Adriano Portugal vê “nuvens” no horizonte e acredita que como em 2024 no pós Páscoa “vai voltar a existir quebra nas vendas”

Já este ano, a rede Mercado das Viagens abriu novas agências em Viana do Castelo e Espinho e um segundo balcão em Braga. A inserção das novas agências na rede foi o ponto de partida para a conversa com Adriano Portugal, diretor-geral do Mercado das Viagens, em que se falou das vendas antecipadas, das feiras de viagens, de rentabilidade, de formação e dos desafios que se colocam ao setor.
Adriano, como é que tem sido a inserção de novas agências na vossa rede?
Tem sido boa, obviamente que com algum cuidado pela instabilidade que nós estamos cada vez mais a viver, com tudo aquilo que tem vindo a acontecer devido às decisões dos Estados Unidos. Isso acaba por influenciar também a forma como nós olhamos para o negócio, que tem de ser com uma atenção redobrada. Mas tem corrido bem.
Com a falta de profissionais que há no mercado, têm conseguido arranjar profissionais de qualidade para as vossas novas agências?
Isso é um problema, mas penso que é geral. Há uma certa dificuldade em encontrar bons profissionais, eles existem, é um facto, mas estão devidamente bem alicerçados nos locais onde estão a trabalhar.
Encontrar novos profissionais para virem trabalhar, não só para os novos balcões, como também para a própria marca, torna-se mais difícil a cada dia que passa. Encontram-se, mas é difícil.
Segundo parece, as vendas antecipadas, que vêm já desde o final do ano passado, da Black Friday, têm sido um sucesso, não é?
Sim, em termos de vendas estamos a falar de sucesso, mas nós continuamos a pautar-nos por aquilo que dissemos após a nossa Convenção, que é apostarmos também muito na programação feita à medida, que está cada vez mais presente nos nossos balcões.
O Mercado das Viagens está agora a realizar um ciclo de formações onde estamos a preocupar-nos muito em dar formação sobre destinos, porque só assim é que conseguimos fazer um produto tailor-made. E obviamente também acaba por estar inerente a esse conhecimento, plataformas que facilitem o trabalho no dia-a-dia.
No tailor-made não se consegue ter uma ideia para onde é que vai a procura, ou consegue?
Não há uma perceção muito exata, mas estamos a falar, por exemplo, de destinos como o Brasil, como a Indonésia ou como a Tailândia. O próprio Japão também já se começa a trabalhar com o tailor-made. Obviamente, com isto não estamos a dizer que vamos virar as costas dos operadores, nem de perto nem de longe, mas acaba por ser uma alternativa para a recuperação da margem de rentabilidade que as agências têm e que é mais pequena com os pacotes turísticos formatados.
Os destinos do Caribe no longo curso e a Tunísia no médio curso são os mais procurados
Nós publicámos há dois dias uma notícia em que dizíamos que os portugueses estão a fugir de comprar férias para os Estados Unidos. Vocês notam isso ou ainda não é percetível?
Sim, nota-se, já se nota que começa a haver uma não procura pelos Estados Unidos. Mas é engraçado porque se para os Estados Unidos há este recuo, começa a haver mais procura pelo Canadá, que é um país vizinho, que também tem muito para oferecer em termos de turismo.
Em termos dos pacotes de férias para o verão, é o Caribe, no longo curso continua a dominar a procura?
Sim, no longo curso continua a ser o Caribe a dominar, sem margem para dúvidas. E no médio curso continua a ser a Tunísia.
No Caribe, como é que tem sido a procura por Cuba?
Tem havido uma boa procura, o que acaba por ser interessante, porque o ano passado surgiram algumas notícias que não correspondiam à verdade, como a história de que faltava bens alimentares, de que se passava fome, etc, etc, etc. Nada disso corresponde à verdade, como tivemos a oportunidade de constatar durante a fam trip que fizemos a convite do grupo Ávoris.
Há é que tomar determinadas precauções para que o turismo, quando chega, saiba o que tem que fazer para conseguir ter as coisas como nós queremos.
Neste período, as vossas vendas, no global das vossas agências estão acima do ano passado?
Estamos acima das vendas do ano passado, sim.
O ano passado, no pós Páscoa, houve uma quebra de procura. Isso poderá acontecer também este ano?
Eu, sinceramente, penso que vai voltar a existir essa quebra nas vendas. Oxalá que esteja errado, porque se há alturas em que eu gostaria de estar errado, esta é uma delas.
Nós estamos com um mercado tão volátil que não conseguimos prever o que é que vai acontecer para o mês que vem ou daqui a dois meses. Muita coisa pode acontecer, esta história das decisões que os Estados Unidos têm vindo a tomar, hoje é branco, amanhã é preto, torna muito complicado perspetivar o que quer que seja em termos de mercado nacional.
Uma das vossas preocupações na Convenção tinha a ver com a rentabilidade. Pensa que, apesar de se estar a vender muito em períodos de promoções, a rentabilidade consegue sair assegurada?
Tem que haver equilíbrio com o tailor-made e cada vez mais temos que propor ao cliente algo mais no momento da venda dos charters. As excursões começam a estar à disposição, portanto, tenta-se recuperar de outra forma. Mas, continuo a dizer, estas campanhas que têm vindo a existir foram boas para a venda, mas não para a rentabilidade. Se alguém disser o contrário, é porque algo estará a escapar-me como escapa à maior parte do trade.
“A BTL continua a ser o eterno problema, e isto é preciso que se diga, e cada vez mais de uma forma bastante clara: os preços que são praticados na BTL não dignificam a nossa profissão”
As feiras, quer a BTL, quer a FLY, feira que se realizou pela primeira vez no Porto, foram boas para vocês?
A BTL continua a ser o eterno problema, e isto é preciso que se diga, e cada vez mais de uma forma bastante clara: os preços que são praticados na BTL não dignificam a nossa profissão.
No caso da feira FLY, aqui no Porto, foi uma agradável surpresa, não só em termos de afluência do público, como também em termos de vendas, principalmente se atendermos a que tivemos um fim de semana de tempestade. E foi muito gratificante ver a afluência que tivemos e o finalizar da compra com margens bastante maiores do que na BTL.
Este ano não há grandes novidades no mercado. Lembro-me da Costa Norte do Egito, que é uma programação charter da Solférias, e da Jamaica, da W2M. Têm tido muita procura para estas novidades?
Tem havido procura para o norte do Egito. Para a Jamaica não tem havido assim tanta procura, pelo menos no que nos diz respeito à nossa rede.
Alguma coisa que queira acrescentar?
Resta esperar que este seja um bom ano para todos, porque é isso que nós desejamos, não só para nós como para toda a gente, porque não vivemos com o mal de ninguém e acho que o nosso setor tem que se unir cada vez mais para encontrar soluções para os desafios que nos são colocados.