A “nova vida” de Raul Ribeiro Ferreira passa pela marca Lavanda Group na gestão de hotéis

Após mais de duas décadas na Estalagem do Muchaxo, unidade de que foi diretor-geral, Raul Ribeiro Ferreira decidiu partir para “outros voos” e assumira empresa de que é sócio, a Monfortur, a tempo inteiro – ou quase, porque o ex-presidente da ADHP dá formação em escolas de turismo. É sobre a sua “nova vida” que falamos na primeira parte desta entrevista, sobre os projetos da Monfortur e da marca hoteleira Lavanda Group que pretende implementar.
Com a sua saída Estalagem do Muchaxo ativou uma empresa que estava “adormecida”, é assim?
Eu estive na Estalagem do Muchaxo cerca de 25 anos e durante esse tempo, mais precisamente durante os últimos 10 anos, formei uma empresa com mais dois sócios que se chama Monfortur, sedeada em Monforte, no Alentejo, que é uma consultora na área da gestão hoteleira cuja especialidade é fazer a abertura de hotéis e fazer consultoria na área da gestão e da formação profissional de ativos. Outra das áreas em que atuamos é recebermos alunos em áreas diferentes da do turismo, que vêm essencialmente para a zona de Aveiro e que são provenientes de Angola, onde nós também temos atividade e escritórios montados.
Quando terminei a minha atividade no Muchaxo, decidi dedicar-me à Monfortur e juntar à parte das aberturas de hotéis a área da exploração hoteleira. Já tínhamos um projeto em aprovação, em Monforte, que está apenas à espera das candidaturas aos financiamentos para avançarmos: o Lavanda Village Monforte, um hotel de minha propriedade mas que vai usar a marca da empresa. A obra deverá avançar até ao verão.
Com o conhecimento que a equipa da Monfortur tem do mercado, entendemos que deveríamos já iniciar alguns atos de gestão de outras unidades, onde o nome destas será mantido, acrescido da marca Lavanda Group, para identificar que a gestão está a ser feita pelo nosso grupo. Penso que dentro de poucos dias poderemos mesmo anuncia já a primeira unidade com gestão nossa, e depois irão seguir-se mais uns quantos hotéis que estão em negociação. Vamos fazer tudo com alguma calma mas de modo a podermos criar um grupo de unidades com alguma dimensão.
A empresa em Luanda também se denomina Monfortur?
Sim, a Monfortur pode operar em Luanda. Nós já fizemos a abertura de vários hotéis em Angola e durante algum tempo estivemos s fazer a auditoria e gestão de uma empresa de catering – uma das maiores do país – até ela estar em condições de seguir sozinha. Para isso temos lá escritórios e uma delegação que agora está um pouco mais parada do que há uns anos atrás porque não há praticamente aberturas de novas unidades mas vamos sempre trabalhando.
Em Angola não é nossa ideia termos nenhuma unidade de que sejamos proprietários mas fizemos a construção de uma escola hoteleira que depois não chegou a abrir, fizemos bares, hotéis, restaurantes e catering. Após a abertura fazemos o acompanhamento dos estabelecimentos durante o tempo que achamos que elas vão necessitar. No caso do catering, por exemplo, o acompanhamento foi feito durante cinco anos.
Monfortur pode gerir em breve cinco unidades em vários pontos do país
Em Portugal quais os projetos em que estiveram ligados?
Em Portugal já fizemos várias aberturas, entre as quais a Herdade dos Adães que é do Grupo Delta, o Abrigo da Montanha, na Serra da Estrela, o Paço do Vimioso em Ponte de Lima. Gostamos especialmente de nos envolvermos em unidades pequenas porque achamos que é nesses casos que podemos fazer a diferença ao ajudarmos o empresário a transformar o seu sonho em realidade.
Disse que a Monfortur também recebe alunos que vão para a região de Aveiro…
Sim, vêm essencialmente de Angola, são filhos de famílias de classe média alta, de colégios privados, e os pais sentem-se preocupados por os largarem em Portugal sozinhos e o que fazemos é recebê-los e aloja-los em casas que têm quartos com casa de banho privada, com pessoas que fazem as refeições, tratam da roupa e nós monitorizamos e fazemos repports à família. São estudantes que não vêm para a área da hotelaria porque isso iria gerar um problema de compatibilidades, também por isso é que fazemos essa atividade em Aveiro.
Avançou há pouco que vão fechar em breve um contrato de gestão de uma unidade hoteleira na região Centro. Se vos surgirem três ou quatro unidades para gerirem, têm essa capacidade?
Temos, aliás temos toda a estrutura montada para podermos chegar rapidamente às cinco unidades e neste momento, temos mais três em negociações, que não necessitam de obras para abrir e duas que vão demorar mais tempo a entrar em operação porque estão fechadas e necessitam de obras.
Descolar equipas para essas unidades já exige que tenham um quadro de pessoal significativo…
Há uma equipa central que é responsável por toda a área de marketing, de revenues, comercial, coordenação dos vários diretores e depois cada unidade terá um diretor de hotel próprio. Poderá ser feita a centralização de mais algumas áreas, principalmente no que respeita a hotéis mais pequenos mas isso ainda está a ser testado.
Para além do que está em negociação, estão abertos a assumir outras unidades? Têm capacidade para isso?
Sim, o nosso objetivo é conseguirmos ficar também com unidades de média dimensão em que o empresário precise de ajuda para rentabilizar o seu negócio – empresários que gostem dos seus hotéis, que os queiram manter mas que sintam que sozinhos não vão conseguir. Queremos agregar esses hotéis e trabalhá-los em conjunto, quase como se fosse um grupo criado por várias pessoas juntas.
“Apostamos essencialmente em unidades pequenas ou médias enquanto a maior parte das empresas que estão no mercado apontam para unidades de média e grande dimensão porque são empresas que trabalham sobre percentagem e quanto maior for a unidade maior é a capacidade de pagar percentagem”
Hoje temos no mercado uma série de empresas a fazerem coisas semelhantes. Qual é a vossa proposta de negócio? O que é que vos diferencia das outras empresas?
A primeira é que apostamos essencialmente em unidades pequenas ou médias enquanto a maior parte das empresas que estão no mercado apontam para unidades de média e grande dimensão porque são empresas que trabalham sobre percentagem e quanto maior for a unidade maior é a capacidade de pagar percentagem.
Por outro lado, a nossa aposta é na diferenciação das unidades, ou seja, conseguir vender um grupo em que cada unidade tenha as suas características próprias e em que o empresário trabalhe connosco ao invés de sermos nós a tomar conta do hotel pondo o empresário de lado. Ou seja, é respeitar o passado da empresa e ajuda-la a ter futuro.
O que também teremos em termos de diferenciação é a ligação à nossa própria experiência de vida – no meu caso é a experiência feita em hotéis privados, o que é diferente da experiência feita em hotéis de grupo, pelo que sinto as dores do empresário. Por outro lado, há também a ligação ao ensino, o que nos dará a possibilidade de trazermos para dentro do grupo alguns jovens em que acreditamos em termos de futuro.
Quais são os outros rostos da Monfortur?
Somos dois portugueses, eu e o António Melo e uma empresa angolana – nós temos uma percentagem da empresa angolana e essa empresa tem uma percentagem da nossa, e é isso que nos permite operar em Angola. No fundo somos “casados” mas nunca houve entrada de dinheiro, aliás todas as nossas contas são auditadas por termos um sócio que é de fora da União Europeia.
Como é que vai ser o futuro Lavanda Village Monforte?
A unidade vai surgir do aproveitamento de uma casa que tem um quarteirão no centro da vila de Monforte, mesmo encostado ao castelo. Vai abrir com 15 unidades de alojamento, dos quais 12 serão apartamentos (seis T1 e seis T2), os restantes quartos serão dentro da casa principal, e vai ter restaurante e piscina. Esta será uma primeira fase porque o empreendimento tem capacidade para ser ampliado mas nesta primeira fase não faremos nada fora do edificado que já existe. Temos uma preocupação com Monforte que é a de perceber qual será o impacto que o movimento do hotel terá dentro da vila, nomeadamente no que se refere ao trânsito. Se conseguirmos minimizar esses impactos então poderemos crescer porque temos condições físicas para crescer até quatro vezes o tamanho inicial.
O restaurante vai ser reservado aos hóspedes ou vai estar virado para a rua?
Vai ser virado para a rua mas o público terá que entrar dentro do jardim – há um portão grande que permite entrar no espaço e os clientes poderão beneficiar de um “canto” virado para a Serra de São Mamede e para a planície alentejana.
A abertura está prevista para quando?
Vão ser dois anos e obras, portanto deverá abrir no verão de 2025 se tudo correr bem.