A comemorar 15 anos, Consolidador “é líder destacado no mercado nacional” afirma Miguel Quintas

Na primeira parte da entrevista a Miguel Quintas, fundador e chairman do Consolidador e do Grupo Airmet, falou-se sobretudo destas duas empresas – os “carros-chefes em Portugal”, sublinhou o nosso entrevistado – em termos do seu atual posicionamento no mercado nacional e de perspetivas para o futuro próximo. Abordou-se também a saída do Consolidador da Go4Travel e a entrada da Air Venture no mercado.
Como é que estão atualmente estruturadas as empresas turísticas do empresário Miguel Quintas?
Temos duas empresas mais relevantes aqui em Portugal, o Consolidador e a Airmet que são os carros-chefes, embora tenhamos outras áreas de atuação também em Portugal. Temos ainda a atuação da Airmet no Brasil e o Consolidador que está presente em mais três mercados além do português: Espanha, Reino Unido e Cabo Verde.
Deixou de fora a mais recente empresa, onde também participa com posição maioritária, que é a Air Venture…
A Air Venture é uma entidade diferente porque todos os sócios, através de um contrato parassocial, têm exatamente os mesmos direitos e os mesmos deveres, sem exceção, apenas com um detalhe estratégico porque interessa a todos nós que exista uma entidade que possa “beber” dos acordos que tem, que é o caso da Airmet, sem ter que estabelecer de novo todo o trabalho específico, nomeadamente ao nível da produção. Mas esta é apenas uma questão estratégica que não tem nada a ver com os direitos e deveres de todos os sócios que, insisto, são completamente iguais.
Já estava previsto que os primeiros passos da Air Venture fossem lentos? Quando é que a empresa pode disparar em termos de crescimento?
Não acho que o processo esteja a ser lento, até penso que a Air Venture está a ter bastante sucesso. Para todos os efeitos trata-se de uma empresa muito recente, atualmente conta com seis sócios mas até ao final deste mês de janeiro iremos provavelmente duplicar este número.
Estamos numa fase muito inicial, a Air Venture iniciou a sua atividade há menos de dois meses e embora apareça pouco, a sua produção já ombreia, seguramente, com outros grupos que existem no mercado e que estão presentes há muito mais anos, algumas há décadas.
Há um ponto importante que eu gostaria de sublinhar: a Air Venture é uma rede de agências de viagens IATA, portanto com um número mais reduzido de potenciais clientes em Portugal, sendo que existe já uma rede de IATAs e com a entrada da Air Venture esgota-se a oportunidade de haver uma terceira. O processo pode parecer lento mas não o é, primeiro porque há uma base de clientes pequena e em segundo lugar ela tem que ganhar dimensão e corpo. A partir do momento em que isto acontecer não há espaço para mais nenhuma rede com IATAs em Portugal.
Daí, também, a ideia de criar um grupo porque há mutas IATAs que estavam fora dos benefícios que uma rede pode oferecer. Faltava esta oferta ao mercado porque quem não pertencia à rede que já existia estava completamente sozinho. Agora, com este novo modelo de negócio muito mais flexível, há a possibilidade de uma agência se juntar mais facilmente aos seus pares, beneficiando do conjunto dos interesses gerais.
Saída do Consolidador da Go4Travel aconteceu poucos dias antes da apresentação da Air Venture
O lançamento da empresa coincidiu, com poucos dias de diferença, com a saída do Consolidador da Go4Travel. Essa saída já estava prevista?
Antes de responder gostava ainda de deixar uma nota relativamente à Air Venture: a Air Venture tem uma estrutura própria, com uma direção própria, composta por cinco membros e o Consolidador, embora seja o maior produtor, não tem presença nesta direção, o que diz bem da equidistância e equitatividade entre os sócios. Portanto, quando falo da Air Venture falo sem qualquer tipo de propriedade porque nem diretor sou da empresa, sou apenas um sócio. Isto não invalida nada do que disse para trás, é só para que fique vincado que não sou eu quem fala oficialmente pela Air Venture.
Relativamente à sua pergunta, é claro que não seria possível ter o Consolidador presente em dois grupos. O Consolidador fez o seu trajeto em conjunto com a Go4Travel durante cerca de seis anos, foi bom para todas as partes mas a determinada altura, no ano passado, achámos que, fruto das idiossincrasias próprias da Go4Travel, tinha chegado o momento de haver uma separação. A decisão só foi tomada no final do ano, pese embora houvesse um indicador muito forte, após uma convenção em Fátima, de que os caminhos podiam vir a ser separados.
O trajeto da Consolidador dentro da Go4Travel foi fantástico, gostámos muito de estar presentes dentro do grupo, foi benéfico para todos mas para aquilo que são as necessidades do Consolidador, para aquilo que é hoje o mercado, para as necessidades futuras do Consolidador, nós entendemos que precisávamos de nos juntar a outro projeto, com um estilo diferente, com uma dinâmica diferente, com uma postura de atuação no mercado também diferente e que se adequasse mais àquilo que são as nossas necessidades. Portanto, sem diminuir a Go4Travel, entendemos que o nosso caminho já não era em conjunto e que tínhamos que dar este salto.
Essa saída foi, de alguma forma, penalizadora em termos de negócio?
Reduzir uma atividade de negócio a um momento financeiro é demasiado curto para o projeto Consolidador que fez 15 anos esta segunda feira e o que acontece é que, por vezes, temos que dar um passo atrás para darmos dois passos em frente. Respondendo objetivamente à pergunta, financeiramente há, de facto, um impacto negativo mas estou certo que o futuro será muito mais brilhante e que vai compensar. Por isso, vamos considerar que este impacto negativo, ou menos positivo, é um investimento.
“Somos claramente um líder destacado no mercado nacional porque os clientes nos dão a sua preferências e nós esforçamo-nos muito para que isso aconteça. O facto de o nosso concorrente mais direto estar muito abaixo de nós não nos diz nada porque queremos concorrentes fortes para podermos ser ainda melhores na proposta de valor que fazemos para o mercado”
Em termos do volume de negócio, o Consolidador já conseguiu recuperar para valores de 2019?
Este ano ficámos praticamente em linha com 2019 mas ainda não recuperámos totalmente. Temos planos de crescimento muito agressivos, estou certo que este ano vai ser fantástico, pese embora todas as nuvens que possam pairar sobre 2023 e o ano de 2024 será muto bom para nós.
Se fizéssemos uma comparação de Portugal com os outros mercados onde estão poderíamos dizer que Portugal reagiu melhor do que os outros países?
Em África todo o impacto foi muito diferente, bastante mais suave, mas Portugal foi o país em que recuperámos mais rapidamente, o que foi também fruto do crescimento – nós crescemos bastante em Portugal. Em Portugal nós temos um bom controlo do mercado somos o líder nacional, temos uma equipa fantástica no acompanhamento do agente de viagens durante e no pós-pandemia.
Tem sido necessário fazer investimentos no Consolidador em termos tecnológicos?
No Consolidador isso é uma história que nunca acaba, estamos permanentemente a investir em tecnologia, embora este ano de 2023 vá ser um ano bastante mais virado para dentro, em termos do controlo de processos e de garantia de qualidade junto do cliente final. Estamos a tentar estruturar uma empresa de caráter verdadeiramente mundial. Este é o nosso objetivo e estamos a apontar para que em 2024 consigamos fechar com 200 milhões de euros, em que cerca de dois terços serão feitos no mercado internacional, pelo que precisamos de ter uma equipa ainda mais robusta, sendo que o centro nevrálgico será sempre Portugal. Isto implica um investimento enorme em tecnologia e na parte comercial mas também um investimento permanente em recursos humanos.
Pode afirmar-se o que o Consolidador é o número um em Portugal no seu setor de atividade?
Sim. Pelos números que eu tenho, o segundo lugar em Portugal deverá ter um terço das nossas vendas. Isto é fruto do trabalho de todos nós, temos uma equipa muito boa, que nos permite crescer no mercado nacional e também no mercado internacional que vai ser uma das nossas apostas. Somos claramente um líder destacado no mercado nacional porque os clientes nos dão a sua preferências e nós esforçamo-nos muito para que isso aconteça. O facto de o nosso concorrente mais direto estar muito abaixo de nós não nos diz nada porque queremos concorrentes fortes para podermos ser ainda melhores na proposta de valor que fazemos para o mercado.
Novo player nos agrupamentos de viagens concorre com um segmento mais pequeno em dimensão de vendas
Falemos agora da Airmet que em plena pandemia mudou parte da sua direção. Isso já estava previsto quando a pandemia eclodiu?
Uma das decisões centrais da Airmet foi estar sempre muito próximo dos agentes de viagens e quando estes sofreram com a pandemia – e ainda hoje estão a sofrer consequências – procurámos acompanhá-los e apoiá-los na medida que nos era possível, nomeadamente em termos de apoios financeiros. Nós reduzimos quase 50% a mensalidade das nossas agências porque não conseguimos mais. A nossa prioridade é apoiar as agências de viagens e tenho a certeza que as que estão dentro da Airmet se sentem apoiadas. Enquanto isto for verdade a missão da Airmet está a ser cumprida.
Era necessário criar condições para que a Airmet pudesse continuar a crescer e a oferecer melhores condições aos agentes de viagens e nesse sentido foi necessário mudar a estratégia. Esta estratégia é extremamente agressiva para o mercado – tenho um orgulho especial porque a Airmet tem sido o grupo de gestão que mais tem inovado neste setor.
Quando o Luís Henriques entrou e lhe foi feita a proposta de mudar o paradigma, aceitou e eu fiquei muito contente porque é a pessoa certa no lugar certo para garantir que a Airmet consegue criar este modelo de negócio em que as agências podem pertencer ao nosso grupo e não só aumentar a sua rentabilidade financeira mas também o seu know-how, o seu conhecimento, a formação dos seus recursos humanos, e o acompanhamento diário a todos os níveis, e ao mesmo tempo conseguir criar condições para que estar na Airmet possa ser, inclusivamente, grátis.
O Luís Henriques e a equipa da Airmet conseguiram implementar este modelo de negócio que é único em Portugal. Esta aposta foi um risco muito grande mas teve resultados e teve muito sucesso, sendo que a Airmet, se excluirmos a parte das aquisições e fusões que aconteceram o ano passado, a parte do investimento financeiro, foi o grupo que mais cresceu no mercado e posso assegurar que em 2023 vai ser o grupo que mais vai crescer. O crescimento, que em breve se notará muito mais, foi fruto da decisão arriscada que tomámos, que foi personificada pelo Luís Henriques mas que todo o grupo aceitou.
Quer dizer que a chegada de um novo player ao mercado, na vossa área, não afetou o trabalho que estavam a desenvolver?
Ele já existia só que estava mais adormecido em termos de imagem de marca. Esse player tem o seu espaço mas acredito que estamos a falar de um perfil de agências de viagens que não é o perfil de agências de viagens da Airmet. Sem menosprezar qualquer agente de viagens, diria que esse player concorre com um segmento mais pequeno em dimensão de vendas e que, portanto, não consegue ter uma oferta tão completa como a Airmet tem para as suas agências de viagens. Nesse sentido, com todo o seu mérito, a Airmet considera-o um concorrente mas apenas para as agências de pequena dimensão.
A alteração da data da vossa convenção, motivada pela greve na TAP, prejudicou-vos ou não foi significativo?
Nós não temos praticamente cancelamentos para a nova data, talvez duas ou três agências, mas tivemos novas inscrições pelo que o número de pessoas vai ser o mesmo. Vai ser a maior convenção da Airmet de sempre, o que é um sinal muito claro da vitalidade da nossa rede, porque vai ser na ilha da Madeira e isso tem custos associados, em termos de deslocação e até de tempo. Ainda assim, a alteração perturbou porque já tínhamos tudo programado e contratado e tudo foi adiado, já nada vai ser exatamente igual mas a mudança não vai ter impacto para os nossos associados. Vai ser uma convenção muito diferente das edições passadas e quem vier vai ficar muito satisfeito porque temos muitas novidades para apresentar.
A agenda da Convenção vai ser mantida, apesar de se realizar quase dois meses depois?
A largos rasgos a agenda vai-se manter, é claro que daqui até março já teremos mais umas novidades para apresentar, outras temos que lançar porque não podemos estar mais tempo à espera. Acredito que vai ser uma convenção ainda mais concorrida porque daqui até março vamos ter mais membros, mais associados, que não quererão faltar e como o nosso caminho é o crescimento só podemos estar contentes com o que vem em termos futuros.
A Airmet está no Brasil que é um mercado distante e complicado e sei que estão e restruturação. Vão acelerar?
No Brasil tivemos uma inversão de estratégia muito recente. O mercado brasileiro tem características muito diferentes do mercado português ou do espanhol e achámos que tínhamos que fazer uma alteração no modelo de negócio para garantir que conseguimos prestar serviços às agências de viagens de forma mais eficiente. Ao dia de hoje, a Airmet no Brasil tem perto de 210 agências de viagens de um modelo de estrutura ligeiramente diferente do que temos em Portugal mas queremos ser muito arrojados nesse mercado e estamos a fazer um investimento forte para garantir que esta rede cresça e dobre até ao final deste ano.
Acredito que com esta estratégia vamos conseguir fazê-lo. Temos uma nova equipa de direção porque o desafio agora é diferente e tivemos que ir encontrar pessoas que, à semelhança de Portugal, abraçassem o desafio de uma forma mais agressiva.
Amanhã no Turisver pode ler a segunda parte da entrevista com Miguel Quintas, Chairman do Consolidador e da Airmet, onde serão abordados, entre outros temas:
- A visão sobre a tour operação
- TAP no centro da preocupação do mercado
- A importância do desenvolvimento da hotelaria em Portugal
- Estado do associativismo e as eleições na APAVT