Alexandre Marto: Lumen Hotel é um dos melhores quatro estrelas de Lisboa
Aberto em plena pandemia, o Lumen Hotel & The Lisbon Light Show é o mais recente projeto em que está envolvido o empresário Alexandre Marto e representa, também, a sua estreia na hotelaria de Lisboa. Foi em torno do Lumen Hotel e das suas valências que se desenvolveu a conversa, em que falámos também das perspetivas ao nível da operação, entre outros temas.
Como é que entrou neste projeto do Lumen Hotel, em Lisboa?
Para nós era natural entrar no projeto de um hotel em Lisboa porque tínhamos consolidado uma oferta muito forte em Fátima, embora não seja uma oferta de um único proprietário, é antes uma federação de interesses, mas era necessário procurarmos uma oferta complementar noutros destinos. Esta oportunidade surge porque a minha anterior atividade profissional era em mercados financeiros, junto do grupo empresarial Alves Ribeiro que tinha acabado também de decidir entrar e ter uma experiência de hotelaria e que considerou que este poderia ser um “casamento” feliz, ou seja, a minha entrada passou muito por uma relação pessoal e de confiança com o grupo Alves Ribeiro.
Faço notar que o posicionamento deste hotel não tem absolutamente nada a ver com o posicionamento da hotelaria que temos em Fátima, mas utilizamos as ferramentas informáticas, o know-how, a capacidade de promoção que temos em todo o mundo, os contactos com os operadores também a nível mundial, o excelente relacionamento que temos com os DMCs cá, para desenvolvermos a atividade comercial e não tem sido difícil fazer esse percurso.
Outra área em que também já tinham muita experiência, e têm aqui essa competência, é a da gestão.
Exatamente, além da representação que fazemos em relação a este hotel, com a criação de uma nova marca chamada United Hotels of Portugal, embora seja uma marca discreta, utilizada apenas com o trade, empregamos todo o know-how que temos em termos da gestão do hotel que também, tanto quanto conseguimos medir, está a correr de acordo com as expectativas.
No entanto, o hotel abriu ainda em tempos muito nebulosos, não é assim?
É verdade, por isso as expectativas foram variando com o tempo, as iniciais eram mais elevadas, dado que o projeto teve início ainda antes da pandemia e a sua construção desenvolveu-se durante a pandemia e a abertura foi feita também em plena pandemia, pelo que as nossas expectativas foram variando, uns dias mais otimistas, outros mais pessimistas. Quando digo que está a corresponder às expectativas é porque em termos médios, depois de termos tido perspetivas extremamente negativas na altura em que abrimos, em julho, pensámos que íamos ter um início muito difícil mas que depois as coisas iriam melhorar e isso tem vindo a confirmar-se. Esta Páscoa -julgo que para todos os hoteleiros do país -, foi uma semana muito feliz e agora não auguramos nada de mau, muito pelo contrário e por isso voltámos a estar otimistas. Espero que não se trate de mais uma volta de “montanha russa” e que tenhamos alcançado alguma normalidade e alguma estabilidade.
Posicionamento do Lumen Hotel no mercado
Quando lhe é proposta esta parceria com o Grupo Alves Ribeiro e lhe é apresentado o projeto, como é que pensou posicionar o hotel numa oferta tão vasta como aquela que Lisboa tem?
O hotel foi aprovado com um número de quartos superior ao que temos agora e com uma classificação também superior, ou seja, era um hotel de cinco estrelas, com mais quartos, mas terminamos com um hotel de quatro estrelas com 160 quartos, com um piso executivo, essencialmente de suites, um executive lounge, um pátio com uma mais-valia extraordinária como é o vídeo mapping, e uma decoração extremamente discreta mas de que as pessoas gostam. Penso que os hóspedes se sentem bem no hotel, muito pelos materiais e pela luz utilizados no hotel.
O posicionamento, considerando a localização geográfica, passou primeiro pelo estudo da concorrência e pelos fatores distintivos do hotel. Não estava no projeto mas adicionámos a piscina no top floor, o vídeo mapping, salas de reuniões, suites, o executive lounge, adicionámos também camas com 2,20m em todos os quartos, máquinas de gelo em todos os pisos e também internet 6.0, ou seja, tudo aquilo que considerámos que poderia diferenciar este hotel, tornando-o num dos melhores – se não o melhor – quatro estrelas em Lisboa.
Dada a sua localização e dimensão, achámos que seria difícil trabalhar apenas num segmento, portanto, o hotel vai trabalhar com segmentos de lazer mas também com segmentos de corporate, com grupo e com clientes individuais, tentando gerir este mix da melhor forma possível tendo em vista aumentar a receita do hotel e, principalmente, o resultado operacional.
Quando se imagina um hotel também se imaginam os clientes e de onde eles vêm. Que peso é que esperam que o mercado nacional tenha e quais os mercados internacionais em que vão apostar?
Da forma como construímos o hotel, até pelos fatores distintivos que enumerei, alguns deles pouco comuns, como a dimensão das camas e as máquinas de gelo, entre outros que têm mais a ver com o serviço, estávamos a pensar nos mercados que mais cresciam antes da pandemia que eram o norte-americano e o canadiano e acreditamos que, no mundo pós-pandemia esses sejam novamente dois mercados que venham a crescer muito, desde que a TAP mantenha o número de ligações e de voos para esses mercados. Acreditamos também muito no mercado brasileiro e gostávamos que os mercados norte-americano e brasileiro fossem os dois primeiros mercados do hotel, e confiamos que pelo menos 85% dos nossos hóspedes sejam internacionais.
O que vamos ter, apesar das salas serem poucas dado o design do hotel, será o segmento corporate, e estamos já a ter uma surpresa no que toca à quantidade de eventos que estão a ser realizados. O hotel, claramente, não está desenhado para ter muito eventos nem eventos de grande dimensão mas está desenhado para eventos felizes porque as pessoas sentem-se bem nas nossas salas e elas estão quase sempre ocupadas.
Reparei, na visita ao hotel, que têm uma sala maior, com capacidade para 200 pessoas, e têm salas muito acolhedoras para pequenas reuniões que vão até quantas pessoas?
Temos uma sala para14 pessoas e salas pequenas até 10 pessoas, com luz natural e acesso a um pátio exterior onde são feitos os coffee breaks, que possibilita uma sensação de leveza muito agradável para quem está num ambiente de trabalho. Os próprios contrafortes do pátio podem receber, a partir da noite, conteúdos corporativos e as empresas que têm utilizado as salas até ao anoitecer utilizam as paredes do hotel para projetar conteúdos próprios, como o logótipo da empresa, vídeos da empresa, etc. – a imaginação é o limite para a apresentação desses conteúdos. Também isto é um fator surpresa porque não é habitual encontrar três paredes com o tamanho de um campo de ténis cada uma, onde se podem fazer projeções de vídeo com som.
Pátio interior, uma mais valia que possibilita diariamente a passagem de um vídeo mapping
Essa é uma das situações que com que surpreendem os vossos hóspedes?
Surpreendemo-los todos os dias às 22h00, com um vídeo mapping. Temos três tipos de conteúdos: o primeiro é o video mapping da cidade de Lisboa, o Lisbon Night Show, com uma instalação permanente no hotel que é projetada todos os dias do ano, sempre à mesma hora. Depois temos shows temáticos, como o do Natal, da Páscoa ou o do Dia dos Namorados, que são feitos como acréscimo ao anterior e um terceiro nível de projeções que são os dos eventos corporativos que podem projetar o que quiserem desde que não retirem o show principal.
Isso dá-vos a possibilidade de terem um acréscimo de exploração ao nível da restauração?
Exato. O nosso restaurante Clorofila, com entrada direta da rua, tem uma carta inspirada partilha, ou seja, com pratos que podem ser partilhados, tem uma esplanada que dá para o pátio do video mapping e as pessoas podem vir fazer a sua refeição e assistir ao show às 22h00.
Que outras facilidades têm para os clientes?
Temos garagem, o que também é uma mais-valia importante porque estamos no centro de Lisboa, mas o acesso ao hotel é sobretudo facilitado pela estação de metro das Picoas que está a menos de 50 metros. Uma estação muito bonita, em Art Nouveau, que foi oferecida pelo metro de Paris.
A outra questão importante tem a ver com a dimensão do hotel. Não é que seja muito grande em termos dos parâmetros internacionais mas para a cidade de Lisboa, onde a grande maioria dos hotéis não tem 100 quartos, um hotel com 160 quartos já tem uma dimensão apreciável.
Outra coisa que também não é comum é que todos os quartos do hotel podem ser convertidos em quartos twin ou em quartos de casal, permitindo que nos adaptemos às necessidades dos clientes.
“Os custos energéticos subiram imenso, os custos com os recursos humanos também sofreram um aumento e os custos de F&B estão a subir muito. Mas estou otimista relativamente ao próximo ano, depende agora de saber se vamos conseguir comunicado ao mercado o aumento de preços”
Vai ser possível chegar final do primeiro ano de atividade atingindo o objetivo que tinham traçado inicialmente para um ano normal de operação?
Não vai ser possível, por duas razões: primeiro, porque os meses de janeiro e fevereiro foram muito maus; segundo, porque apesar das taxas de ocupação e de os preços poderem ser similares ou até superiores ao que tínhamos estimado inicialmente, os custos vão ser claramente superiores devido à inflação. Os custos energéticos subiram imenso, os custos com os recursos humanos também sofreram um aumento e os custos de F&B estão a subir muito. Mas estou otimista relativamente ao próximo ano, depende agora de saber se vamos conseguir comunicado ao mercado o aumento de preços, ou seja, se conseguimos absorver essa inflação e o aumento de custos com os recursos humanos e se conseguimos passar isso para o preço de venda.
Há uma grande diferença entre gerir um hotel como este em Lisboa e um hotel em Fátima?
A natureza da operação é exatamente a mesma mas em Fátima os hoteleiros estão mais habituados a ter um controlo férreo dos custos e isso pode ter uma alteração. De resto é similar porque já tínhamos atingido um nível de profissionalismo em Fátima que em algumas coisas até pode superar uma parte da gestão do hotel de Lisboa.
Esta empresa criada para fazer este hotel, tem intenções de continuar a investir, seja em Lisboa ou noutra região?
Penso que sim, penso que, com muita calma devemos analisar todas as possibilidades que existem no mercado e que possam fazer sentido em termos de sinergias com a estrutura que já temos montada. Portanto, se surgirem oportunidades acho que devemos analisá-las, mas não estamos com pressa.