2024 não foi bom para a Sonhando: “Tivemos um tropeço, mas estamos a recuperar bem”, garante José Manuel Antunes
Em entrevista ao Turisver, José Manuel Antunes, diretor-geral da Sonhando, fala da oferta que o operador tem no mercado para este verão, baseada em destinos de curto e médio curso. Admitindo o “tropeço” que Zanzibar representou o ano passado, afirma que a empresa está a seguir em frente com segurança e garante que “jamais deixaremos os agentes de viagens em risco”.
José Manuel, este ano a aposta principal da Sonhando é em destinos de proximidade?
Sim. O nosso destino de longa distância em 2024 foi Zanzibar, que foi um desastre financeiro, quer nós, quer o nosso parceiro. Perdemos muito dinheiro, razão pela qual decidimos descontinuar o destino.
Mantivemos os destinos de proximidade, temos o São Tomé e o Príncipe, que é um destino de médio curso, a Guiné-Bissau / Bijagós, onde somos exclusivos e também vendemos relativamente bem para o tipo de destino. Depois temos, com alguma força, o Porto Santo e a Tunísia, quer a continental, com Monastir e Enfidha, quer a Ilha de Djerba para onde temos quatro voos, dois de Lisboa e dois do Porto. Trata-se do nosso destino mais vendido nesta fase do ano e com indícios melhores do que nos anos anteriores.
Comecemos pelos destinos em voos regulares. São Tomé é um produto que se vende todo o ano?
Sim, é um produto que se vende todo o ano, e que se vende bem, quer para casais quer para grupos.
A Sonhando tem um bom conhecimento do destino, já o trabalha há muitos anos. O destino continua seguro, tranquilo?
Sim, a segurança é total e absoluta. Em termos de tranquilidade, também. Em termos de qualidade, tem vindo a melhorar de uma forma flagrante, cada vez com mais unidades, muitas delas junto à praia, com uma oferta de turismo ecológico fantástico. São Tomé, de facto, é um excelente destino, intermédio, digamos assim, e único no mundo, e todos os portugueses, deviam visitá-lo, antes que se transforme em destino internacional e fique a preços incomportáveis para o mercado português, como tem acontecido com outros destinos.
Em relação à Guiné-Bissau e aos Bijagós, há muitas pessoas que têm receio de arriscar, de ir para umas férias ímpares, para ilhas que dizem ter poucas condições. É assim?
Isso é completamente falso. Nós não tivemos uma única reclamação nestes anos todos em que somos exclusivos na oferta para o destino. Bijagós é um destino de excelência, o seu maior problema é o transporte, chegar lá não é a coisa mais fácil do mundo, porque tem que se apanhar o barco e leva algum tempo, mas depois compensa porque é um destino exuberante, fantástico, único.
É um dos melhores destinos do mundo, sem nenhuma margem para dúvida, para o qual a Sonhando tem o exclusivo. Nós vendemos bem no mercado português e alguma coisa no mercado francês, e esperamos que nunca venha a ser um destino de massas, até porque isso estragava a génese do destino. Mas que é um extraordinário destino de férias, isso é.
É um destino que oferece duas componentes: por um lado é um destino de natureza, e por outro lado é um destino um pouco de aventura. É um misto, digamos…
Sim, pode considerar-se que há alguma aventura em natureza, embora o principal seja mesmo a natureza, a qualidade das praias, o clima, a tranquilidade com que se fazem lá umas férias. A parte da aventura é mais quase exclusiva do transporte para chegar e para sair, porque tem aqueles 45 minutos de barco. Mas é uma aventura é perfeitamente aceitável e que está regulada.
Sonhando aposta forte em charters para a Tunísia e o Porto Santo
Em charter, têm a Tunísia, este ano com quatro voos para Djerba, dois de Lisboa e dois do Porto. É um destino que está em alta no mercado?
Sim, para a Tunísia participamos em seis charters diferentes, porque além dos quatro para Djerba, temos Enfidha e Monastir, estes últimos são apenas à partida do Porto porque não conseguimos slot de Lisboa.
Neste início do ano, os diferentes destinos da Tunísia são os que estamos a vender mais, estamos a vender uma média alucinante, aliás quando chegarmos à BTL não sei quantos lugares é que vamos ter disponíveis, mas penso que serão poucos, em especial para o pico do verão.
Têm ainda o Porto Santo, que também já é um histórico na Sonhando…
Para o Porto Santo a Sonhando tem charter desde 2014, em parceria com a Solférias, e mantém-se até hoje. Foi um destino que foi crescendo e hoje temos uma operação muito mais extensa. Para nós tem sido uma operação muito boa ano após ano, e a Solférias é um excelente parceiro que nós encontrámos para desenvolver o seu destino.
Tem-se falado no mercado das saídas de pessoal da Sonhando. Neste momento, para o produto que está colocado no mercado, a Sonhando tem quadros, tem gente suficiente para atender de forma eficaz as agências de viagens?
Sem dúvida nenhuma. As pessoas que saíram, sinceramente não nos fazem grande falta, à exceção do Fernando Bandrés que era um diretor comercial que não consegui substituir, porque tinha duas ou três pessoas referenciadas mas estão empregadas em operadores com quem tenho amizade, e portanto, por uma questão de ética e de formação moral, não o fiz nem farei.
Por vezes, como se costuma dizer, “há males que vêm por bem” e alguns dos quadros que saíram ganhavam ordenados ainda dados por um meu antecessor, há 12 anos, e que na minha opinião eram completamente astronómicos, e portanto, ao serem substituídos será por pessoas que vão ganhar um salário mais justo e não absurdamente grande.
A aposta em charters para a passagem de ano no Brasil e forte programação para a Madeira vai manter-se em 2025
Uma das novidades de que o mercado está à espera, e que sei que vocês estão a trabalhar nisso, é o novo site. É possível a Sonhando vir a ter um novo site ainda para este verão?
Eu penso que sim, mas isto ainda está um bocado… Aí sim, têm-me feito falta as pessoas, porque quem estava a desenvolver o projeto era o Fernando Bandrés, apoiado pela Cati e ambos saíram da empresa, e como tenho tido alguns problemas de saúde, o que é público, temos tido alguma dificuldade em reimplantar o nosso sistema, mas é uma coisa que vamos fazer, presumo muito em breve.
Cada vez se está a vender mais cedo, e portanto é preciso preparar produto com alguma antecedência. Vocês já estão a pensar no final do ano?
Não vai diferir muito dos últimos anos, vamos voltar a programar charters para o Brasil e a programar a Madeira, que são os destinos que os portugueses procuram no fim do ano. No último fim de ano vendemos centenas de lugares para esses dois destinos, participámos em oito charters diferentes, com uma percentagem razoável. Há um destino que está sempre no goto, que é o Rio de Janeiro, poderá, eventualmente, ser a novidade, mas ainda é muito cedo para pensar nisso.
“Eu chamo-me José Manuel Antunes, estou há 54 anos no mercado, nunca ninguém ficou pendurado por ação minha, e enquanto eu cá estiver, assim vai acontecer. Isso é uma garantia pessoal que eu quero dar ao mercado“
Este ano, com menos produtos, mas também com menos risco no mercado, poderá ser um ano de recuperação financeira depois dos incidentes do ano passado?
Deixe-me dizer duas coisas. Em 2023 e 2022, e até durante a pandemia, tínhamos ganho algum dinheiro relevante. Em 2024, infelizmente, por causa de Zanzibar e também por causa do Egito, perdemos algum dinheiro, mas, do ponto de vista de tesouraria, tem dado para aguentar a situação e continuarmos em frente, não com a facilidade com que tínhamos antes, mas para que se possa uma ideia, nós, neste momento, já temos algumas centenas de milhares de euros de depósitos avançados para o verão deste ano, nomeadamente na Tunísia.
Vamos continuar a nossa vida, talvez de um ponto de vista não tão exuberante como foi nestes últimos anos, mas com a segurança de que jamais deixaremos os agentes de viagens em risco. Eu chamo-me José Manuel Antunes, estou há 54 anos no mercado, nunca ninguém ficou pendurado por ação minha, e, enquanto eu cá estiver, assim vai acontecer. Isso é uma garantia pessoal que eu quero dar ao mercado.
Aliás, temos estado a fazer grupos para o Japão, grupos para as Maldivas, e tudo tem corrido dentro da normalidade, como acontecia nos anos anteriores a 2024.
Continuamos a fornecer a euroAtlantic que é um cliente de milhões de euros anuais, e que deixa alguma margem de lucro, nas suas transições de tripulações, etc.. A euroAtlantic que é 100% proprietária do operador, e que está a crescer ao ponto de ir comprar mais aviões. Portanto, nós estamos de saúde, coxeámos um bocado, é verdade, porque não era suposto, num só destino, perder mais de meio milhão de euros, que foi o que nos aconteceu em Zanzibar – assumo isso publicamente. Tivemos um tropeço, mas estamos a recuperar bem.



