A prioridade “deixou de ser a remuneração para ser o horário” disse Bernardo Trindade no Congresso da ADHP Júnior
Bernardo Trindade, administrador do Grupo PortoBay e presidente da Associação da Hotelaria de Portugal esteve no V Congresso da ADHP Júnior, que decorreu na passada terça-feira na Universidade Europeia. Ali, falou do seu percurso no turismo, do que é trabalhar neste setor e na hotelaria em particular, e deixou mensagens aos jovens e futuros profissionais.
A ligação de Bernardo Trindade ao turismo e à hotelaria vem de longe, por laços familiares. “Venho de uma família do turismo e da hotelaria”, afirmou, recordando que desde muito cedo, passava o verão a trabalhar na hotelaria. “Desde os meus 12 anos que trabalhei durante os verões na hotelaria. Já servi à mesa, já servi numa receção, já empacotei azeitonas e batatas fritas”, disse, assumindo ser esta “uma memória fantástica”.
Ao turismo, juntou-se “um bocadinho mais a sério” ao assumira Secretaria de Estado do Turismo, entre 2005 e 2011 para, após a saída do Governo, ocupar o cargo de administrador do Grupo PortoBay, funções que desempenha até hoje.
Porque no turismo não lhe são estranhas as áreas pública, privada e associativa, afirmou que este setor “resulta de uma excelente parceria público-privada, em que os diferentes sectores, sejam associativos, sejam empresariais, intervêm junto do governo na construção desta ideia”. O exemplo que citou na sua intervenção é a “a lei dos empreendimentos turísticos que ainda vigora”, que “resultou de uma contestação muito forte do sector associativo e dos autarcas”. Também por isso diz que “só um louco vai para o governo e tendo a responsabilidade de gizar uma política para o turismo, vem destruir o que foi feito anteriormente, porque aquilo que foi construído ao longo do tempo foi bem feito, resultou”.
O turismo, disse, “alimenta vastíssimos setores de atividade”, o que demonstra a sua importância para a economia do país. Por isso, Bernardo Trindade considera que “vale a pena” segurar a bandeira do turismo, um setor que “nos orgulha a todos”, sendo esta a mensagem de futuro que quis deixar aos jovens que dão os primeiros passos no setor, na sua qualidade de membro da Bolsa de Mentores recentemente criada pela Universidade Europeia.
Para os empregos disponíveis no turismo os portugueses já não bastam
Num painel que juntou vários membros da Bolsa de Mentores da Universidade Europeia, e que tinha por objetivo ser uma inspiração para os mais jovens, Bernardo Trindade sublinhou que “hoje somos mais de meio milhão de pessoas a trabalhar no turismo por todo o pais”, mas “já não nos bastamos a nós próprios, já não são só portugueses a trabalhar no sector do turismo, temos a trabalhar variadíssimas nacionalidades e o nosso futuro coletivo passa por integramos estas pessoas, criarmos condições para que todos nós possamos viver, partilhar, trabalhar conjuntamente”, defendeu.
Aos jovens diretores de hotéis e alunos dos cursos de turismo, que considerou “a geração mais preparada” deixou a mensagem de que “o sector vai ficar melhor com a vossa presença e tudo aquilo que se poder aprender em ambiente de universidade é fantástico”, alertando, no entanto, que o conteúdo formativo deve ter em conta a realidade e as necessidades do mercado.
Por isso disse ser muito importante o facto de as Universidades estarem, como hoje acontece, “muito disponíveis para emparceirar com as unidades hoteleiras, com as Associações, no sentido de podermos ajustar o conteúdo formativo em função das necessidades do mercado”.
“Quando a pandemia terminou e as pessoas tiveram que voltar ao trabalho, “os trabalhadores vinham com um conjunto de objetivos diferentes, posso até dizer que no quadro das prioridades, em sede de recrutamento, em muitos casos deixou de ser a remuneração para ser o horário”
Bernardo Trindade referiu-se também às alterações que a pandemia provocou ao nível da organização do trabalho. “Ao irem para casa, as pessoas ficaram alertadas para o facto de haver mais vida para além do trabalho”, o poder estar em casa com a família, conviver com os amigos… Quando a pandemia terminou e as pessoas tiveram que voltar ao trabalho, “os trabalhadores vinham com um conjunto de objetivos diferentes, posso até dizer que no quadro das prioridades, em sede de recrutamento, em muitos casos deixou de ser a remuneração para ser o horário, para ser o tempo livre, e esta situação veio trazer um grande desafio porque essa era uma matéria que não estava na equação inicialmente”.
Dirigindo-se aos jovens diretores de hotéis e aos futuros profissionais sublinhou que a hotelaria é uma atividade de mão de obra intensiva, onde o serviço acontece 24 horas por dia, 7 dias na semana e a função de quem trabalha neste setor é “estar presente”.
“Temos de estar todos muito cientes disso, a atividade hoteleira é de 24 horas por dia, por isso existe o trabalho por turnos”, afirmou o presidente da AHP, defendendo que “temos que nos organizar nesse sentido”.
Por fim, deixou um apelo: “Temos de ser humildes, quem aborda o mercado de trabalho, tem a preparação, sabe fazer as coisas, tem um conhecimento teórico que permite contornar uma série de temas” mas também tem de “saber integrar-se numa equipa com humildade, para que desta interação resulte melhor bem estar pessoal, e também bem estar coletivo porque estamos numa empresa”.