A GEA não vai ter angariadores ou freelancers a concorrer com as “suas” agências, garante Pedro Gordon

Na segunda parte da entrevista ao diretor-geral do Grupo GEA Portugal, Pedro Gordon, abordamos a realidade da GEA e a sua postura no mercado, o seu relacionamento com os vários parceiros de negócio e falamos de perspetivas para 2023. Em “cima da mesa” esteve, também, a antevisão da 18ª Convenção da GEA Portugal que vai decorrer de 18 a 20 de novembro, em Coimbra.
Acabámos a primeira parte da nossa conversa a falar no reforço da equipa GEA e perguntava-lhe agora que evolução houve em termos do número de agências, face a 2019?
Antes da pandemia, tínhamos 326 empresas e agora temos 386, ou seja, temos mais 60 empresas e temos 479 balcões, mais 75 do que antes da pandemia.
Temos assistido, nos últimos tempos, a uma movimentação de um quase leilão de benesses para cativar as agências por parte de diferentes concorrentes da GEA. Essa também é a vossa política?
Nós mantemos a mesma política há 19 anos, que é uma política de agregar valor ao nosso serviço, ajudar a rentabilizar as agências, um apoio de excelência e ferramentas.
Se queremos crescer? Neste momento temos massa crítica mais do que suficiente. O nosso principal objetivo não é angariar mais agências, é otimizar a rentabilidade e o serviço às agências que temos e, felizmente, estamos cá já há muitos anos, penso que somos um grupo credível e o nosso caminho vai continuar a ser rentabilidade, apoio, serviço e ferramentas.
O que posso garantir é que a GEA não vai ter uma agência com angariadores / freelancers “por baixo” e menos ainda iremos formar esses angariadores para que façam concorrência às nossas agências. A GEA tem um RNAVT que é a TravelGEA mas a TravelGEA nunca irá ter por baixo dezenas de angariadores / freelancers e menos ainda formar angariadores para que façam concorrência às nossas agências.
Nós não temos vocação de operador, temos vocação para ter os melhores acordos com os operadores, acordos que possam satisfazer as necessidades dos clientes das agências do Grupo GEA.
O Grupo GEA é um grupo vocacionado para agências de viagens com elevado grau de profissionalismo, esse é o nosso target e a essas sim, sempre demos formação sobre marketing digital, posicionamento nas redes sociais, cursos avançados de GDS, técnicas de vendas, etc., mas não vamos dar cursos sobre o que é um voucher ou o que é um bilhete.
Neste setor, a minha experiência diz-me que a confiança é o mais importante e queremos continuar a transmitir essa confiança e essa credibilidade.
Encontros “GEA vai ter consigo” foram uma troca de informações
Durante os encontros “GEA vai ter consigo” que abordámos no inicio da nossa conversa, quais as conclusões a que chegou?
Nestas reuniões, o que fizemos não foi debitar informação mas sim auscultar as agências para saber as necessidades que têm, saber aquilo que precisam para o novo ciclo que é o de 2023 e estamos a ir ao encontro dessas necessidades que nos foram transmitidas.
Foram reuniões muito produtivas onde a GEA esteve em peso, desde a sua direção até à área comercial, com o objetivo de as agências conhecerem e estarem próximas de toda a equipa do Grupo GEA.
Foram transmitidas nos vossos encontros algumas queixas ou dúvidas por parte das agências?
Nestas reuniões com as agências, o que elas nos têm transmitido é a preocupação com a perda de qualidade de serviço em todos os segmentos da cadeia de valor. A hotelaria está uma desgraça, os operadores, salvo algumas exceções, estão menos flexíveis, com menos capacidade de atendimento e de resposta, com menor capacidade para resolver um problema que exista com um cliente, o que não é uma novidade, dado o problema recorrente da falta de recursos humanos que existe no setor. Este problema está já a evidenciar-se e não é um problema só de Portugal, é um problema que está a afetar todos os destinos turísticos.
Dizia-me, antes de iniciarmos esta nossa entrevista, que as agências não sentiram pressão sobre os preços. Isso quer dizer que houve um comportamento positivo por parte dos operadores em não baixarem excessivamente o preço das viagens?
Os operadores não baixaram os preços das viagens e isso permitiu que algumas agências com menor número de clientes faturassem o mesmo ou até mais. Temos percebido que alguns clientes aproveitaram este ano para fazer várias viagens quando antes faziam apenas uma viagem de férias e que, de uma maneira geral, o cliente gastou dinheiro nessas viagens, por isso, muitas agências, com o mesmo número de clientes, conseguiram aumentar o volume de negócios. Também temos reparado que há muito clientes novos a irem às agências, clientes que durante a pandemia tiveram más experiências e que agora estão a procurar as agências porque estas lhes oferecem segurança e garantias que a marcação via internet não oferece. Muitas agências têm-nos relatado que estão a ter clientes mais novos e clientes que antes nunca tinham reservado através das agências de viagens.
Nessas reuniões puderam medir o pulso às “vossas” agências no que toca às perspetivas para 2023? Está muito apreensivo relativamente ao próximo ano ou pensa que não haverá grandes percalços?
Por um lado, há uma certa apreensão devido à subida da inflação e das taxas de juros porque, obviamente, isso afeta a capacidade de poupança do consumidor. Por outro lado, temos detetado que a vontade de viajar tem aumentado muito, que cada vez mais está a ser uma necessidade, agora não sei até que ponto essa necessidade compensará o decréscimo da capacidade de despesa do consumidor. O lógico é que isso afete o consumo e, dentro do consumo, também as viagens, por isso há alguma incerteza. No entanto, não estamos pessimistas porque esta inflação que estamos a sofrer – que muitos dizem que se deve à guerra, eu acho que é mais devido ao Covid porque os dois anos de pandemia provocaram uma lentidão nos processos de produção e nos processos comerciais e essa falta de vários produtos está a provocar uma subida de preços – deverá baixar sensivelmente nos próximos meses, quando o mercado se regular.
“Ultimamente temos estado com produtos muito recorrentes e agora parece que os operadores querem voltar a abrir novos destinos. Já tivemos uma experiência este ano com um destino que teve um bom sucesso, que foi o Senegal, e agora os operadores estão com vontade de diversificar a carteira de produtos com destinos novos ou destinos que nunca tinham sido trabalhados em charter”
Alguém me dizia há pouco tempo que a GEA, para alguns operadores, é a rede que mais vende. Tem essa ideia?
Com alguns operadores, sem dúvida. Como disse, temos agências muito boas no grupo e devido a isso temos consciência que, para alguns fornecedores, o Grupo GEA é a organização que tem mais peso.
A relação com a TAP está melhor agora?
O que melhorou é que agora nós falamos, a atitude desta nova gerência para com a distribuição é muito mais aberta e muito mais dialogante. Ao nível da direção de vendas a atitude também é de escuta e de diálogo. Daí até que possam fazer determinadas cedências, isso depende mais dos orçamentos do que da vontade deles.
O que é que espera da oferta dos operadores para 2023? Algumas novidades?
Tenho essa perceção. Tenho falado com vários parceiros, tour operadores, e tenho verificado que existe uma tendência para inovar, para diversificar produto. Ultimamente temos estado com produtos muito recorrentes e agora parece que os operadores querem voltar a abrir novos destinos. Já tivemos uma experiência este ano com um destino que teve um bom sucesso, que foi o Senegal, e agora os operadores estão com vontade de diversificar a carteira de produtos com destinos novos ou destinos que nunca tinham sido trabalhados em charter.
Na sua perspetiva, isso é positivo?
É positivo porque incrementa as probabilidades de venda de produto. Obviamente, um produto feito por um operador em voo charter, tem um preço mais acessível do que em voo regular não direto e isso só pode aumentar o número de pessoas que viajam.
Convenção vai ser focada na abordagem ao cliente
O que é que idealizaram para a vossa Convenção deste ano?
A Convenção para nós é o grande momento de encontro entre a maior parte das agências e basicamente pretendemos falar de assuntos que nos interessam e agregar valor, tanto em termos de partilha como de conteúdo. Este ano vamos falar, mais uma vez, da abordagem ao cliente, seja na vertente presencial seja na vertente digital. Sabemos que o principal valor de uma agência independente é a proximidade com o cliente, o conhecimento do cliente e o profissionalismo e na nossa Convenção queremos indicar caminhos para otimizar a abordagem ao cliente. Por isso vamos ter palestras e intervenientes externos que vão elucidar-nos sobre como o poderemos fazer.
Isso será feito em sessões fechadas?
Não, será uma sessão aberta. Começamos com uma sessão fechada, interna, na sexta feira, mas no sábado o programa será completamente aberto. Vamos falar de como podem os operadores colaborar com as agências, em termos de marketing digital, para fazer chegar os conteúdos dos produtos ao cliente final através das agências de viagens por via digital. Teremos vários intervenientes mas todos os temas estarão relacionados com o cliente.
Vão ter a habitual presença dos vossos parceiros a exporem os seus produtos?
Sim, no sábado à tarde teremos o GEA Travel Lab, onde estarão presentes mais de 70 parceiros.
Governo e APAVT nos tempos da pandemia
Mencionou os anos difíceis da pandemia que, felizmente, ao que parece, já lá vão, mas eu não podia deixar de lhe fazer esta pergunta até porque a GEA tem um grupo muito diversificado de agências por todo o país: tiveram algum conforto, nesses tempos difíceis, por parte da APAVT e por parte da tutela do turismo?
Na minha opinião, a APAVT, com os seus contactos permanentes com a tutela, seja com a Secretaria de Estado do Turismo, seja com o Turismo de Portugal, tem feito um trabalho extraordinário e se não conseguiu mais foi porque as contas do Estado não dão para tudo. O Estado tem o dinheiro que tem e tem o orçamento que tem, tem a dívida que tem, é óbvio que teríamos gostado de ter mais apoio, mais empréstimos a fundo perdido mas temos que ser realistas, o orçamento é o orçamento, a dívida é a dívida e muito tem feito a APAVT, principalmente se compararmos com o que tem acontecido noutros países. Portugal foi um dos países que fez um melhor acompanhamento e que teve um maior contacto com o setor das agências de viagens. Pessoalmente, penso que a APAVT tem feito um excelente trabalho, digno de elogio.
Se não fosse esse trabalho, se não fossem os apoios que foram conseguindo, muito mais agências teriam vivido situações com um desfecho muito pior?
É muito provável que sim porque os apoios foram aquilo que se podia fazer. O layoff não tem resolvido tudo? Não, mas tem ajudado. Os empréstimos deviam ter sido mais amplos? Muito ou pouco, o facto é que têm ajudado. Os fundos para o pagamento dos vouchers têm ajudado. Queiramos ou não, Portugal não é o Luxemburgo nem os Emirados Árabes, nem a Noruega, o orçamento é o que é e dentro desse orçamento, na minha opinião, estritamente pessoal, tem sido feito um excelente trabalho. Sobretudo, tem-se trabalhado muito e com cabeça.
Leia aqui a primeira parte da entrevista a Pedro Gordon.