente da Região de Turismo do Algarve.
Falou-se muito, durante o ano passado, que os portugueses andavam arredados do Algarve mas as notícias que vinham da região não davam essa indicação. Pedia-lhe, por isso, que esclarecesse se houve mais ou menos portugueses no Algarve em 2024?
De facto, houve mais portugueses no Algarve o ano passado, contrariando aquilo que foi uma narrativa a que, infelizmente, já nos vamos habituando porque a cada período de verão, surgem por norma essas notícias.
Registámos com muito agrado que houve um crescimento da atividade turística na região, de uma forma geral, ao nível de todos os indicadores, superando aquilo que foram os resultados recorde já atingidos em 2023 e, de facto verificou-se que esse acréscimo, a nível de hóspedes, ocorreu tanto do ponto de vista nacional como do ponto de vista internacional.
Deixe-me dar-lhe nota que pela primeira vez a região ultrapassou o número histórico de 5,2 milhões de hóspedes. Nunca na história do Algarve tínhamos recebido tantos hóspedes e aqui tenho que salientar o facto de não estar contabilizado o alojamento local inferior a 10 camas. O facto destas dormidas não serem contabilizadas é uma questão muito importante e muito relevante para o Algarve, e eu tenho vindo a alertar para isso nos últimos tempos.
Para ter uma ideia, num trabalho que fizemos relativamente a 2023, apurámos, junto daquilo que são dados do Eurostat e fazendo o cruzamento entre as diferentes fontes de informação, que em vez de 5,2 milhões de hóspedes, poderíamos estar a falar em mais de 6 milhões, porque apurámos que cerca de 1 milhão de hóspedes fica no alojamento local inferior a 10 camas, gerando 1 milhão de hóspedes e mais de 8 milhões de dormidas.
Respondendo à sua questão, em 2024 ultrapassámos os 5,2 milhões de hóspedes, verificando-se um acréscimo de 1,3%, no turismo nacional e a nível internacional de cerca de 3%. Portanto, é com agrado que verificamos que o Algarve continua a ser o principal destino de férias para muitos portugueses, todos os anos.
Que mercados internacionais é que estão a aumentar, ano após ano, a sua procura pelo Algarve?
O crescimento tem-se dado não só ao nível dos nossos mercados mais consolidados e com os quais temos uma relação mais histórica, e aí naturalmente estamos a falar do mercado britânico, do mercado alemão, e do irlandês, mas também ao nível daquilo que têm sido os mercados com um grande potencial de crescimento nos últimos anos, onde tenho que salientar o mercado norte-americano, tanto dos Estados Unidos como do Canadá.
Este tem sido, de facto, um mercado com um potencial enorme de crescimento, que creio que também estará associado àquilo que são as novas rotas de ligação direta que temos conseguido trazer para o aeroporto de Faro, que ultrapassou os 9,8 milhões de passageiros em 2024, um novo recorde. Essas novas rotas têm-nos possibilitado atrair novos mercados e continuarmos a aposta em mercados como os dos EUA e Canadá, mas também do norte da Europa, em que buscamos mercados que procurem a nossa região ao longo de todo o ano, porque, de facto, o Algarve tem motivações de visita durante todo o ano.
“(…) a chegada de marcas internacionais altamente reconhecidas traz-nos esse acréscimo [de qualidade] e também o desafio de continuar a estruturar oferta capaz de dar resposta àquilo que são os anseios de muitos dos turistas que vão procurar o Algarve nos próximos anos por causa da vinda destas marcas para a região”
As marcas internacionais da hotelaria que nos últimos anos se têm estabelecido no Algarve têm ajudado nessa estratégia?
Sem dúvida e não só na atração de novos mercados e de novos turistas, como também na atração de turistas com outra capacidade financeira, com outra capacidade de realizar despesas na região, assim como, acima de tudo, permite-nos qualificar a nossa oferta. Tenho sido questionado por diversas vezes de que forma vejo estes investimentos estrangeiros na região e o que afirmo é que vejo isso com muitos bons olhos. Primeiro, porque vêm qualificar muita da nossa oferta existente – saliento que a maioria desses investimentos não pressupõe nova construção, estamos a falar de requalificação de unidades já com algumas décadas, atribuindo-lhes novos brandings, trazendo marcas que tenham esse reconhecimento internacional, o que nos possibilita continuar a crescer naquilo que é não só a quantidade e a capacidade da oferta, mas também naquilo que é a qualidade dos serviços que prestamos a quem nos visita.
Portanto, claramente, a chegada de marcas internacionais altamente reconhecidas traz-nos esse acréscimo e também o desafio de continuar a estruturar oferta capaz de dar resposta àquilo que são os anseios de muitos dos turistas que vão procurar o Algarve nos próximos anos por causa da vinda destas marcas para a região.
O aeroporto ainda não é uma preocupação para o turismo no Algarve?
Felizmente não, e ainda temos muito espaço para crescer. Não se coloca a questão que discutimos há cerca de 50 anos a nível nacional. O Aeroporto de Faro é um parceiro privilegiado naquilo que é a nossa atividade e naquilo que é o desempenho económico da região. Dá um contributo extremamente forte, não só do ponto de vista do turismo, mas também do ponto de vista da mobilidade, quer nacional, quer internacional.
Obviamente desejamos e queremos ter mais. O aeroporto ainda tem capacidade para crescer e continuamos a fazer um trabalho muito estreito, quer com o Aeroporto de Faro, quer com o Turismo de Portugal, no sentido de crescermos no número de rotas, de termos novas rotas para novos destinos com que ainda não temos ligação direta, mas não só. Também apostamos muito e trabalhamos muito junto com as companhias aéreas para aumentarmos a capacidade das rotas já existentes, e numa questão muito importante para nós, que é prolongamento das rotas que apenas operam durante o verão para se tornarem rotas anuais.
Temos conseguido atingir os resultados a que nos temos proposto, este ano temos um destaque particular, que vai ser a nova rota para os Estados Unidos, que terá início em maio, mas, para além dessa, estamos a trabalhar muitas em outras.
“Isto mostra-nos duas coisas, por um lado que estávamos a gastar mais água do que precisávamos, por outro lado que conseguimos poupar água em 2024 e ao mesmo tempo crescer em atividade, mantendo a qualidade do serviço que prestámos aos nossos turistas”
Normalmente, quando se perspetiva alguma crise, dá-se muito enfoque ao problema mas depois poucas vezes se faz um balanço. Como é que o Algarve geriu a questão da água para a hotelaria na região? É um problema que está resolvido?
Diria que é um problema que nunca estará resolvido devido às condições climáticas genéricas do clima do Mediterrâneo e que afeta não só países e regiões como o Algarve, mas também outros países da região. Mas eu atrever-me-ia a dizer que vejo com orgulho a forma como a região reagiu à situação de alerta com que finalizámos o ano de 2023 e que levou o anterior governo a instituir um conjunto de portarias no sentido de tomarmos ações adicionais com vista a respondermos a esse problema da gestão da água.
Não é uma questão nova, a região há muitos anos que se debate com escassez de água, e desde 2020, em plena pandemia, que todos os setores da região se juntaram para definir um plano de eficiência hídrica que contemplava muitos destes investimentos e muitas destas ações que vieram a ser agora alavancadas com o investimento do PRR.
A situação de alerta que vivemos em dezembro de 2023 levou a que tivéssemos de tomar medidas excecionais e a região correspondeu muito bem logo à primeira medida porque houve uma capacidade de todos os setores se juntarem e darem o seu contributo para a resolução do problema, seja o setor urbano por parte dos municípios e das empresas distribuidoras de água, seja por parte do setor da agricultura, seja naturalmente por parte do setor do turismo com a premência que tem e com o peso que tem na região. E nessa medida, com o contributo de todos, conseguimos atingir ótimos resultados.
Eu vou-me cingir aos resultados atingidos com a atividade do turismo, em que saliento as campanhas dirigidas quer aos turistas, quer aos residentes, coordenadas por nós, com o envolvimento de todas as entidades a nível regional, públicas e privadas, associações representativas do setor e obviamente também com uma forte participação do Turismo de Portugal.
Além disso, destaco a introdução do selo Save Water, como que uma certificação de eficiência hídrica que criámos com o Turismo de Portugal e com a ADENE, que nos veio conferir a certificação de eficácia das medidas que foram implementadas e que nos permitiu apresentar resultados no final do ano.
Foi com muito agrado que vimos, pelos relatórios da ADENE, que conseguimos poupar água relativamente aos consumos globais de 2023, tendo inclusivamente terminado o ano com uma redução no consumo global no setor do turismo na ordem dos 13%, correspondendo àquilo que era a meta imposta pela portaria do Governo e se virmos o consumo específico, ou seja, por medida, conseguimos poupar 16% face a 2023. Isto mostra-nos duas coisas, por um lado que estávamos a gastar mais água do que precisávamos, por outro lado que conseguimos poupar água em 2024 e ao mesmo tempo crescer em atividade, mantendo a qualidade do serviço que prestámos aos nossos turistas.
A região reagiu bem e vamos continuar este trabalho para a frente, independentemente de novas metas que nos venham a ser instituídas pelo Governo ou não, porque este trabalho é fundamental para o futuro da sustentabilidade da nossa oferta e para a boa gestão dos nossos recursos hídricos.
Do acompanhamento que faço do Algarve, tenho notado que em anos de eleições autárquicas, parece que a terra “treme” um bocadinho e que as instituições, os organismos têm algumas questiúnculas. A RTA está pacífica, está tudo a viver um período harmonioso?
Está tudo perfeitamente harmonioso, é sempre um desafio lidar com períodos eleitorais autárquicos, seja na região do Algarve, seja em qualquer outra região do país, mas é com gosto que tenho visto o trabalho que temos conseguido desenvolver com os 16 municípios da região, que muito frequentemente estão envolvidos ativamente naquilo que é a nossa estratégia e na execução das nossas ações.
Eles fazem parte do nosso universo da Assembleia Geral e é com muito apreço que vejo uma participação ativa de apoio constante à nossa atividade e muitas vezes até conseguimos ter uma perspetiva regional com a qual a região só ganha. Obviamente que cada município, cada concelho tem a sua especificidade, a sua oferta, mas creio que temos vindo a conseguir demonstrar, em particular com este exemplo da água, que quando estamos todos unidos à volta de um objetivo comum e quando estamos todos bem cientes daquilo que são as responsabilidades que cada uma das entidades tem que ter perante a região, perante o nosso território, perante as nossas comunidades, perante os nossos residentes também, os resultados que atingimos são fantásticos e daí a dinâmica que a região tem apresentado nos últimos anos.
Quais são as perspetivas que se abrem para o turismo do Algarve em 2025?
As perspetivas para já são otimistas, todos os sinais nos dizem que poderemos vir a ter mais um grande ano de atividade turística, não só no Algarve como também em Portugal. Obviamente que temos externalidades, temos circunstâncias externas que podem influenciar o desempenho da atividade, como os efeitos de um eventual crescimento da tensão na Europa, mas também noutros pontos do mundo, mas perante os sinais que temos, perspetivamos um ano extremamente positivo.
Para o Algarve vai ser um ano bastante significativo, com a RTA a comemorar 55 anos de existência desde a criação da então Comissão Regional de Turismo em 1970, e para assinalar esses 55 anos vamos desenvolver um programa alargado de comemorações ao longo do ano que irá trazer novas motivações e novidades para a região em 2025 que esperamos que potenciem e alavanquem muito do que será a atividade turística da região neste ano.